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“Custe o que custar”

Imediatamente após as últimas legislativas,

The Economist noticiava que o “1º Ministro era filho de um médico de província”. O laconismo da afirmação encerra, todavia, um significado da maior importância. Aliás, é próprio de qualquer pessoa inteligente querer saber cabalmente das origens, antecedentes, do outro e, aqui, inteligência é sinónimo de Monarquia, que é o regime intrínseco aos britânicos. (Esclareço: não se trata de um elogio sem mais. O modo arrogante, altivo, de ser-se britânico cansou-me e deixei de assinar a revista).
Tem-se como pressuposto que um médico de província não é, propriamente um protagonista na cena nacional e, muito menos, internacional, portanto que o filho não seria o pináculo dos horizontes. (Ao “médico de província”, porém, honra e gratidão, pois, pelos vistos, deixou um notável trabalho em Angola).
Um tal critério de análise, procurar o presente nos antecedentes, revela-se, aqui, plenamente certeiro: Passos Coelho (PC), sem qualquer desprimor, claro, é um tosco. Não sabe exprimir-se, não sabe pensar, não identifica o interlocutor nem o contexto, não intui o público para quem fala, não sabe – ou não pode, ou não tem podido… – rodear- se das pessoas indicadas…
Tem sido salientado o seu percurso na “jota” e a sua muito tardia licenciatura. (Há tempos Vasco Pulido Valente apresentava as “jotas” como um tremendo drama nacional a que urgia pôr termo). Claro que do sinistro regime implantado com o 25-IV – propor a imanência como supremo critério de felicidade dos povos apenas pode ser eloquentemente ilustrado, v.g., com a actualmente alarmante taxa de suicídio infantil em França – só pode esperar-se “de mal a pior”. Mais. Para afundar a situação não só Portugal vive um dos mais difíceis momentos da sua multi-secular História como – escreveu-o um especialista mundial de topo – a Humanidade vive um dos períodos mais dramáticos da sua existência, com muito difíceis tempos vindouros no horizonte. Acrescente-se: este mesmo especialista escreve que a 3ª Guerra Mundial já começou.
Estive c. dois meses (50 dias, precisamente) ausente de Portugal. Nas primeiras duas semanas, à beira do Mediterrâneo. Locupletava-me, ademais, com a leitura de excelente imprensa. Por ela, imprensa estrangeira, soube da recuperação económica que ia tendo lugar em Portugal, de como a esquerda em Portugal só serve para arruinar, de como os espanhóis têm uma vigorosa presença no nosso País, etc.,etc.
Quando saio de Portugal tenho sempre um muito estrito programa a cumprir. Neste ano avantajavam-se quatro pontos: Vitemberga, a cidade de Lutero; Hamaray, no Círculo Polar Árctico norueguês, onde se situa o Centro Knut Hamsun (prémio Nobel norueguês de Literatura que apenas frequentou a Escola Primária durante 252 horas); o Cabo Norte também na Noruega (71º 10’ 21” N); e, no regresso, Viena, para uma exposição, em Belvedere, de Klimt.
A despeito dos resultados de todos os esforços, uma parte muito substancial das estradas norueguesas é um martírio, dados os seus traçado sinuoso, estreito, acidentado e limites de velocidade tão rigorosos que suscitam tensão. E, todavia, viajar é uma fabulosa catarse. Só, durante 12867 quilómetros e nos mais impressionantes lugares (não posso deixar de mencionar o ponto mais setentrional da Jutlândia, trasbordante de importância artística e histórica, onde o sereno Báltico se encontra com o espumoso Mar do Norte, Grenen, Skagen), tudo, digamos, acorre ao espírito, se entrelaça, traz novos ângulos e conclusões, recordações, visões cada vez mais ampliadas e – sobretudo – contentamento, lucidez, serenidade, mesmo prognose.
No que toca a essa infâmia que é o denominado “Acordo Ortográfico” PC avalizou o crime dos três últimos presidentes da república e “governos” anteriores passando por cima do que os mais avisados portugueses lhe disseram – e demonstraram – vergando-se ao Brasil (“Do Brasil nem a terra nos sapatos”, disse D. Carlota Joaquina, a rainha). A PC não passa de modo nenhum pela cabeça o que é uma dimensão de estadista.
A essa piramidal figura que é Relva, que, após repetência, conseguiu fazer o 12º Ano com notas baixas e cuja licenciatura foi revogada, PC deu cobertura até para além do limite, pelos vistos enleado com os cálculos tácticos próprios de mesquinhos interesses. A Crato nunca disse que a Educação é – singela, mas transcendentemente – questão de “faz o obséquio”, “faz a fineza”, “faz o favor”, “não se importa de”, “gostaria de”, “queira desculpar”, sorriso pródigo, intangibilidade da hierarquia e demais fórmulas com o resultado do “abre-te sésamo”, em vez da Instrução Pública, “matéria” que tão-pouco domina.
Em Aguiar-Branco nunca sequer reparou – menos ainda concluiu, claro – que o corte de cabelo do advogado, no pescoço, pode ser o de um actor de cinema (certas mães burguesas acham os caracóis bonitos…), mas não o de um Ministro da Defesa (a isso prefere lembrar-se o adiantado estado de gravidez de Carme Chacón, altiva, a passar revista às tropas imediatamente antes de partirem para a frente de combate). Aguiar-Branco é de tal modo motivo de comiseração e desprezo por parte dos viris militares que não se entende por que nunca se demitiu. – Sei do que falo.
A Carlos Peixoto, que taxou de “peste grisalha” os aposentados, manteve o 1º lugar na lista pelo nosso distrito – Peixoto, que eu saiba, nunca pediu desculpa por esta hediondez e, logo no início da legislatura, tendo-o eu confrontado com as promessas não cumpridas do 1º Ministro (acabara de ser-me apresentado por um amigo comum), respondeu-me, inqualificavelmente, que “era impossível manter no Governo promessas feitas em campanha”. – Uma tal criatura, até re-educada, deve ser expelida do convívio de pessoas que se prezem. Pode começar pela Cultura e Filosofa Antigas.
A menos que se seja um ser de excepção nunca ninguém pode ter todos os pormenores, mas o que acabo de dizer é demasiado ostensivo, chocante. Todavia, o que teve que pagar-se por culpa – sobremaneira – do fascismo do P”S” (o fascismo é o irracional emergente e há que esquecer, nomeadamente, o que os letais marxistas sobre ele escreveram/escrevem) foi avassalador. E, há que bradá-lo, PC encontrou dificuldades na lama mas saiu limpo. E nisso há magia. Sim, vivíamos um drama a raiar os limites – só os alienados ou idiotas podem ignorá-lo. PC, contudo, venceu. E merece elogios porque fixou um itinerário e cumpriu-o – dele não se afastou um milímetro. O “custe o que custar” é um toque a rebate – viril. Venceu economistas, académicos, comentadores, bem-pensantes…que, ingénuos, ignoram que a Vida é uma perfeita guerra.
Qualquer português minimamente bom, inteligente, patriota, sabe que, por mais débil que seja, é infinitamente melhor que todos os demais que se apresentam – a começar por essa absoluta nulidade fascista que é Costa.
O que o prezado leitor acaba de ler vem da visceral profundidade que c. de um mês em viagem – sempre só – engendrou. Repare na data s.f.f.
GUARDA- 12-IX-2015

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