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D. José: adaptar Portugal às grandes transformações do mundo (I)

Viagens ao reino de Clio

D. José, que recebeu uma cuidada educação na sua juventude, sucedeu a D. João V, seu pai, como rei de Portugal. Foi aclamado como novo soberano português no dia 8 de setembro de 1750, cerca de cinco semanas após o falecimento do seu antecessor. Aos trinta e seis anos herdou o trono num momento difícil da vida portuguesa. O país possuía uma administração obsoleta e ineficaz e as classes sociais privilegiadas faziam grande oposição ao poder central.
Assim, três dias após o falecimento de D. João V, o futuro rei D. José, ainda não aclamado oficialmente, efetuou uma remodelação governamental, tal como nos indica um residente na corte: “Passaram novas ordens para luto de um ano rigoroso e aliviado, o que mais confirma com que despotismo o R. P. Reformador frei Gaspar, confessor que foi do defunto, com ajuda de Alexandre de Gusmão e de António da Costa Freire, estavam nos últimos anos da vida letárgica de D. João V governando todo o Reino. Nomeou Sua Majestade por secretários de Estado a Diogo de Mendonça Corte Real, para os negócios da Marinha e Ultramar, e Sebastião José de Carvalho para a repartição de Guerra e Negócios Estrangeiros. Seguiu-se ordenar El-Rei aos presidentes dos Tribunais que as consultas fossem remetidas aos secretários de Estado pela sua repartição e que quando as circunstâncias o requeressem lhes viessem entregar pessoalmente. Desta sorte ficou frei Gaspar aliviado do cargo de primeiro-ministro sem El-Rei o despedir. No mesmo tempo não foi só Gusmão mal recebido na Corte mas se lhe ordenou que lhe entregasse os papéis que estavam na sua mão. António da Costa Freire ainda exercita o lugar de provedor da Alfândega, mas querendo com instância falar a El-Rei mandou-lhe Sua Majestade dizer o que tinha que dizer que o fosse comunicar ao secretário de Estado. Esta mudança ninguém a esperava, à vista da grande união que havia no Rei atual com os três mencionados governadores, que se pode chamar interregno de oito anos e dois meses, mas agora se descobre que a amizade do Rei presente com eles enquanto príncipe era só aparente, para por este caminho alcançar dinheiro para as suas necessidades por que por este modo tinha todo o dinheiro que queria e agora se acabou esta dependência.
Tem reposto as coisas em boa ordem, não querendo que negócio algum vá por fora do seu caminho regular. Ainda agora, quando o arquiteto-mor Frederico Ludovice levou o risco para a varanda da Aclamação que dizem se fará em 8 do mês que vem, ordenou que a fosse levar ao conde de Soure como Provedor da Casa das Obras e que a receberia da mão do dito conde.”
O reinado de D. José proporcionou a rápida ascensão de um diplomata até aí pouco conhecido. Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal e Conde de Oeiras, foi escolhido como colaborador próximo de D. José. Não pertence às famílias tradicionais da nobreza portuguesa, embora seja nobre, mas alimenta uma enorme vontade em se impor e valorizar. Uma grande parte da classe política nacional vê com grande apreensão a ascendência deste político e muitos, por escárnio e despeito, chamam-no de Sebastião José.
Em 1752 o novo rei concedeu grandes facilidades aos plantadores de amoreiras para relançar a economia portuguesa. Para quem conseguisse grandes colheitas estava mesmo previsto a atribuição de graus da nobreza. Era um estímulo excecional para aumentar a produção da seda e evitar a sua importação. Extrato do alvará régio sobre o assunto: “Sua Majestade honra todos os que se ocupam tanto na criação das sedas como das amoreiras. Os que lavrarem dez arráteis de seda em rama ou daí para cima, ou plantarem amoreiras suficientes a esta quantidade, são isentos de pagarem nela, ou da terra ocupada com tão útil plantação, sisa, dízima ou portagem; quatro e meio por cento, nem outro algum tributo, velho ou novo, assim nas alfândegas como fora delas. […]
E aos que lavrarem três arrobas da sua colheita e daí para cima, sendo mecânicos, ficam homens nobres e capazes de servir, sem mais habilitação, todos os encargos da República que requerem nobrezas, fazendo-lhes mercês e atendendo a sua indústria como importante serviço. E toda a seda destes Reinos se pode vender livre de direitos.”

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