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A ocasião faz o ladrão

Não se tem falado noutra coisa! A imprensa escrita tem-lhe dado a primazia nos títulos de caixa alta, enquanto que a audiovisual se movimenta em constante competição para fornecer imagens e bitaites em primeira mão.

Perante esta situação o povo fica estupefacto, pois estamos a verificar sucessivos casos de corrompimento com a agravante de estar a entrar no nosso edifício democrático pelo telhado. O mesmo povo também sabe que em qualquer estrutura erigida quando a cobertura mete água, os muros que a suportam dão de si, e que se a reparação não acontecer a devido tempo, tudo acaba por desabar.
Aqui chegados, terei que dizer que farei a minha análise baseada na cultura de um povo em que a sua sabedoria se baseia na tarimba complementada pela sentença em provérbio e não em conhecimentos jurídicos devidamente fundamentados pelo Direito. Também não tenho a nível pessoal conhecimento de qualquer peça processual, de todo este emaranhado de casos de podridão social com que o país se tem confrontado para poder opinar sob o meu ponto de vista.
“Não há fumo sem fogo” afirma a filosofia popular perante situações onde se quer minimizar determinado ato entalado nas malhas da lei. Por outro lado também atesta “Muita parra e pouca uva” quando há o empolamento de qualquer ação que tenha movimentado curiosidade.
“Até ao lavar dos cestos é vindima” serve para aconselhar uma certa contenção a quem se exprime antes do tempo, sobre um assunto que ainda não tem o final conhecido.
O que aqui fica dito parece-me que tem toda a pertinência no momento conturbado em que vivemos, onde muitas vezes temos dissabores por estarem envolvidas nestas acusações pessoas que mereceram a nossa confiança. A sensação vivida posteriormente é um constante dilema, pois nem sequer sabemos se estamos a ser vítima de traição ou de injustiça.
Pelo que penso e escrevo, bem agarrado à dita filosofia popular, tenho que aceitar a verdade nua e crua da velha máxima, “A ocasião faz o ladrão”. Determinada conjuntura pode-nos levar a esquecer a honestidade e daí a cair na tentação é um passo. Não é em vão que na oração primária dos crentes que cada um pede ao “Criador” este auxílio: “Não nos deixes cair em tentação”. O dinheiro é poderoso, consoante o seu montante assim reage a verticalidade humana, chegando por vezes ao ponto de a ilicitude se tratar como um negócio perfeitamente normal e passar tudo a ser só uma questão apenas de números.
O dinheiro fácil faz apodrecer os sentimentos humanos, bem como uma brilhante carreira profissional. E, ao que me parece, esta minha intuição é tão antiga quanto a sociedade, pois foi devido ao dinheiro, ou ao que lhe é equivalente que Judas se perdeu e também se gerou a mais antiga profissão do Mundo.
Como tudo na vida, há sempre um princípio, que na maioria das vezes quase nem entra na órbita da ilegalidade, só que o proveito conjugado com a ambição desmedida, rapidamente se chega de um edema a um temor maligno.
Também acredito que cada ser humano tenha o seu preço, sei que quem agrada de um tostão, muito mais rápido abraça um milhão. Embora tenha estes rompimentos como uma verdade, entendo eu que a melhor medida profilática que se deve tomar, é fugir à ocasião. Devemos ter a noção de que quando a mesma se proporciona, não temos na frente o melhor da vida, perdemos a dignidade, jogamos a liberdade e que a partir desse fatídico passo, a nossa consciência torna-se cada vez mais pesada e de cujo fardo não nos conseguimos livrar.
Há quem afirme que só o cumprimento de uma pena adequada reabilita a idoneidade. Muito embora eu entenda o alcance desta opinião, sou avesso ao seu conteúdo, porque quer se queira quer não, o motivo principal causa sempre danos irreparáveis.
Felizmente não vos fala a voz da experiência, apenas escrevi movido por certos princípios que me norteiam.                  

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