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D. João V: um rei fidelíssimo e magnânimo (I)

Viagens ao reino de Clio

D. João V, de seu nome completo João Francisco António José Bento Bernardo de Bragança, foi aclamado com grandiosa pompa como rei de Portugal no dia 1 de janeiro de 1707. Como príncipe era conhecido como galanteador, aventureiro e amante do fausto. Por outro lado reconhecia-se-lhe grande inteligência e espírito aberto a novidades. Sabia falar fluentemente o francês, castelhano e italiano e tinha muito interesse pela música e pela matemática.
Cognominado o Magnânimo, foi o vigésimo quarto rei de Portugal. Reinou entre o dia 1 de janeiro de 1707 e o dia da sua morte, que ocorreu no dia 31 de julho de 1750. Teve um reinado longo, de quarenta e três anos, conhecido por ser o mais rico da História de Portugal, graças à descoberta do ouro do Brasil, cuja remessa para a metrópole atingiu o apogeu na última década do seu reinado.
Contudo, o seu governo também ficou marcado por vários conflitos armados como a Guerra da Sucessão de Espanha, que motivou a Batalha de Almansa no primeiro ano do seu reinado, e ainda a combates em África, na América, e na Ásia contra os franceses, as campanhas navais contra os turcos no Mediterrâneo, que levaram à vitória na Batalha de Matapão em 1717 e ainda as guerras que Portugal travava no Oriente, na Arábia e na Índia, contra estados asiáticos, nomeadamente contra o Império Marata e os árabes de Omã.
Como homem ilustrado e culto que era, D. João V tentou dar uma imagem de Portugal como nação de primeira linha no mundo civilizado da época, a Europa, como se constata nas faustosas embaixadas que por motivos vários enviou ao imperador Leopoldo I em 1708, a Luís XIV da França em 1715, ao papa Clemente XI em 1716, ou ainda ao Imperador da China em 1725.
Por outro lado quis deixar muitos edifícios que testemunhassem a sua grandeza. Foi este rei que mandou construir o Palácio-Convento de Mafra, a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa, e a principal parte da coleção do Museu Nacional dos Coches, talvez a mais importante a nível mundial.
Esteve também na origem da Academia Real da História Portuguesa, no Patriarcado de Lisboa, um dos três patriarcados do Ocidente da Igreja Católica e fomentou o estudo da história e da língua nacionais.
O seu reinado pode mesmo dividir-se em dois períodos: o primeiro com o país a assumir um papel de relevo na política europeia e mundial e o segundo, a partir de 1730, em que a aliança estabelecida com o velho parceiro inglês determinou uma certa estagnação do reino português.
Uma das suas mais importantes edificações foi o Palácio-Convento de Mafra, que mandou construir como forma de agradecer o nascimento do seu primeiro filho varão, embora haja quem defenda que a obra se construiu por vias de uma promessa feita relativa a uma doença de que o rei padecia. Este conjunto arquitetónico barroco, formado por um Paço Real, uma Basílica e um Convento, possui importantes coleções de escultura italiana, de pintura italiana e portuguesa, uma biblioteca única com cerca de trinta e oito mil obras, bem como dois carrilhões, seis órgãos históricos e um hospital do século XVIII. A referida biblioteca é também conhecida por acolher morcegos, que ajudam a preservar as obras pois alimentam-se dos insetos que danificam os livros. Os dois carrilhões, mandados fabricar em Antuérpia e em Liège pelo próprio rei, com um total de 98 sinos, pesam mais de 200 toneladas e constituem um dos maiores carrilhões históricos do mundo.
Este palácio é considerado como o mais importante monumento do barroco em Portugal. Feito em pedra lioz da região, ocupa 38.000 m, com 1.200 divisões, 4.700 portas e janelas e 156 escadas, o que apenas foi possível devido ao ouro proveniente do Brasil.
Embora não tenha servido para residência oficial da coroa portuguesa, foi sempre muito visitado pelos reis para assistirem a festas religiosas ou caçar na Tapada.
D. João V deu nome a um período da história da arte portuguesa designado Barroco Joanino.

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