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COSTA NO SEU LABIRINTO ou ENTRE BRUXELAS E AS ESQUERDAS

Pontos de Vista

Conhecidos os resultados das eleições presidenciais e já depois de Marcelo Rebelo de Sousa (MRS) ter feito o seu discurso de vitória, eis que António Costa, na sua pose de primeiro-ministro, veio felicitar o Presidente da República eleito, prometendo-lhe lealdade e cooperação.
Há quem entenda que, para Costa, Marcelo será o Presidente ideal. Ciente da “camisa-de-forças” em que a sua apetência pelo poder acabou por metê-lo – marcado ao milímetro, internamente, pela extrema-esquerda parlamentar e, no plano externo, por uma União Europeia, na voz exigente e pouco compreensiva do grupo dos partidos de direita e centro direita, para com a distribuição demagógica de benesses – Costa sabe que, em momentos de compromisso impossível ou de insanável conflito com os seus parceiros internos, MRS poderá ser-lhe muito útil ao assegurar-lhe algumas frágeis pontes com o PSD, e, com elas, algum tempo mais de poder na tão ambicionada mansão de São Bento. Apoio esse que lhe poderá ser ainda mais útil, se MRS, com o aval da sua invejável legitimidade eleitoral, de par com o seu perfil de político “moderado” e conciliador, se dispuser a exercer o seu magistério de influência para sossegar as agências de rating, os mercados e os credores.
Mas esta coabitação aparentemente tão bonançosa poderá sofrer desequilíbrios ou inesperadas flutuações. Marcelo prometeu tudo fazer para contribuir para a estabilidade da governação. Acredito na boa fé do seu propósito de cumprir o prometido. Mas não pensem que MRS ponha alguma vez o pescoço no cepo por Costa. Nem tal lhe seria exigível.
Tal como Costa Gomes, numa afirmação post-25 de Novembro, esperará quieto para dizer: ”Como vê, não foi preciso fazer nada…Isto acabou por cair de podre…!”
Entretanto, penso que Marcelo vai apoiar o Governo de Costa, porque é o governo em funções. Vai fazer o que estiver ao seu alcance para conferir estabilidade à governação, encetando e desenvolvendo, se tal se tornar preciso, diligências junto dos partidos de direita e de centro-direita para que essa estabilidade se aguente. E vai aguardar os desenvolvimentos da situação política. Vai apreciar, com a distância de analista consumado, as cedências de Costa e do PS ao Bloco e ao PCP, a sofreguidão das reversões, os malabarismos de Costa para tentar sucessivas “quadraturas do círculo”, fazendo vénias à esquerda e esmolando os “pobrezinhos”. Acompanhará a famosa “alternativa” que as esquerdas prometem ferozmente e que mais não é do que “aplicar um programa anti-austeridade com o dinheiro dos outros; ser capitalista na hora de pedir financiamento e comunista na hora de pagar as dívidas” (João Miguel Tavares, “Repetir 100 vezes: falimos”, in “Público, de 2 de Fevereiro).
Mas, quando chegar o tempo de “pagar a factura” a exigir um aumento das receitas, chegarão mais uma vez as medidas que, mais uma vez ainda, virão castigar a já tão sugada classe média com os aumentos de impostos cada vez mais impopulares; e chegarão mais medidas rectificativas do Orçamento para quando o garrote financeiro e as exigências dos compromissos europeus e dos nossos credores se tornarem asfixiantes. Então talvez MRS pondere se não será a hora de arrepiar caminho. E se concluir que as paredes da casa ameaçam ruir, não acompanhará a derrocada do governo PS. Nesse caso, mas só então, dissolverá o Parlamento e dará de novo a voz ao Povo! Isto se Costa, manobreiro, se não se lhe antecipar, promovendo ele a crise política e a queda do executivo no momento tido como mais favorável, o que é uma hipótese que, para bem do país, ele não deve descartar.
Para já, «Portugal volta a ser notícia por maus motivos: não só por causa da banca e da reversão das concessões das empresas de transportes mas também porque há cada vez mais vozes, cá dentro e lá fora, a considerar o Orçamento de Estado “optimista”, “irrealista” ou “arriscado”» (Suplemento de Economia do Expresso, 30-01). Mas, apesar das explicações pedidas pela Comissão Europeia e das correcções que o governo foi obrigado a introduzir ao esboço de Orçamento, apesar das ameaças de descida do rating pelas agências de notação do risco, Costa, o “bom negociador”, vai provavelmente ultrapassar essas dificuldades ditas “técnicas”, concitando, por um lado, a compreensão de Bruxelas e, por outro, a bênção da “santa aliança” das esquerdas. Em todo o caso, Costa está à prova. “As esquerdas exigem-lhe que faça frente a Bruxelas. As instituições nacionais e internacionais arrasam-lhe as contas. A UTAO não só aponta para a existência de malabarismos como põe em causa toda a estratégia delineada (…). Costa disputa um jogo perigoso. O problema é que leva com ele o país e todo o esforço dos últimos anos” (Bernardo Ferrão, Expresso de 31-01, pág. 02).
A última semana foi uma espécie de revisitação do passado, quando a pressão das agências de rating, os avisos de Bruxelas e o confronto da retórica política nos fizeram reviver os tempos dramáticos da troika e da (primeira) austeridade.
Mas há ainda uma palavra mais que vos quero deixar: são alarmantes os sinais de intolerância dos partidos de esquerda a respeito de posições e afirmações críticas em relação às palavras e actos deste governo e da maioria parlamentar que o sustenta. Veja-se a reacção inflamada e quase insultuosa para com o PR ainda em funções que “ousou” vetar o diploma legal sobre a adopção por uniões de indivíduos do mesmo sexo. Brandiu-se a confirmação parlamentar do projecto de lei como uma inevitabilidade que o PR iria ter de “engolir” – resposta adequada, disse-se, ao seu gesto “mesquinho” (sic). Estaremos em presença de uma ditadura ideológica das esquerdas? Só assim se pode entender o desconchavo de afirmações de responsáveis (!?) do PS que trataram o mais que legítimo exercício do direito à liberdade de expressão como uma “traição à Pátria” (ou uma forma de cumplicidade com os inimigos da Pátria). Quem se limitou a verberar a “contabilidade criativa” vertida no primeiro esboço de Orçamento do governo socialista, foi apodado de “Miguel de Vasconcelos”. Estará tudo doido?

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Morreu a minha prima Maria de Lourdes Sacadura Manso Orvalho. Morreu a Senhora da Janela Manuelina da Rua Direita. Menina linda que foi na sua juventude, mulher e mãe valorosa que foi toda a vida. Guardou os seus valores e a sua fé com determinação, recebeu as provações com a dignidade serena de quem acreditava que o sofrimento não nos era imposto em vão mas sim como viático para a viagem segura e salvadora que a todos nos leva para junto do Criador e daqueles que amámos e, em espírito, por nós esperam junto d’Ele. Por isso a saudade que nos deixa quase não dói – antes nos embala como a música tão bela que o seu neto lhe dedicou na hora da despedida e nos faz sentir o Céu mais perto e mais acolhedor. O Senhor e a sua Santa Mãe a recebam e a guardem!

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