D. Maria I: moralizar a nação e fazê-la progredir (VIII)

Viagens ao reino de Clio

A câmara reclama, abomina, detesta, reprova e declara e especifica ser tudo feito com temor, violência, medo e repugnância, protestando contra tudo e declarando ao seu amado Príncipe e sua regência do Reino inteira obediência, fé irrefragável, sujeição sincera e leal, e perpétua vassalagem.
26 de abril de 1809: Os vereadores da Câmara Municipal do Porto declaram a fidelidade a D. João VI, em reunião secreta, durante a ocupação da cidade pelos invasores franceses.
Em 1808 iniciaram-se as revoltas populares contra os invasores franceses, que até então se apresentavam como protetores do nosso país contra os espanhóis, que nos cobiçavam, e os ingleses, que ambicionavam dominar-nos.
Um pouco por todo o país, nas regiões onde os franceses se encontravam, deram-se revoltas populares. A cidade da Guarda foi saqueada e muitos habitantes assassinados. A zona do Fundão, especialmente Alpedrinha, sofreu uma sorte semelhante, a que se acrescenta o incêndio das casas principais. Todos os moradores de Leiria encontrados em suas casas foram mortos. Em Beja registaram-se cerca de mil e duzentos mortos entre os habitantes da cidade. Aqui os franceses afixaram um edital para conter a revolta popular: “Habitantes do Alentejo: Beja tinha-se revoltado. Beja já não existe. Os seus criminosos habitantes foram passados a fio de espada e suas casas entregues à pilhagem e ao incêndio”. Estes são apenas alguns exemplos do que sucedeu quando o povo português se revoltou contra os invasores franceses.
Com a notícia que os portugueses, mas também os espanhóis, se tinham sublevado contra os franceses, os ingleses enviaram uma frota, que transportava cerca de nove mil militares, comandados pelo General Arthur Wellesley, Duque de Wellington, e que acaba por desembarcar em Lavos, junto à foz do rio Mondego, entre os dias um e cinco de agosto de 1808. Os portugueses reforçam este corpo militar com mil e seiscentos homens, nos quais se inclui uma força de cavalaria composta por duzentos e sessenta militares.
No dia dezassete de agosto deu-se o primeiro confronto militar em Óbidos, nas colinas da Roliça. Apesar da inferioridade numérica, os militares franceses defenderam-se com bravura mas foram derrotados e retiraram. Esta batalha criou um novo estado de espírito nas forças que combatiam os franceses pois demonstrou que afinal não eram invencíveis, algo em que a muito custo se acreditaria antes deste confronto.
Entretanto, no Brasil o príncipe regente inaugurava a tipografia e gravura ao criar a Impressão Régia através de um decreto: “Tendo-me constado que os prelos que se acham nesta capital eram destinados para a Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra; e atendendo à necessidade que há de oficina de impressão nestes meus Estados; sou servido que a casa onde eles se estabeleceram sirva interinamente de Impressão Régia, onde se imprimam exclusivamente toda a legislação e papéis diplomáticos que emanarem de qualquer repartição do meu real serviço; e se possam imprimir todas e quaisquer outras obras; ficando inteiramente pertencendo o seu governo e administração à minha secretaria. D. Rodrigo de Sousa Coutinho, do meu Conselho de Estado, ministro e secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros o tenha assim entendido e procurará dar ao emprego da oficina a maior extensão e lhe dará todas as instruções e ordens necessárias e participará a este respeito a todas as estações o que mais convier ao meu real serviço.”
Contudo, a ausência da família real da metrópole, agora com corte estabelecida no Brasil, provocava grande descontentamento político na nação portuguesa. Este pesar encontra cada vez mais adeptos e transforma-se num desagrado geral do país. Na cidade do Porto foi difundido, por esta altura, um folheto que atacava o príncipe regente mas também os próprios ingleses, seus aliados: “Falemos agora de Sua Alteza. Partindo do Reino em fim de Novembro de 1807, nunca se deu provas de se lembrar dos seus antigos vassalos. São passados dezassete meses e nunca se lembrou de mandar um brigue às costas de Portugal que nos trouxesse novas de sua pessoa. No mês de Agosto de 1808 partiu do Porto um navio para o Rio de Janeiro para noticiar Sua Alteza os sucessos daquele tempo e se pediam que nos mandasse quanto antes dinheiro e víveres… E que resposta veio a isto? Entrou algum comboio nos portos? Veio um só navio que nos trouxesse notícias do Rio de Janeiro? Todavia ricas frotas navegam do Brasil para Inglaterra levando para ali a riqueza e a abundância, e passando defronte das nossas costas não deitam em terra uma saca de arroz ou caixa de açúcar. Oh, ingratidão de um príncipe! Daqui é lícito concluir que Sua Alteza renunciou espontaneamente o direito à Coroa portuguesa. Está pois vago o trono português, por que a Regência que o príncipe erigiu antes de partir, é um governo fanático, ilegal e nulo. As leis fundamentais da monarquia não permitem que o príncipe trespasse a coroa a sujeito da sua amizade. Se o príncipe legítimo existe, a coroa cai de novo nas mãos dos povos, e só estes a podem dar de novo aos varões prestantes.”

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