Curioso este tempo seguinte às eleições legislativas. Impensado por tantos; pressentido por muitos; desconsiderado por outros.
Os resultados permitem análises inúmeras e quase sempre descoincidentes. Aventam- se possibilidades e infinidades. Alguns cidadãos- comuns- alvitram cenários e futuros, não escondendo lamentos e tormentos; outros cidadãos- comuns- não enjeitam os contentos e as esperanças. Todos os cidadãos quererão um amanhã melhor, sem dúvida: “claro que com os Meus; com os Teus, não, com os Meus; nada disso, com os Vossos, pior, com os Nossos!..” É pois nesta lógica-ilógica que se posicionam os diferentes partidos!
De facto, a cultura de confronto e de dualismo puro e duro e agressivo- a sempre eterna defrontação esquerda/direita- está aí mais do que nunca, numa deriva prolixa, logo inconsequente. Bem sabemos que o ser humano para se organizar precisa de hierarquias e de um sentimento de pertença que um determinado grupo de congéneres lhe oferece, mas daí a agir sempre em função dele, quase que cegamente, vai um passo do tamanho do nosso Portugal. Os partidários como que ficam formatados num determinado registo de pensamento e de lá não saem, mesmo perante qualquer evidência, e mundividência.
As soluções apresentadas (quando acontece!) pelos partidos são só deles e não podem ser conjugadas, como se a verdade fosse só a sua verdade: a verdade de cada qual. Teiam-se alianças de blocos para se oporem a outros blocos e os consensos producentes tão necessários para os destinos pátrios esboroam-se na tessitura da dialéctica ferina. Encenam-se poses e tons que desembocam, uma e outra vez, nos bons e sabedores contra os maus e desconhecedores. E tantas ideias superlativas, que podiam operar na realidade concreta das pessoas, são anatematizadas pelo outro lado. Outras mais são como que cativadas pelas partes, como se fossem de sua propriedade exclusiva.
Veja-se e reflicta-se numa questão concreta (poderiam ser outras e em sentidos diversos): a votação do orçamento; como os partidos se posicionaram ainda antes de ser apresentado e conhecido… numa tónica de que, da outra banda, nada de novo ou recomendável!..
Aos poucos, os partidos falam cada vez mais para os seus eleitorados e menos para o país. Falam de si para si numa circularidade inoperante (até castrante), e quando o não fazem menosprezam os adversários farsantes. No seu pensar bem delimitado (ainda que ilimitado) crêem que só eles e os seus são capazes das maiores façanhas e resenhas: dos outros só a errância do caos que virá fatidicamente. No fundo, pensam que a alternância democrática- benigna e benéfica (algo elementar, desejável e saudável da democracia) só a deles próprios…
Vivemos tempos desafiantes e desafiado… o excesso de ideologia, o excesso de presença, o excesso comunicacional conduzir-nos-ão inexoravelmente (como que um pré-destino) a populismos absorventes e malfazentes, a conflitos permanentes e pungentes.
Talvez e ainda precisemos dos partidos enquanto garantes do normal funcionamento da democracia como tal e das instituições que lhe dão o respirar vital; mas não precisamos dos partidos que se entrincheiram em lutas viscerais (e numa espécie de demanda autofágica) que irá desmoronar a sociedade como a vivemos e entendemos, agora.
O importante e tão em falta Bom-senso levaria com certeza, a consensos moderados operantes, carregados de silêncios actuantes e significantes; e Portugal, e todos nós, ganharíamos com tal.
Almejamos ardentemente soluções! Inutilmente e… caminhamos para dissoluções!..