Umbigos todos temos um, diferentes naturalmente.
Há-os para todos os gostos, grandes, pequenos, feios, bonitos e tudo o mais que possamos dizer deles.
Quanto à dimensão, há quem olhe para o seu umbigo e o veja como um ponto no próprio corpo, enquanto outros, ao fazerem o mesmo exercício visual, apenas veem o corpo como um ponto no respetivo umbigo.
Esta noção de dimensão poderá resultar de um erro de visão ou simplesmente da dificuldade de ver que os outros também têm umbigo. Também há erros na perceção em que se situa a proporcionalidade de cada uma das partes, a do corpo e a do umbigo. As diferenças sobressaem com alguma frequência no dia-a-dia, mas ganham especial notoriedade na atividade política.
Talvez tenha sido por uma questão de perceção e de umbigo que PS, PCP e BE chumbaram, na semana passada, a recuperação do tempo de serviço dos professores com responsabilidade e sustentabilidade, embora por razões diferentes. O BE e o PCP queriam a irresponsabilidade, o PS não queria uma coisa nem a outra, o objectivo era – e ainda é – usar eleitoralmente os professores.
Nesta espécie de jogo, cada um dos partidos quis afirmar que tinha um umbigo maior do que o do outro, em vez de se empenhar na procura de uma solução que conciliasse os direitos profissionais com os interesses do país. Preferiram manter um estado de tensão latente que em nada beneficia os alunos e as escolas.
Com esta atitude inflexível defraudaram-se as legítimas expectativas dos docentes e a possibilidade de se desenvolver, a partir daí, um processo negocial que combinasse as diversas variáveis que poderiam entrar em jogo, como é o caso da antecipação da aposentação dos docentes, por abdicação, parcial ou total, do tempo de serviço disponível para recuperação.
Com a inflexibilidade que levou ao chumbo, mais uma vez se adiou uma solução e se preferiu continuar a empurrar o problema para a frente, cada um com o seu umbigo.
A discussão centra-se hoje em saber quem empurrou mais ou menos e quem assim ganhou o jogo do empurrão. O assunto da recuperação do tempo de serviço dos professores foi reduzido só a uma questão de umbigo.
O teatro e a encenação política são outras componentes deste processo, onde também não tem faltado a incontornável mentira de quem tenta confundir a opinião pública para daí retirar dividendos para o próprio umbigo político.
Em nome da verdade e da transparência, é preciso dizer-se que o que está e esteve sempre em causa é A CONTAGEM DO TEMPO DE SERVIÇO para efeitos de carreira e aposentação e NUNCA por NUNCA qualquer pedido de RETROATIVOS referentes ao tempo do congelamento das progressões, iniciado pelo governo de José Sócrates e determinado pela sua bancarrota.
Definitivamente, o PS, BE e PCP não gostam dos professores, apenas olham para os seus próprios umbigos. Aquilo que se passou na votação da chamada lei dos professores, na especialidade, foi que todos os partidos, excepto o PS votaram a favor do princípio geral da contagem integral do tempo de serviço, mas depois toda a esquerda e extrema-esquerda unidas chumbaram as condições particulares que pretendiam juntar sustentabilidade financeira à forma como o processo se iria desenvolver.
O modo como tudo isto foi comunicado para o exterior gerou o ambiente propício à deturpação que se viu e que é tão frequente em política.
António Costa tem vindo a transformar a Governação do País numa espécie de jogo de bola. Quando a coisa corre bem, o que é raro, levanta a taça e festeja e quando corre mal deita-se ao chão a culpabilizar os outros e a tentar forjar um penalti. Enquanto isso, nós, os Portugueses, nada temos para festejar com a maior carga fiscal desde 1995.
Afinal, a austeridade não acabou, como nos andaram a dizer e a fazer crer de forma enganosa, e as contas públicas estão num enorme sufoco com a dívida pública a bater recordes todos os meses.
As contas públicas não são como o umbigo, em que cada um vê o seu. A dívida do país é nossa e todos vemos a mesma.