A crónica do processo de beatificação e canonização do Venerável Servo de Deus D. João de Oliveira Matos
tem o seu início nas Visitais Pastorais que ele fez a toda a Diocese e no encontro com as pessoas simples e humildes das nossas terras onde encontramos uma expressão unânime e repetida: “ele é um santo”; “vamos ouvir um santo”. A impressão que deixava nas pessoas podemos avaliá-la nos testemunhos que temos deste tempo no Processo de Canonização: “Este homem santo cai de joelhos nas pedras frias e duras da igreja com os olhos fixos no sacrário, de rosto levantado, os lábios não se mexem e ele também não se move. Assim permanece por largos momentos. O povo ao ver o seu Bispo de joelhos, todo ele, apressadamente, se ajoelha” (Visita a Trancoso, 20-11-1943).
Este juízo do povo cresceu após a morte do fundador da Liga dos Servos de Jesus, ocorrida em 29 de agosto de 1962, levando muitas pessoas a recorrer á sua intercessão para obterem graças, tando de ordem espiritual como corporal. A este propósito é bom recordar que a serva de Jesus Palmira Dinis da Fonseca, superiora da comunidade do Outeiro de S. Miguel, escreveu ao Papa Paulo VI, em 6 de maio de 1982, a pedir o início do Processo de Beatificação, enviando, para o efeito, a Biografia do Senhor D. João “Um bispo para o nosso tempo”, escrita, a seu pedido, pelo cónego Afonso Sanches de Carvalho.
A Liga dos Servos de Jesus, representada pela Coordenadora Geral Guilhermina Costa e o seu Conselho, tornou-se a “autora da causa”, pedindo em 8 de setembro de 1988 ao bispo da Guarda, D. António dos Santos, que, depois de obtido o “nihil Obstat” (autorização) da Santa Sé, fosse iniciado o respetivo processo.
A sessão solene de abertura do Processo realizou-se no Centro Apostólico D. João de Oliveira Matos no dia 30 de janeiro de 1994, com a presença de largas centenas de fiéis provindas de toda a Diocese e também fora dela. O Tribunal Rogatorial da Guarda ouviu quarenta e seis testemunhas que tinham conhecido e contactado com o Servo de Deus, o de Lisboa ouviu doze, o de Viseu ouviu três, o de Coimbra uma e “ex officio” cinco testemunhas. Num toral foram ouvidas setenta e duas testemunhas. A Sessão de clausura foi no dia três de maio de 1998 na Catedral da Guarda, repleta de fiéis e devotos do Senhor D. João, continuando a fase romana junto da Congregação para as Causas dos Santos, cujo Prefeito era o nosso conterrâneo cardeal Saraiva Martins, que tinha conhecido D. João na visita pastoral à sua terra dos Gagos.
Em 1998 foi nomeado Relator da Causa Mons. José Luís Gutierrez, sendo Postulador Mons. Arnaldo Pinto Cardoso. Em 2008 foi entregue na Congregação para as Causas dos Santos a “Posito super virtutibus” e, em 3 de junho de 2013, o Papa Francisco, recebendo e ratificando a votação da Congregação para as Causas dos Santos, declarou «Estar seguro acerca da heroicidade das virtudes teologais da Fé, Esperança e Caridade tanto para com Deus como para com o próximo, e também das virtudes cardeais da Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza e as com elas ligadas, do Servo de Deus João de Oliveira Matos Ferreira, Bispo titular de Aureliópolis na Lídia e Auxiliar da Guarda, no caso e para o efeito de que se trata».
Neste momento, a pergunta que devemos fazer é esta: qual a sua atualidade para a vivência ordinária da santidade, “os santos ao pé da porta”, como lhe chama o nosso Papa Francisco? O decreto que aprovou as suas virtudes e o declarou Venerável, aponta alguns caminhos que todos somos podemos percorrer:
1º Um estilo de vida simples e sóbrio. “O seu estilo de vida era sóbrio e virtuoso”.
2º Amor à Palavra de Deus e à oração. “Constante na pregação da Palavra de Deus”. Sem uma paixão pela Palavra de Deus – a pessoa de Jesus – não teremos o fogo necessário para sermos evangelizadores. E isto nasce da formação cristã. Nós temos de saber dar as razões da nossa fé.
3º Oração, Eucaristia e amor a Nossa Senhora. “Esforçou-se quotidianamente por caminhar na perfeição e encontrou na oração, na espiritualidade eucarística e na devoção à Virgem Maria a fonte da sua intensa atividade pastoral.
4º A caridade pastoral. “A sua característica principal é a caridade pastoral, que viveu com verdadeira convicção e constante generosidade”. A vida do Servo de Deus foi uma manifestação da caridade de Cristo, até à doação total de si em benefício do rebanho que lhe foi confiado.
5º Reconciliação social. “O seu zelo apostólico deu um notável impulso à reconciliação social após tantos anos de tensões.
Termino com duas frases que todos conhecemos e que refletem o modo como ele viveu e praticou na sua vida as virtudes em grau heroico: «A doçura é como a nata da caridade: é dos frutos mais perfeitos desta virtude»; «a virtude da fortaleza continua a ser uma das quatro virtudes teologais ou morais e, faltando esta, a prudência deixa de ser virtude para ser cobardia; a justiça transforma-se em fraqueza; e a temperança, longe de estabelecer o equilíbrio entre as virtudes, fá-las desaparecer».
Agora é o momento de pedirmos ao Senhor da vida que nos conceda, por sua intercessão, a graça de um milagre que leva à sua beatificação.