As últimas décadas da monarquia constitucional

As últimas décadas da monarquia constitucional

A monarquia entre as décadas de 1850 e 1880Em 1851, ocorreu em Portugal um golpe de Estado liderado pelo duque de Saldanha, que deu origem a um novo período na vida política portuguesa, que ficou conhecido como Regeneração. Um dos principais rostos desta nova fase do país foi António Maria de Fontes Pereira de Melo, que entre os anos de 1851 e 1886, ocupou “os postos de ministro da Fazenda, das Obras Públicas, da Marinha, da Guerra, de Presidente do Conselho, de deputado e Par do Reino”. As políticas que encetou, que ficaram conhecidas “sob a forma de um «ismo» – o «fontismo»”, procuravam desenvolver um país bastante atrasado, sobretudo nas suas vias de comunicação deficitárias, mas também na precária tecnologia que tinha ao seu dispor quando comparado com outros países da Europa. Deste modo, procurava-se “a criação dos primeiros serviços postais e telegráficos assim como a realização de grandes infraestruturas viárias e ferroviárias”.De facto, as medidas colocadas em prática por Fontes Pereira de Melo fizeram com que se reduzisse o atraso em Portugal nas mais variadas áreas. Para além de ter construído inúmeras vias ferroviárias, que “em 1884 já ultrapassavam os 9000 km”, o fontismo desenvolveu também as linhas ferroviárias, instalou o telégrafo e o telefone, reduziu as taxas alfandegárias das importações e virou a agricultura para a produção tendo em vista exportação, sobretudo para França e Inglaterra, de produtos como o vinho, a cortiça e os frutos secos. Para além disso, procurou ainda o desenvolvimento industrial através do aperfeiçoamento tecnológico.Contudo, apesar das tentativas de colocar Portugal mais perto das potências europeias, a verdade é que “o fontismo não conseguiu gerar um ciclo de industrialização nem de transformações estruturais”. A indústria mantinha o seu atraso, fruto da falta de recursos humanos e de matéria-prima. Para além disso, o mercado interno era fraco, pois “ora lhe faltava o poder de compra, ora optava pela produção estrangeira”, o que tornou o país dependente do capital estrangeiro. Num país que se queria mais desenvolvido a nível industrial, era a agricultura que continuava a “ser a base da produção nacional”.Na tentativa de contrariar todas as dificuldades económicas que advinham de um desenvolvimento não consumado, Portugal socorreu-se, para fazer face às despesas, a empréstimos no estrangeiro, sobretudo aos londrinos da casa Baring & Brothers. Em 1890, este banco declararia falência, o que tornou ainda mais difícil a missão de suster o défice orçamental.Após o sentimento otimista que se tinha gerado com a Regeneração, o espírito do país entrou em decadência em meados da década de 1870. No entanto, as cidades tinham crescido e, de certa forma, as zonas urbanas apresentavam-se mais instruídas, o que fez com que proliferassem jornais que ajudavam à formação de uma opinião pública.Um dos indicadores da consciencialização do que se passava na vida política em Portugal assentou num grupo de jovens intelectuais, que ficou conhecido como «Geração de 70». Este grupo procurava agitar a população, e não se coibiam de criticar o estado do país. Deste modo, denunciavam “a incapacidade das elites portuguesas em promover uma modernização económica e social, assim como uma democratização política”. Para além disso, tocavam também em pontos como a Educação, a influência da Igreja e a dependência de capital estrangeiro.Para além da «Geração de 70», foi também por esta altura que surgiu Rafael Bordalo Pinheiro, que em 1875 criou uma personagem caricatural conhecida como «Zé Povinho», uma figura que simbolizava o povo português, representado de forma humilde e bem-disposta, mas capaz de “denunciar renúncias e acordos da classe política”.Assim, as vozes de contestação à monarquia entraram no quotidiano das pessoas, e até ao seu fim, as críticas foram sendo constantemente lançadas.Em 1871, no governo liderado por Fontes Pereira de Melo, surgiu, devido à instabilidade política, a ideia de se criar um sistema rotativo partidário. José Luciano de Castro – figura cuja sua vida e obra política mais à frente desenvolverei – foi um dos principais defensores do bipartidarismo, que se deveria cingir a dois partidos, “um mais ou menos conservador, o outro mais avançado, mais liberal, mais democrático”, que alternariam o poder entre si.Este sistema teria o seu auge no período compreendido entre 1893 e 1906, ente Hintze Ribeiro, chefe do Partido Regenerador, e José Luciano de Castro, chefe do Partido Progressista. O facto de este sistema estar entregue a duas personalidades e a população sentir que a política parecia servir apenas uma pequena elite foi desgastando a Monarquia Constitucional Portuguesa. O rei era também visado nas críticas, uma vez que era o máximo responsável pela situação do país.

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