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Dar com mão nenhuma e tirar com as duas

O interior e particularmente o distrito da Guarda continuam a ser fustigados por decisões que os vão transformar, no curto prazo, em terra de ninguém.

Ao escrever o título desta reflexão comecei por me inspirar num dito popular que todos conhecemos, “Dar com uma mão e tirar com as duas.”, que frequentemente usamos para sinalizar situações em que somos claramente iludidos entre aquilo que nos é dado e prometido e o que, geralmente, de forma penalizadora, nos é retirado. Porém, no caso concreto da Guarda e da região, o adágio referido pareceu-me francamente otimista e desajustado. E passo a exemplificar.
1 – BARRAGEM DE GIRABOLHOS – Investimento de cerca de 400 milhões de euros, projetado para uma freguesia do concelho de Seia, com cerca de 80 milhões de euros já gastos em trabalhos preparatórios, CANCELADO. Expetativas de emprego e desenvolvimento económico para a região, goradas.
2 – CONTRATOS DE ASSOCIAÇÃO – No setor da educação, soube-se, pela calada da noite de sexta-feira, dia 20 de maio, que a Escola Regional Dr. José Dinis da Fonseca (Outeiro de S. Miguel), na Guarda, e a Escola Evaristo Nogueira, em S. Romão, Seia, irão perder turmas em 2016/2017, apesar de as terem contratualizado até ao ano letivo de 2017/2018. Esta medida, além de pouco séria, tem claramente um impacto negativo para instituições com papel socialmente relevante, implantadas em concelhos economicamente deprimidos, bem como para os profissionais que aí desenvolvem a sua atividade profissional, sem esquecer as crianças e as famílias que terminam este ano letivo num clima de instabilidade inaceitável e cheios de incertezas quanto ao futuro.
3 – CENTRO EDUCATIVO DO MONDEGO – A instituição do Ministério da Justiça, na dependência da Direção Geral da Reinserção Social, anuncia-se já como próximo alvo da comissão liquidatária do distrito da Guarda. Até já se definem caminhos para o futuro das instalações, sem, contudo, se traçar qualquer rumo para a vida dos cerca de 40 funcionários que aí trabalham. A confirmar-se, será mais um desastre com implicações no domínio social e económico para a Guarda. Consciência social, onde andas?
Por ironia, ou não, estas decisões têm vindo a ser tomadas, apesar de haver uma deliberação do Conselho de Ministros, através da resolução Nº 3/2016, de 22 de janeiro, que definiu o estatuto de uma “Unidade de Missão para a Valorização do Interior”, criada através do Decreto-Lei Nº 251-A/2015 de 17 de dezembro, que aprovou a Lei Orgânica do XXI Governo Constitucional, com o desígnio expresso da ”…afirmação do “interior” como um aspeto central do desenvolvimento económico e da coesão territorial…”.
Ora, a promoção do desenvolvimento económico e da coesão territorial de uma região faz-se com as pessoas e eu temo que, com políticas de fragilização institucional e de encerramento de serviços, as nobres intenções afirmadas pelo Governo, com a criação da referida Unidade de Missão, não passem de mais uma manobra de distração em que com duas nos tiram e com mão nenhuma nos dão.
Decisão, após decisão, lembra-me um nado-morto, cada vez que penso nesta “Unidade de Missão”!

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