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D. João IV: Restauração da Independência do Reino de Portugal (III)

Viagens ao reino de Clio

Alguns retratos do reinado de D. João IV (1640-1656), o monarca que restaurou a independência de Portugal, de acordo com textos da época:

A importância do açúcar
produzido no Brasil
no século XVII

“ Os portugueses têm belas hortas cheias de boas hortaliças, como alfaces, repolhos, melões, pepinos, rábanos e outras ervas cultivadas. A vinha não produz lá, porque as formigas, que há em grande quantidade, comem o fruto. Dá-se o arroz e o milho mas só se servem deste para mantimento dos animais; o que os espanhóis não fazem nas Índias Ocidentais porque o misturam com o trigo e fazem dele pão. Há ali uma boa pesca e outros peixes; e eu vi muitas vezes matar baleias. Tiram delas azeite em tão grande abundância, que carregam navios. Quanto aos naturais do Brasil, que vivem entre os portugueses, mantêm-se mais de peixe que de outra coisa; e pouco se ajudam da caça, porque sendo o país cheio de matas e havendo nelas bestas-feras, não ousam ir ao mato com temor de serem devorados.
A riqueza desta terra é principalmente em açúcares, dos quais os portugueses carregam seus navios. Porque julgo que não haja lugar em todo o mundo onde se crie açúcar em tanta abundância como ali. Não se fala em França senão do açúcar da Madeira e da Ilha de São Tomé, mas este é uma bagatela em comparação com o do Brasil, porque na Ilha da Madeira não há mais de sete ou oito engenhos a fazer açúcar e quatro ou cinco na Ilha de São Tomé. Mas segundo meu próprio conhecimento há, no Brasil, em cento e cinquenta léguas de costa, perto de quatrocentos engenhos e toda a costa tem bem oitocentas léguas. Todavia o resto da costa não tem tantos como naquelas cento e cinquenta léguas que se compreendem para cá de Pernambuco, até vinte e cinco léguas para lá da Baía de Todos-os-Santos.
Cada um destes engenhos ou moinhos rende por ano cem mil arrobas de açúcar pouco mais ou menos e a arroba pesa trinta e dois arráteis e quatro arrobas fazem um quintal, que pode custar lá quinze francos.”

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Os holandeses, apesar de vencidos no Brasil, instalam-se nas suas principais cidades

“No Rio de Janeiro se alojam mais de trezentos holandeses dos rendidos no Recife. Nem se lhe haverá mostrar a fraqueza dos lugares que eles ainda não sabiam. Com ficar nesta praça tão desviada acho nela motivos maiores que se podem presumir, para a intentarem os inimigos. Nenhumas hostilidades a infestarem; a gente bisonha; a cidade sem defesa; o porto excelentíssimo; o desembarcar fácil; o país rico; o domínio grande; e, principalmente, a vizinhança das Índias de Castela, das quais com o comércio e a indústria se devem prometer riquíssimos interesses.
Mas sobre todos os esperaram maiores lucros da cobiça do nosso ouro (último fim dos suores humanos) falando-se ao presente nas Minas de São Paulo com grandessíssimas esperanças de que já chegaram à Holanda não só as notícias mas as amostras por um pataxo flamengo que há pouco naquela costa tomou seis barcos aonde vinham muitas barretas de ouro; e um estrangeiro industrioso que por entender de minas e fundição com assistência larga alcançou conhecimento inteiro daquelas partes; pois a que deram aos Estados das Províncias Unidas, Pedro Hotman e João Flesinghe, da Índia e do Brasil, ocasionou os grandes danos que recebemos numa e noutra parte em tempo d’el-Rei de Castela.”

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Morte do rei
restaurador

D. João IV morreu no dia 6 de novembro de 1656, aos 53 anos, após 16 anos de reinado. Sucedeu-lhe o seu filho Afonso, com 13 anos de idade, mas, como este era menor, a regência seria assegurada pela rainha D. Luísa, até o herdeiro atingir a maioridade.
O monarca falecido soube sempre ser prudente, hábil e culto e defender os valores da nação portuguesa.

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