Cá estamos nós a atingir o final do ano de dois mil e vinte e três.
Com toda a naturalidade entramos na quadra natalícia que por força do calendário também encerra o ano civil.
No dia da data deste jornal é o último dia do outono, pelo que no dia seguinte será o solstício de inverno, que dará início à estação do ano mais afamada pelo frio, mas que em contrapartida nos traz os festejos que nos enchem de calor humano
Logo nos primeiros dias chega a conhecida festa da família, estou a falar do Natal, que faz deslocar multidões para reunirem com a família na noite da consoada. Estou-me a referir aos tempos de hoje, em que a mobilidade é outra e os recursos económicos têm outra dimensão.
Se eu recuar a meados do século passado, de que ainda me lembro. A maioria da população da área onde eu me criei era rural, de modos que depois de uma ceia serena havia um tempo de espera até que se ouvissem as doze badaladas da meia-noite para que o povo passasse a entoar a cantiga que todos sabiam: “Alegre-se o céu e a terra, cantemos com alegria, Já nasceu o Deus-menino, filho da Virgem Maria”. Era a hora da missa do galo também bastante concorrida, mas a força da população juntava-se junto do madeiro, onde o pessoal se ia aquecendo por fora e por dentro, pois o vinho novo já estava bem cozido.
As crianças deitavam-se mais cedo, pois também sabiam que ao amanhecer tinham que ir ver o sapatinho, para recolherem o que o Menino Jesus lá havia deixado depois de ter entrado pela chaminé. Tudo isto bem fortalecido na crença da meninice, que haviam passado o ano inteiro à espera desta pródiga manhã, por muito pouco que fosse.
O Natal tinha a sua representatividade nos mais diversos locais, desde da casa mais humilde até às igrejas, estou a falar do presépio e da árvore de natal, símbolos que dentro do catolicismo ainda se vão mantendo. Permaneciam activados até ao dia de Reis que se celebra a seis de janeiro. Para tristeza de muitas crianças era desmontado no dia seguinte, em sete, portanto no dia imediato.
No tempo de que vos falo os festejos do Natal eram nestes moldes, pois no próprio dia havia uma missa solene e cada um saía à rua com a melhor vestimenta e mais adequada ao tempo que tinha por casa.
Não havia e também ainda não há, a figura do pai-natal dentro de espírito natalício de que vos falo. Hoje é o rei da festa que anima as crianças à sua volta com o intuito de receberem uma prenda de outro quilate. Este facto, no meu ponto de vista, deve-se ao poder comercial que aposta na publicidade para a venda de produtos mais lucrativos. Mas o mundo está em constante evolução e tudo se vai modificando. Eu próprio já fiz de pai-natal para animar os mais pequenos em certos eventos alusivos ao Natal.
Outra data em que as celebrações se modificaram foram as da última noite do ano. Sou do tempo em que se ouviam pela calada da noite o cantar das janeiras. As quadras dedicadas aos moradores sempre improvisadas tentavam daí obter a melhor dádiva. Para o efeito arranjam-se instrumentos que apenas marcavam o ritmo. Lembro-me também do tempo em que os desportistas tinham os ouvidos na rádio para ouvir o resultado da corrida de São Silvestre na maior cidade lusófona.
É evidente que já há muitos anos que se não cantam as janeiras e a noite da passagem de ano é um dos maiores festejos do ano. Tudo é escolhido para que seja do agrado de todos os que estão. Da ementa à animação tudo tem de ser de bom agrado. Esta festividade é dada designação de “réveillon” e eu por sinal ainda me recordo do primeiro que vivi. Foi na região parisiense na cidade de “Lagny-sur Marne”. Foi na passagem de ano de sessenta e nove para setenta, a dois dias de atingir dezanove anos de idade. Não estava nem de longe nem de perto habituado aquelas andanças. Não me vou esquecer pois foi bastante romântico, o que fez com que eu passasse aquela noite e a seguinte sem ir à minha cama.
Por aqui fico! A todos, eu desejo um feliz Natal e um próspero Ano Novo. Espero voltar a quatro de janeiro já com mais um ano na minha conta pessoal.
Até lá, haja saúde!