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D. João III Descobrimentos, cultura e saber (II)

Viagens ao reino de Clio

Foi durante o reinado de D. João III que Fernão de Magalhães fez a primeira viagem de circum-navegação. Na realidade, o navegador português, ao serviço do rei de Espanha, não conseguiu completar a dita viagem pois foi morto numa emboscada, com alguns companheiros, numa paragem que efetuou na ilha Mactan, quando queria atingir as Molucas. A viagem, que Magalhães tinha iniciado, prosseguiu sob o comando de Sebastião d’Elcano, que foi, desse modo, o primeiro navegador a dar efetivamente a volta ao mundo.
A viagem de Magalhães foi muito tormentosa. Teve de lidar com uma revolta da tripulação, que queria regressar a Castela, dominada a custo, pois teve de empregar meios violentos: mandou matar um dos revoltosos à punhalada e esquartejar outros três para exemplo dos restantes amotinados. Muitos marinheiros acabaram por morrer na viagem que durou três anos e permitiu descobrir o caminho marítimo entre o oceano Atlântico e o Pacífico, que por esse motivo se designa Estreito de Magalhães. Assim se provou que a Terra era mesmo redonda.
No dia 24 de dezembro de 1524, o vice-rei da Índia, Vasco da Gama, também designado conde da Vidigueira e Almirante do Mar da Índia, morreu em Cochim, terra onde desempenhava o cargo. O rei português tinha-o nomeado vice-rei para que ele corrigisse os abusos de alguns fidalgos lá estabelecidos pois, segundo João de Barros, era um homem “ousado em cometer qualquer feito, áspero no mandar e muito para temer em sua paixão, sofredor de trabalhos e grande executor no castigo de qualquer culpa por bem da justiça”.
Damião de Góis, um dos insignes homens da cultura portuguesa deste reinado, descreve as riquezas geradas pelo comércio marítimo com o oriente: “Todos os anos vêm para Lisboa, dos reinos da Nigéria, dez a doze mil escravos, além dos que chegam da Mauritânia, da Índia e do Brasil, cada um dos quais se vende por dez, vinte, quarenta e cinquenta ducados de oiro. Da Nigéria vem-nos também muito oiro, algodão, marfim (vasos e imagens feitas do mesmo com certa arte), ébano, maçãs getúlicas vulgarmente chamadas grãos do paraíso, ou malaguetas, peles de vaca e de cabra, panos admiravelmente tecidos de folhas de palmeira e do algodoeiro, pimenta, arroz, gatos zibelinos e tâmaras. Do Brasil, a madeira chamada brasil e vestuário entretecido de penas de aves, leitos de redes de algodão e ótimo açúcar. Da Índia Oriental e do Cataio vem de pimenta, cada ano, trinta a quarenta vezes cem mil arráteis; em Lisboa vendem-se cem arráteis por trinta e quatro ducados, rendendo um mínimo de treze ou catorze centenas de milhares de ducados. Gengibre, moscadeira e suas flores, cânfora, gariófilo, ruibarbo, noz aromática de toda a sorte, caneleira, tamareiro da Índia e toda a variedade de perfumes, aloés, sândalo vermelho e branco, laca, ébano, pedras preciosas de toda a espécie, pérolas, vasos de oiro e prata admiravelmente trabalhados, panos de seda e oiro, de algodão, seda, bálsamo, nozes da Índia, loiças, feitas com arte admirável de cal de conchas, a que chamam porcelana, algumas das quais se vendem a cinquenta e cem ducados. De lá vieram também cinco ou seis elefantes em tempo de el-rei D. Manuel, o Venturoso. Deste vi eu três, quando pajem deste prudentíssimo príncipe e ainda um rinoceronte, todos adiante do mesmo senhor, que montava a cavalo. Também vi o combate de um desses elefantes com o rinoceronte, sucesso, na verdade, digno de admiração, em que morreu o elefante. Tal folgança proporcionou o mesmo venturoso rei D. Manuel em Lisboa, se bem recordo, pelos anos de 1515 ou 1516. Das ilhas da Madeira, das Canárias, de S. Tomé e Príncipe e de outras vem-nos grande quantidade de açúcar, pastel, algodão e trigo. Do Brasil e da Nigéria, papagaios, macacos, de cauda comprida e vulgares, e muitas outras coisas admiráveis.”

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