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Deambulações pela Sereníssima (I)

DOIS DEDOS DE HISTÓRIA

A Sereníssima República de Veneza, que em véneto se designa por Serenìsima Repùblica Vèneta e em italiano Serenissima Repubblica di Venezia, era o nome atribuído ao estado do nordeste da península Itálica que tinha capital na cidade de Veneza e que existiu do século IX ao século XVIII. É muitas vezes apelidada apenas de Sereníssima. Estas são algumas deambulações que por lá podem ocorrer.

O PALAZZO CONTARINI DEL BOVOLO

Se contemplarmos Veneza de um ponto de vista elevado, como o campanário de São Marcos, conseguimos observar um edifício em forma de torre, com uma arcada branca. É a torre escalinata do Palazzo Contarini del Bovolo, restaurado no final do século passado.
A torre alberga umas escadas que fazem a ligação entre os pisos do palácio, mas situa-se na sua parte exterior. Este tipo de torre exterior era frequente nos edifícios venezianos durante os séculos XIV e XV, mas o tamanho e a forma da torre escalinata fazem dela um ponto de referência e visita obrigatória já que tem uma configuração não muito usual, mesmo se considerarmos as outras estruturas similares. A própria palavra “bovolo”, que significa “concha de caracol”, dá o nome a este palácio, distinguindo-o assim dos outros 24 designados por Palazzo Contarini.
Este género de torre encontra-se unida ao corpo principal de edifício central, o que as tornava o espaço predileto da casa durante o verão, sobretudo se possuísse uma vista agradável, designadamente para os jardins.
A escalinata da torre foi desenhada por Giovanni Candi, em 1499. Os seus arcos de volta perfeita forma construídos com pedra branca da Ístria o que torna a escadaria iluminada e visível ao longe, já que é bastante cintilante.
A partir do século XVI introduziu-se o costume de edificar as escadas no interior das casas, tornando-as, também, áreas ricamente ornamentadas.

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A IGREJA DE SANTA MARIA GLORIOSA DEI FRARI E O TÚMULO DE CLAUDIO MONTEVERDI

Os franciscanos chegaram a Veneza em 1222 pouco depois da fundação da sua ordem por São Francisco de Assis. Os venezianos apelidaram-nos então de Frari, que significa “irmãos”. Em 1250 construíram um templo, que depois resultou na Igreja de Santa Maria Gloriosa dei Frari, uma das mais grandiosas da cidade. A magnífica decoração do templo é o resultado do grande apreço que o povo sentia pelos franciscanos. A nave central possui um coro, único na cidade com estas características, onde se sentavam os frades, ficando, deste modo, separados da população. Ao povo chegava apenas o som dos cânticos e das orações dos monges.
Como quase todas as igrejas venezianas, esta alberga os túmulos de muitos cidadãos da cidade. Por exemplo, na parede da direita da capela-mor encontra-se o túmulo de Francesco Foscari, um dos mais importantes doges de Veneza e, no lado oposto, o de outro doge: Niccolò Tron.
Mas atentemos no túmulo situado diante do altar da capela Ambrosio. Este, incrustado no chão, contém uma lápide fúnebre em pedra que nos informa pertencer a Claudio Monteverdi (1567-1643), um dos maiores compositores italianos de todos os tempos.
Monteverdi foi pioneiro ao combinar a música vocal com a instrumental, de modo que os instrumentos não fossem meros substitutos da voz humana. Foi também o primeiro a dar relevo à voz a solo, preparando o caminho para a ópera moderna.
Dedicou-se especialmente ao madrigal, um tipo de canção transbordante de arte, o que manteve durante toda a sua vida. Além dos madrigais escreveu ainda dez óperas, das quais apenas se conservam três completas.
O caráter vanguardista de Monteverdi levou-o a misturar diferentes formas musicais. Graças a esta experimentação, as suas óperas eram bastante vivas e complexas, o que levou ao reconhecimento e êxito popular da sua música.
Embora não tivesse nascido em Veneza, desde muito cedo entrou em contacto com a música veneziana e, após ter vivido em várias cidades italianas, regressou a Veneza quando lhe ofereceram o cargo de maestro de São Marcos, um vencimento de 400 ducados, alojamento gratuito e outras cortesias.
A partir deste momento passou a gozar de um enorme prestígio em Veneza e uma situação económica desafogada, de modo que os seus últimos anos de vida se caracterizaram por uma extraordinária força criativa.
Quando morreu, com a idade de 84 anos, o doge e todo o governo lhe prestaram uma homenagem solene com ato fúnebre na Igreja de São Marcos, o que, até aí, apenas tinha sido concedido a Ticiano. Foi então sepultado na Igreja de Santa Maria Gloriosa dei Frari, onde jazia Ticiano e inúmeros doges. Foi o último ato dos venezianos para honrarem o músico que, com a sua arte, contribuiu para o esplendor e glória da Sereníssima.

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