No mês de abril, em que acabámos de entrar, começa sempre pelo conhecido dia mentiras.
Desde que me conheço foi sempre assim. Mesmo em todos os meios de comunicação social aparece sempre uma galgazinha, muito embora estes tenham o cuidado de no dia imediato esclarecer a verdade e a razão da mentira, que mais não era do que cumprir a tradição. No dia que se segue, no caso deste ano, já é um dia de maior recato, onde o Mundo Católico se verga sobre a Paixão de Cristo. Estamos a falar de Sexta-Feira Santa, também conhecida por Sexta-Feira Maior. Por muitas localidades acontece, já pela noite adiante uma cerimónia denominada o Enterro do Senhor, só que nos tempos que correm e devido ao estado pandémico que varre o mundo, em Portugal e em muitos outros países as cerimónias religiosas foram alteradas no seu contexto. Segue-se Sábado da Aleluia, em que Cristo ressuscita, depois de todo o martírio que passou. Lembro-me que em meados do século passado, em que a nossa população era maioritariamente rural e analfabeta, quando trabalhavam no campo, ao ouvirem as dez badaladas matinais, em qualquer sino de relógio de torre, atiravam com as ferramentas de trabalho e gritavam, Aleluia! Aleluia! Ressuscitou Nosso Senhor.Este ritual acabou à mediada em que os idosos afeitos a esta prática foram partindo. Já se não vê e todas a cerimónias que envolvem a ressurreição de Cristo têm lugar no dia da maior festa da Igreja Católica, que é no Domingo de Pascoa, no dia quatro de abril.A Páscoa tem o seu próprio calendário, embora móvel. Neste espaço, a seguir à Páscoa, mais comemorações religiosas acontecem, como a Pascoela, logo no domingo seguinte, vem depois quinta-feira da Ascensão e o Pentecostes. Mas abril é tempo de mudança, foi na política em mil novecentos e setenta e quatro, mas já nos anos cinquenta do século passado, com o patrocínio do Estado Novo e pela mão de Amália Rodrigues, a embaixatriz de canção francesa ao tempo, Yvette Giraut fazia ouvir nas luxuosas salas de espectáculos do Mundo, em versão francesa “Avril au Portugal” e que se tornou a melhor propaganda turística para Portugal florido, um pouco mais à frente que os restantes países europeus, em especial os que estão mais a norte.Hoje abril para nós é sinónimo de liberdade, se bem que nestes dois anos pandémicos não tenha acontecido, a democracia em que vivemos tem feito o Povo sair à rua e os políticos entrar no hemiciclo de São Bento para saudarem os operários da liberdade, designação que eu dou aos que tal como eu, estiveram na aurora do democratismo.Este dia festivo está numa fase decadente, pois as novas gerações não viveram no tempo que antecedeu o dia da liberdade e o tempo que o precedeu, logo não podem comparar, por outro lado os mais idosos como veem fragilizar a sua saúde culpam a administração pública pela agilidade que foram perdendo ao longo do tempo.Também ficou lesado o culto de São Marcos, evangelista, pois devido às cerimónias nacionais, não sai à rua em procissão no seu próprio dia.Mas acima de tudo abril é alegria para a própria natureza, tudo o que tem vida se manifesta nesta estação para que cada espécie se vá reproduzindo. Acima de tudo sobressai a fauna alada, que com os seus cânticos em melodia enaltece os sentidos daqueles que vão gozando o silêncio dos campos. A agricultura torna-se muito mais verdejante, as searas vão subindo dia após dia, os pomares vão deixando cair a flor para mostrar o fruto, e o que é gerado debaixo da terra vai engrossando no que concerne às colheitas mais temporãs.Nós vamos deixando as roupas de inverno em casa, muito embora por vezes nos apeteçam.Por aqui fico. Até meados do mês corrente.