Viagens ao reino de Clio
A partir de 1505, a experiência da navegação portuguesa para a Índia mostrou que era necessário construir fortalezas onde se realizasse o comércio. Neste mesmo ano partiu de Lisboa uma frota composta por vinte e duas naus, comandadas por D. Francisco de Almeida, filho de D. Lopo de Almeida, conde de Abrantes. Na frota seguiram cerca de mil e quinhentos homens, incluindo muitos fidalgos e moradores da casa de El-Rei que querem servir na Índia durante os três anos seguintes. Como a Europa se começava a interessar por este tipo de comércio, na armada seguiram interesses de capitais alemães, genoveses e florentinos. D. Francisco de Almeida é designado vice-rei da Índia, sendo pela primeira vez concedido tal cargo para melhor governo dos assuntos da Índia. Espera-se assim abrir uma nova etapa no comércio das especiarias com o Oriente. Para melhor servir os objetivos do rei, vai incumbido de construir fortalezas em Cochim, Cananor e Coulão, na costa da Índia, e outras em Sofala, Quíloa, Mombaça e Moçambique, na costa oriental da África.
D. Francisco de Almeida conquistou a cidade de Quíloa, em África, no dia 22 de julho de 1505, porque o rei se tinha recusado a pagar o tributo que tinha sido combinado com Vasco da Gama. Neste contexto emitiu uma ordem ao capitão da fortaleza: “Mando-vos que deis para mim e para todos, dois alqueires de farinha e outros dois de milho e meio alqueire de arroz; e de mel, uma canada, e de vinagre, canada e meia, e de azeite, três quartilhos. E assim dareis a todos os homens de armas, a cada um quatro alqueires de milho e para conduto dareis noventa reais por este mês a cada uma pessoa. E assim dareis para os doentes galinhas e toda outra carne que lhe boa for e do melhor pão de farinha de trigo que se puder dar e assim romãs e laranjas, azeite e vinagre e todas as outras coisas vós não dareis senão aqueles que o físico disser que lhes são necessárias. E assim lhes dareis, a cada um, por dia, um quartilho de vinho. E assim vos mando que deis em cada domingo, para cada uma destas sobreditas pessoas, assim para mim como para cada um, geralmente um arratel e meio de carne. E assim vos mando que deis para trinta escravos e escravas, forros e cativos, que servem nesta fortaleza, do pó do biscoito o mais somenos que aí houver, por dia a cada um dez onças e de pescado entre três, o arratel e de carne, ao domingo, entre quatro, um arratel.”
O reinado de D. Manuel chegou ao fim no dia 13 de dezembro de 1521. A morte do rei, aos 52 anos, foi provocada por uma estranha doença que grassava em Lisboa: a febre modorra, que provocava uma grande sonolência e que matava sem sofrimento. Não foi só o rei que morreu, pois aconteceu o mesmo a cerca de três centenas de habitantes da cidade. O sentimento de desgosto é geral pois o rei era tido em grande consideração. Apesar de ter subido ao trono numa altura difícil da política nacional, quando Portugal estava dividido em ódios profundos, conseguiu restabelecer a paz e ser um verdadeiro gestor dos interesses portugueses. Foi ele quem pôs em prática o plano das Índias delineado por D. João II e que manteve a linha política de centralização de poder por meios pacíficos, com reformas silenciosas, pacíficas, embora demoradas. Fazendo-se justiça ao seu desempenho, a sua época ficou conhecida como “tempo manuelino”, o que significa paz interna, expansão no mundo, reconciliação e progresso. Foi um rei que colocou os interesses nacionais acima de ressentimentos pessoais ou de outras questões políticas. O décimo quarto rei de Portugal ficou conhecido na história como “D. Manuel, O Venturoso, O Bem-Aventurado ou O Afortunado.”