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As últimas décadas da monarquia constitucional

As últimas décadas da monarquia constitucional

De 1880 ao fim da Monarquia em PortugalAs críticas e os golpes de estado ocorrem quando há um grande descontentamento da população. A conjetura que deu origem à implantação da República a 5 de outubro de 1910 não foi exceção.As condições de vida da esmagadora maioria da população eram precárias. Pode-se considerar que “os portugueses viviam à beira da bancarrota”. Os agricultores, sem conseguirem produzir nas suas terras produtos que lhes dessem lucro, “procuravam, fora da pátria, o sustento que esta lhes negava”. Nas cidades, o operariado vivia em condições extremamente precárias, com frágil acesso à alimentação, maus alojamentos e uma elevada taxa de analfabetismo. A burguesia, mais instruída, ia conciliando “os magros salários com a vida digna que o estatuto lhes impunha”.Deste modo, apenas um pequeno círculo da Alta Burguesia, com ligações ao governo, ia fugindo às debilidades financeiras.Assim, com o descontentamento a acentuar-se cada vez mais, começaram a surgir ventos de mudança, com as pessoas a mostrarem-se mais abertas a outras ideias, como o republicanismo e o socialismo.Em relação às ideias republicanas, surgiram em Portugal pela mão do Partido Republicano. Fundado em 1876, foi aproveitando a crise económica e o descrédito dos sucessivos governos para tecer duras críticas à monarquia e, aos poucos, foi ganhando adeptos. Os seus ideais eram sobretudo apoiados nos grandes centros urbanos, e a subida de apoio que foi tendo fica demonstrada com a percentagem de votos que foi alcançando na capital, com “6% dos votos em Lisboa, em 1879; 33% em 1884”.O Ultimato Inglês foi um dos momentos que o Partido Republicano soube capitalizar a seu favor. Portugal tinha a ambição de ligar os territórios de Angola e Moçambique, e esse objetivo foi “simbolizado nos mapas da época por uma larga faixa cor-de-rosa em África: daí o seu nome de Mapa Cor-de-Rosa”. Portugal chegou a enviar exploradores para o território africanos, como o major Alexandre de Serpa Pinto, e também forças expedicionárias. Contudo, as ambições portuguesas chocavam com as pretensões britânicas de ligar o Cairo ao Cabo, o que fez com que a 11 de janeiro de 1890 Portugal recebesse aquele que ficaria conhecido como o Ultimato Inglês. O governo português acabou por ceder, “a fim de evitar a rutura da «velha aliança» com a Inglaterra”.Tal decisão despoletou inúmeras críticas à monarquia e os portugueses viam o seu orgulho patriótico ferido. Pelas ruas, “sucederam-se os tumultos e as manifestações anti-inglesas, a par de exaltados comícios patrióticos, onde se responsabilizava a monarquia por mais esta humilhação”. O Partido Republicano aproveitou também toda esta situação e procurou afirmar-se “como o único defensor dos interesses nacionais”.As manifestações e tumultos contra a monarquia cresceram de tal forma que, a 31 de janeiro de 1891, houve, no Porto, a “primeira tentativa de derrube da monarquia”. Não houve sucesso nesta revolta republicana, mas, “apesar de ter sido reprimida com facilidade, alcançou uma enorme repercussão política”.Toda esta situação parecia colocar tudo em causa: “a independência do país, o regime constitucional, as finanças”. O rei, consciente da contestação, prometeu reformas, mas foi sobretudo a partir deste período que o sistema rotativo fez parte do quotidiano nacional, como já anteriormente referido.O bipartidarismo acabou em 1906. Nesse ano, o rei D. Carlos nomeou João Franco como chefe do Governo, e este optou por implementar, em 1907, uma ditadura, censurando a imprensa e reprimindo a população. A repressão caiu também “sobre alguns destacados republicanos, com a conivência do rei”.Tal situação levou a um extremar de tensões e descontentamento que teve como consequência o regicídio, quando foi assassinado “a tiro o rei e o príncipe real D. Luís na tarde de 1 de fevereiro de 1908”.Deste modo, subiu ao trono D. Manuel II que, afastando João Franco, tentou governar sem entrar em confrontos com os opositores, sobretudo os republicanos. Contudo, esta postura não foi “suficiente para lhe escorar o trono”.Na noite de 3 para 4 de outubro de 1910, começaram-se a realizar movimentações no sentido de deitar abaixo a monarquia. Durante a tarde, “as tropas que se mantinham fiéis à monarquia renderam-se”. A revolta ficaria selada a 5 de outubro de 1910, quando “às dez horas da manhã, a República foi proclamada na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, ao som de A Portuguesa”. Deste modo, D. Manuel II era substituído pela República Portuguesa que, a par com a República Francesa, se tornou “uma das duas únicas repúblicas modernas na Europa”.

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