DOIS DEDOS DE HISTÓRIA
O Lido
Uma das primeiras zonas mundanas de banhos em Itália foi o Lido, um estreito banco de areia situado na cidade de Veneza. Desde 1860 que este é o local de veraneio das gentes de estatuto social e económico elevado da Europa e da América. Aqui se encontram alguns elegantes hotéis, da Belle Époque, construídos por volta de 1900, construídos ao longo dos cerca de doze quilómetros da praia, transformando-a num símbolo de verão cosmopolita e mundano.
A Bienal
Desde 1895 que se celebra em Veneza, de dois em dois anos, uma exposição internacional de arte contemporânea, conhecida como a Bienal de Veneza. Para o efeito, desde 1907 que os pavilhões dos Jardins Públicos são utilizados como salas de exposição.
Estes jardins nasceram da vontade de Napoleão Bonaparte que, em 1810, mandou projetá-los. Hoje pertencem ao município local. Para a sua construção foi necessário demolir várias igrejas, conventos e um hospital, na época destinado aos marinheiros sem recursos.
Situados no extremo oriental da ilha, os jardins situam-se numa zona onde sempre viveram pescadores, rendeiras e marinheiros.
Desde a sua construção que o parque não se consegue encaixar na disposição arquitetónica do local pois, apenas de dois em dois anos, quando é organizada a Bienal, a zona fornece alguma atração aos turistas que todos os dias enchem Veneza.
Os pavilhões das nações têm origem em épocas tão distintas entre eles que uma visita ao local, só por si, constitui um interessante passeio pela história da arquitetura. Salientam-se os edifícios da Holanda, obra de Gerrit Rietveld, de 1954, o pavilhão de madeira da Finlândia, obra de Alvar Aalto, também desse ano, o pavilhão da Venezuela, desenhado pelo mais famoso arquiteto veneziano do século XX, Carlo Scarpa e o pavilhão alemão, um impressionante exemplo de arquitetura nazi de finais dos anos 30 do século XX.
O Arsenal
Os grandes estaleiros de Veneza, conhecidos como Arsenal, já existem desde a Idade Média, quando nele se construíam navios mercantes e de guerra.
Em 1570, quando se requereu uma poderosa frota para fazer frente à ameaça turca, foram aqui construídas cem galeras em apenas dois meses. Este facto era, aliás, comum nestes estaleiros, pois tinham uma capacidade de construção impensável numa Europa pré-industrial. Na verdade, os venezianos tinham um esquema de trabalho montado de forma racional, o que lhes permitia trabalhar a um ritmo muito acelerado. Todos os processos de trabalho eram levados a cabo nas instalações do arsenal, sendo organizados numa sequência pré-estabelecida num processo que hoje se poderá denominar de produção em série: construía-se a quilha, fazia-se o calafetamento, cosiam-se as velas, instalava-se o cordame e equipava-se o navio com armas e munições. Assim, numa área que ocupava cerca de 25 hectares, nele trabalhavam 16 000 operários, o que faziam dela a maior indústria do mundo. Para se ter uma ideia, no início do século XIV, o famoso escritor italiano Dante comparou o ruído, a atividade, a sujidade e o calor do Arsenal ao próprio Inferno.
O Arsenal encontrava-se rodeado de uma grande muralha de pedra de grande altura para evitar os atentados e, especialmente, os espiões que pretendiam descobrir os segredos da construção veneziana, bem como o fabrico das armas.
Junto à entrada podem observar-se as torres contruídas em 1574 para vigiar qualquer pessoa ou embarcação que entrasse. Por detrás das torres, estende-se uma paisagem que parece recém-saída de uma zona industrial, típica do século XIX, apesar da maioria dos edifícios datarem dos séculos XVI-XVIII.
De entre todas as salas desta majestosa instalação destaca-se a Tana, a zona onde se fabricavam os cabos, devido à sua enorme espetacularidade.
De salientar a porta do Arsenal, construída em 1460 pelo famoso arquiteto Antonio Gambello, que revela a importância que as instalações tinham para Veneza. Nela se destacam as colunas que fazem lembrar os arcos de triunfo da Antiguidade Clássica. Trata-se, de facto, de uma imitação do arco de Pola, do século I, que se encontrava na zona de influência veneziana da época, na Ístria.
A porta é uma das primeiras obras de arte de Veneza que imitaram a Antiguidade Clássica, obedecendo às ideias do Renascimento que se inspirava nessa época da História.
Nas épocas seguintes foram-se acrescentando esculturas comemorativas de vitórias alcançadas pela cidade, até a porta se transformar num monumento ao poder da República. Como em muitos edifícios e monumentos de Veneza, a parte de cima da porta possui o leão alado de São Marcos, lá colocado no início da construção. Outros leões alados, datados dos séculos XVII-XVIII, considerados mais belos, podem ser apreciados na frente da entrada.