É com grande prazer que tenho a oportunidade de saudar o jornal “A Guarda” pelos 120 anos de serviço cívico em prol de toda a região. A imprensa regional tem, nos dias de hoje, uma função cada vez mais nobre. Numa época em que somos cercados por informações distorcidas, os meios locais emergem como faróis de autenticidade. À escala local e regional, esse papel essencial é desempenhado pelo Jornal “A Guarda” e por meios de comunicação similares que, com grande espírito de missão e de sacrifício, cumprem esse desígnio tão importante da defesa da verdade.
Proximidade é a palavra-chave quando falamos da imprensa regional. Ao contrário dos meios de comunicação nacionais, a imprensa regional está enraizada no seio da própria comunidade que serve. Essa proximidade permite-lhe ter uma compreensão profunda das necessidades e interesses da população local e, ao mesmo tempo, possibilita – assim haja meios! – uma cobertura mais rápida e precisa dos acontecimentos locais. Ninguém sabe contar as histórias das pessoas como um jornalista local, que sempre viveu ao seu lado.
É notório que a generalidade dos meios de comunicação nacional só se interessam pelos territórios do interior quando algo de muito grave por aqui acontece. Quando há um crime mediático numa aldeia, quando rebenta um escândalo, o território é invadido pelas televisões e pelos jornais da capital, em busca das declarações mais inflamadas. Mas quando o assunto deixa de ser notícia, os holofotes desligam-se e as comunidades caem de novo no esquecimento.
A imprensa regional, por estar no terreno, oferece uma cobertura mais abrangente e contextualizada dos acontecimentos. Tem uma dedicação sincera à comunidade onde está implantada, aborda as questões específicas que mais interessam ao território e fornece assim uma perspetiva detalhada da realidade.
Não menos importante é o papel da imprensa regional enquanto veículo privilegiado de participação cívica. Muito mais do que apenas noticiar, os jornais são um espaço nobre para que todas as vozes sejam ouvidas. Através de editoriais, artigos de opinião ou simples cartas dos leitores, a imprensa regional suscita e estimula o debate público na comunidade e incentiva os cidadãos a envolverem-se de forma ativa nos assuntos que afetam as suas vidas, as suas freguesias e os seus concelhos.
No caso específico dos jornais do interior do país, onde a emigração para outros países – bem como a migração para o litoral do país – é uma realidade enraizada desde há muitas gerações, esta função é ainda mais importante. É pelos jornais locais que os emigrantes sabem do que se passa nas suas terras. Este envolvimento é um elo de ligação de valor inestimável, que gera um sentimento de pertença e de união entre a comunidade, mesmo a milhares de quilómetros de distância.
Enquanto presidente de uma entidade regional de turismo, não poderia deixar também de realçar o papel decisivo da imprensa regional na promoção da atividade turística local. Com efeito, meios como o jornal “A Guarda” pautam a sua atividade pela divulgação das principais atrações turísticas, dos eventos culturais e das festas populares do território que servem, assim como pela defesa da gastronomia e do património histórico. Desta forma, prestam um serviço de enorme valor à comunidade, incentivando os visitantes a explorarem e a experimentarem o que a região tem para oferecer.
Bem sei que a imprensa regional enfrenta grandes desafios à sua sobrevivência. A diminuição das receitas de vendas em papel e da publicidade, a implantação das redes sociais e a transição para o meio digital têm ameaçado a viabilidade financeira dos projetos. São tempos difíceis para os jornais locais. Mas a imprensa regional, componente vital da democracia e do quotidiano das comunidades, tem sabido resistir e reinventar-se com enorme resiliência, criatividade e compromisso inabalável com a verdade.
Felicito o jornal “A Guarda” pelos extraordinários 120 anos de dedicação. Na figura do seu diretor, o Pe. Francisco Barbeira, cumprimento toda a equipa que o realiza. Que continuem o bom trabalho por, pelo menos, mais 120 anos!
Raul Almeida
Presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal