Viagens ao reino de Clio
A passarola do padre Bartolomeu de Gusmão
No dia 8 de agosto de 1709, o padre Bartolomeu de Gusmão fez subir um “instrumento de voar para se andar pelo ar da mesma sorte que pela terra e pelo mar”. Com o feitio de uma ave, ficou conhecido como “Passarola” e, embora muitos troçassem do padre Gusmão, chamando-lhe até “voador”, o aparelho subiu quase cinco metros, até ao teto da sala onde se fez a experiência, perante um rei embasbacado e uma corte espantada. Dizia-se que seria muito útil para levar avisos às conquistas, para transportar mercadorias e para outro tipo de serviços.
Hoje, a passarola faz parte do imaginário popular, pois o primeiro homem a voar terá sido um português. Tratou-se de levar à prática o princípio da elevação através de ar quente, embora este aparelho dificilmente se pudesse elevar nos ares quando carregado de homens e instrumentos.
Não é, contudo, de excluir que estas experiências tenham sido um fracasso, embora contassem com o entusiasmo de D. João V, o que terá sido motivado pela tremenda zombaria que os ignorantes e invejosos fizeram do seu invento no período que antecedeu as demonstrações perante a corte. Seja como for, o relato do invento e das experiências do padre Gusmão chegaram aos nossos dias, ainda que envoltos numa áurea de mistério.
A primazia de voar pela primeira vez num balão haveria de caber a dois franceses, Pilâtre de Rozier e o marquês de Arlandes, que se elevaram nos ares em 1783, 74 anos depois das experiências do padre português. Porém, a construção de um balão capaz de subir por meio de ar quente coube pela primeira vez na história ao padre português.
Quatro dias de touros
no Terreiro do Paço
“Houve quatro dias de touros no Terreiro do Paço com grande variedade de festas. Algumas carroças aguavam o terreiro com pipas de água muito enramadas. Andavam trinta ou quarenta homens vestidos à mourisca com uns regadores de folha-de-flandres regando. Também houve uma dança de sereias e outra de macacos. Em cada um dos quatro dias deitavam dois touros com uma manta pelo costado, com muita quantidade de foguetes e muito e variado fogo. Todos estes estratagemas e ridicularias foram muito aplaudidos”.
O desgosto amoroso
de D. Filipa de Noronha
relacionado com o casamento
do Rei de Portugal, D. João V, com D. Mariana de Áustria
“Saiu do paço, com o pretexto de ir à Madre de Deus, num coche de el-rei e em companhia da condessa da ilha, como dama de honor, a outra filha do marquês de Cascais, também dama da Rainha e se chama Dona Filipa, e recolhendo-se da romaria pelo convento da Santa Clara se deixou ficar nele, escrevendo ao duque como mordomo-mor que ela tinha vocação de se recolher nele e que assim o podia fazer presente a Sua Majestade. E se isto assim foi, que foi sem o consentimento seu, venho entender que estas senhoras não se costumam despedir quando saem do paço, para não fazerem saudades.”
Por esta ocasião a própria D. Filipa de Noronha escreveu uma carta ao rei: “Bem reconheço que era muita audácia aspirar a tanto, porém este meu engano não tem menos autoridade que a fé devida a um príncipe. E como em Portugal não era eu a primeira a quem um Rei desse a mão, para receber tão alto, foi fácil o amor deixar-se persuadir do exemplo. Presumi tornar-me no esplendor da minha casa e fiquei sendo o escândalo de todos.
Não há mulher mais desgraçada. Para todas o agrado de Vossa Majestade serve de exaltação, só para mim de precipício.
O que peço a Vossa Majestade é só licença para professar no convento em que morreu Santa Teresa de Jesus.”