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Carta Pastoral

Vamos viver novo ano litúrgico – Voltados para a esperança

Terminamos, com a Solenidade de Cristo Rei, a série dos domingos de um ano litúrgico, ciclo B e preparamo-nos para, com o I Domingo do Advento, iniciar um outro ano, este do ciclo C, que nos vai trazer a visita regular do Evangelista S. Lucas, nas assembleias do Domingo.

De olhos postos no Jubileu de 2025

Este novo ano de celebração da nossa Fé que estamos prestes a iniciar, à partida, vem focado no horizonte do Grande Jubileu Ordinário de 2025. E nós queremos experimentar, com este Jubileu, que a esperança não engana, como lembra o Papa na  Bula da proclamação, citando o Apóstolo Paulo, na Carta aos Romanos, onde nos diz que “a esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado” (5,25).

Por isso, desejamos colocar-nos a caminho, quais peregrinos da esperança, sabendo que a peregrinação é componente fundamental da nossa vida na terra, onde não temos morada permanente, mas sabemo-nos a caminho para o encontro com Deus Pai, que sempre nos acolhe de braços abertos, no calor da Sua Misericórdia infinita.

O Jubileu convida-nos a que, na peregrinação da vida, em primeiro lugar, cada um e cada uma de nós atenda à sua pessoa e procure dar a resposta da conversão que a Palavra de Deus nos pede. Para que isso aconteça, “nas Igrejas particulares deve ser dada uma atenção especial à preparação dos sacerdotes e dos fiéis para as confissões e para o acesso a este Sacramento, na sua forma individual” (Bula, nº 5, §2º).

Depois, pede-se que seja dada a devida atenção às pessoas nas suas distintas situações, para que possam descobrir como a companhia de Deus, com a Sua Misericórdia infinita, é o grande conforto e fonte de esperança  de que todos precisamos, e particularmente os que experimentam maior sofrimento e tribulações especiais. Entre essas pessoas, o Jubileu quer lembrar os presos, os doentes e quem deles cuida, os jovens, os migrantes e refugiados, os mais vulneráveis e, em geral, os pobres.

Com é tradição, também este Jubileu faz alguns apelos para que a novidade de Deus se faça sentir na vida das pessoas. Um deles parte do princípio do destino universal dos bens da terra e pede que os países, sobretudo os mais ricos, se ponham de acordo quanto a constituir um Fundo Global contra a Fome (nº 16, § 1º). Lembramos, a propósito,  que esta mesma proposta acaba de ser feita, no encontro mundial do chamado G 20 (Grupo dos países mais ricos do mundo a que se juntam os das economias emergentes) que está a realizar-se no Rio de Janeiro.

Volta, de novo, com este Jubileu, o pedido do perdão das dívidas dos países mais pobres e individados do mundo; dívidas que, de facto, se as relações multilaterais se mantiverem, nunca poderão ser saldadas; para já não falar da dívida ecológica (Bula, nº 16, § 2º).

Viver o Jubileu é também aproveitar os benefícios da Indulgência que lhe está ligada e atualiza a Salvação que Deus oferece a todos, incluindo aqueles que já cumpriram o seu percurso na terra e se encontram em estado de purificação, para que neles sejam desfeitas todas as consequências do pecado e possam chegar à plena comunhão com Deus, na eterna Bem-Aventurança. E a esse propósito, lembra-se-nos que “a indulgência permite-nos descobrir como é ilimitada Misericórdia de Deus” (n.23), e que os santuários marianos sejam lugares sagrados de acolhimento e espaços privilegiados para gerar a esperança  (nº 24).

Em Roma há quatro Basílicas que abrem as sua Porta Santa para acolher os peregrinos jubilares; na nossa Diocese a única Igreja Jubilar aonde somos convidados a peregrinar para acolhermos os benefícios da indulgência ligada ao Jubileu vai ser a nossa Catedral. Para ela estamos a programar  peregrinações variadas, as dos arciprestados em datas a calendarizar, mas também outras, de sectores bem determinados da nossa vida em Igreja e em sociedade. Procuraremos organizar-nos para que, na preparação de cada uma das peregrinações calendarizadas haja tempos e lugares de acolhimento, atendimento para o Sacramento da Reconciliação e para o anúncio da Misericórdia, segundo as determinações sobre a Indulgência. Também procuraremos valorizar a tradição tão importante que nós temos do Sagrado Lausperene, no propósito de tirarmos o máximo dos benefícios deste Jubileu. Atempadamente será publicado o calendário das várias iniciativas que acontecerão na sequência da abertura da Porta Santa na nossa Catedral, que terá lugar no dia 29 de dezembro, por expressa determinação da Bula de proclamação do Jubileu “Spes non confundit”.

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O novo Itinerário de Iniciação Cristã de Crianças e Adolescentes com as famílias

Pela frente temos também a tarefa de compreender e fazer compreender, para o pôr em prática, o novo Itinerário de Iniciação Cristã de Crianças e Adolescentes com as famílias.

Trata-se de uma proposta que procura promover o verdadeiro encontro com a Pessoa de Jesus Cristo, o qual é muito mais do que os conteúdos de doutrina que possam ser comunicados ou os  comportamentos morais que sejam propostos e incentivados. Por isso, o modelo inspirador deste Itinerário é o Catecumenado, essa escola de Fé que, desde o início, pretendeu formar cristãos, que conheçam os conteúdos da Fé, mas sobretudo tenham opções de vida a condizer com eles e façam progresso pessoal contínuo na experiência do Mistério de Cristo. Para tal, o Itinerário propõe que se faça o primeiro anúncio na etapa da iniciação à vida cristã, passando depois à Mistagogia, ou seja, do aprofundamento da experiência do Mistério de Cristo para chegar à maturidade do discípulo missionário. Acrescentando-lhes o despertar na Fé, temos aqui as 4 etapas em que se desenvolve todo o Itinerário de iniciação à vida cristã das primeiras idades.

Todo este processo só pode cumprir-se se o trabalho do catequista for complementado pelos contributos da comunidade cristã e das famílias. De facto, se “a comunidade da Fé é a origem, o lugar e a meta da catequese (Diretório da Catequese, nº 133), “a família cristã constitui o lugar natural da iniciação à vida Cristã” (Itinerário, nº 11).

Ora, o Departamento Diocesano da Catequese da Infância e da Adolescência já está a desenvolver importante trabalho, sobretudo para levar aos catequistas e seus Párocos a novidade e a importância deste Itinerário. Depois de, nas Jornadas Nacionais de Catequistas, realizadas em Fátima, a Diocese da Guarda se ter feito representar com 55 catequistas, houve esforço significativo para levar ao conjunto dos implicados no serviço da catequese a informação básica  do que se pretende e sobre os instrumentos de que vamos dispor, bem como sobre o necessário envolvimento das famílias e das comunidades em todo o processo catequético. Ao mesmo tempo, crescemos na consciência de que o novo Itinerário pede também uma formação básica para todos os catequistas e temos já um bom instrumento para essa formação, que é o livro “Ser Catequista”. Precisamos que todos os catequistas, com apoio dos respetivos Párocos e do nosso Departamento da Catequese da Infância e Adolescência, sigam em frente por este caminho de garantir a formação necessária para todos.

O que nos pede o Sínodo sobre a sinodalidade

O texto conclusivo da II Assembleia Sinodal sobre a sinodalidade, que ocupou todo o mês de outubro, em Roma, não pode deixar-nos indiferentes, ao longo deste ano e já no imediato.

Nele encontramos propostas dirigidas a toda a  Igreja, que, por expressa vontade do Papa, não precisam de qualquer autorização adicional subsequente, como tem acontecido com os eventos sinodais até agora realizados, cujas conclusões, uma vez entregues ao Papa, têm constituído objeto de uma Exortação Apostólica pontifícia. Por isso, queremos considerar bem estas propostas e introduzi-las o mais possível nos nossos comportamentos de vida em comunidade.

O Sínodo convida-nos a implementar três grandes conversões, que são muito decisivas para a vida das pessoas e das comunidades, dentro da Igreja, mas também fora dela, de tal maneira que, ao aplicá-las, as nossas comunidades possam exercer o seu múnus profético em relação à sociedade civil, na sua organização e no seu funcionamento.

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A primeira é a conversão das relações.

E começa pelas relações que devem existir no núcleo constituído pelos que são portadores do Ministério Ordenado em cada Diocese – o Bispo, os Presbíteros e os Diáconos.

Sublinha depois o cuidado que deve existir nas relações deste núcleo do Ministério Ordenado com os outros ministérios, sejam os instituídos, que na Diocese da Guarda ainda não temos, ou os de nomeação pela competente autoridade eclesiástica, com alguma estabilidade, sejam as relações com os fiéis leigos, aos quais precisamos de oferecer as condições devidas para o exercício dos seus direitos e responsabilidades.

Outra conversão pedida é a conversão dos processos.

Os processos aqui contemplados remetem-nos para percursos de vida em comunidade que precisam de ser sempre cuidados para não deixar ninguém de fora ou defraudado. Esses percursos começam no discernimento eclesial, continuam por caminhos conducentes às decisões e completam-se com  a prestação de contas (acountability) e a avaliação.

Para progredirmos nesta conversão dos processos, recomenda-se que valorizemos o mais possível os instrumentos de participação, a começar por aqueles que o Direito já prevê, nomeadamente o Sínodo Diocesano, os Conselhos Diocesanos de Pastoral e Presbiteral, os Conselhos Pastorais Paroquiais e Interparoquiais, os Conselhos de Assuntos Económicos, o Diocesano e os Paroquiais.

Refletindo sobre modos de levar a atitude sinodal a todas as dioceses, para cada uma delas valorizar o mais possível os diferentes processos, a Conferência Episcopal Portuguesa, na sua última Assembleia Plenária, insistiu na revalorização de dois instrumentos de caminho sinodal. Um deles, são as Comissões sinodais diocesanas e sua articulação com Comissão Sinodal da mesma Conferência Episcopal. Outro., são os Conselhos Pastorais Diocesanos, propondo um encontro nacional destes conselhos para troca de experiências e procura conjunta das melhores metodologias.

Esperamos poder dar a melhor resposta, nos próximos tempos, a estes e outros desafios que o Sínodo nos deixa, procurando progredir na promoção do máximo envolvimento de todos na vida das comunidades, incluindo a Diocese.

A última conversão que o Sínodo nos recomenda é a conversão das ligações.

Esta recomendação parte do princípio de que a Igreja se realiza principalmente na Igreja Particular ou Diocese, com suas paróquias, movimentos e serviços, e ainda outras instâncias de organização própria, mas a colaborar no todo diocesano, como são as comunidades de Ordens Religiosas, Sociedades de Vida Apostólica ou outras vocações de serviço à comunidade.

Mas nenhuma Igreja Particular pode esquecer a sua ligação às outras Igrejas Particulares ou Dioceses, porque todas são chamadas à comunhão e à partilha de dons entre elas. E, para esta finalidade da comunhão e da partilha, há mediações concretas, umas já previstas no Direito e outras a desenvolver. Entre essas mediações estão as Conferências Episcopais, as Províncias Eclesiásticas e outras Assembleias Eclesiais situadas acima das Conferências Episcopais, como aconteceu, no processo deste Sínodo, com as Assembleias Eclesiais continentais. Aqui se situa principalmente o serviço da comunhão e da unidade que pertence ao Sucessor de Pedro, o Papa, coadjuvado por outros órgãos, nomeadamente a Cúria Romana.

Campanha de Advento a favor da Terra Santa

Os dramas internacionais a que estamos a assistir têm necessariamente de nos interpelar.

A presença da Igreja nos territórios martirizados da Terra de Jesus corre, de facto, o risco de se extinguir. Por isso, nos chega o apelo para organizarmos uma campanha de Advento para angariação de fundos com vista à subsistência das comunidades cristãs que vão resistindo nestes territórios, cuja memória cristã tem grande significado para toda a Igreja.

Sendo assim, à semelhança do que temos feito com a renúncia quaresmal, pedimos também agora esforço de renúncia a algo, durante este Advento, para minorar o sofrimento dos nossos irmãos na Fé que vivem nestes territórios; e que entrega dessa renúncia se faça no IV Domingo do Advento, à semelhança do que temos feito com a renúncia quaresmal.

Guarda, 24.11.2024, Solenidade de Cristo Rei

+Manuel da Rocha Felício

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