Constância é um substantivo feminino comum que significa o estado do que permanece ou continua; continuidade; regularidade. Constâncio é a variante masculina de constância, ambos derivados do latim constantia.
No entanto, quando falamos de substantivos próprios, tudo se passa ao inverso, é a própria Constância que é uma versão feminina de Constâncio, nome originado no latim Constantius, que significa “constante, perseverante, que tem firmeza de ânimo”.
O substantivo próprio na sua variante feminina evoluiu para Constança e já foi encontrada em obras portuguesas medievais dos séculos XIII e XIV.
Centrando-nos agora no substantivo próprio, explicado à luz da sabedoria do senhor Google, Constâncio significa pessoa charmosa, amável, expressiva, muito criativa e um tanto curiosa. Tem uma certa dificuldade na concentração e como gosta de compartilhar tudo com os outros, é o tipo de pessoa que não consegue guardar as ideias só para si.
Sempre de bom astral, o Constâncio adora festas. Só tem um problema que é o de enfeitar demasiado a realidade, exagerando a dose e não conseguindo controlar a sua mania de falar. Desta forma, pode até transmitir a imagem do chamado alcoviteiro.
Ora, estes atributos tanto podem servir para o Constâncio, como para a Constança, ou não fossem ambos os substantivos fiéis derivações da já referida latina constantia.
Tendo já ouvido dizer que o senhor Google sabe tudo, quem sou eu para por tal ideia em causa?
Acredito, tal como é dito pelo senhor Google, que Constanças e Constâncios sejam moldados de acordo com os atributos referidos e que essa seja a regra geral, mas também há um ditado português que nos ensina que não há regra sem exceção.
E onde está então a exceção?
A exceção está num certo Constâncio que eu bem conheço, que todos os portugueses muito bem conhecem, que adorava festas e festins, principalmente as que fez como anfitrião no Banco de Portugal e que tinham como festivaleiros principais os DDT’s (Donos Disto Tudo) do BPN, do BES, do BANIF, do BPP e, soubemos agora, mais uns poucos que pelos idos dos anos de 2007 andaram aos pontapés na CAIXA. Nesta caraterística, nada a dizer do senhor Google, quanto ao Constâncio.
Já no que respeita aos restantes atributos, o senhor Constâncio quando compareceu na Comissão de Inquérito à CGD nada tinha de charmoso. Surgiu com um aspeto vulgar e desairoso e quanto a ser amável e expressivo, nada de mais errado pois a personagem transmitiu uma imagem aborrecível e insossa.
Quando chegou a hora de falar, perante os deputados, na Assembleia da República, dos créditos de difícil cobrança que levaram ao descalabro na Caixa Geral de Depósitos e que obrigaram o atual governo ali a injetar cerca de 4 000 milões de euros dos nossos impostos, o senhor Constâncio não foi aquela pessoa capaz de partilhar as suas ideias com os outros. Foi exatamente o contrário. Não partilhou nada, não se lembrava de nada, não tinha memória de nada e ficámos a saber que era um homem muito ocupado, mas que pelo que temos vindo a saber, nunca se ocupou daquilo que tinha que se ocupar. Percebemos que nas funções que lhe estavam acometidas, foi um falhado, não foi um ocupado.
Constâncio foi constante, como o próprio nome o quer significar, em se ocupar de não se ocupar daquilo que tinha que se ocupar. Neste aspeto foi firme, perseverante, teve firmeza de ânimo. Passando por Oliveira e Costa, Rendeiro, Ricardo Espírito Santo há um padrão de constância em que Berardo é um mal menor. O problema foi de quem deu o aval às operações. Enquanto continuar a haver quem autorize, haverá sempre Berardos. O problema ainda maior é quando quem autoriza e supervisiona, quem se devia ocupar e não se ocupa do que devia, ainda é promovido por falhar. Constâncio foi para o BCE por não se ocupar.
Enquanto houver Constâncios, haverá sempre Berardos, Oliveiras e Costas, Rendeiros e Ricardos.
A falha é uma constância atual que nada tem a ver com a Constança da derivação medieval.
