“A Guarda no mundo, o mundo na Guarda”

Gentes da Guarda

Homo sum: humani nihil a me alienum puto.*(P. Terentius Afer) O ser humano é um ser social e a quem nada do que é próprio do seu ser lhe é indiferente. Assim o pensou e escreveu esse grande escritor romano do século II a. C., nascido em África e que em Roma conviveu com esse outro agente da cultura romana, Cipião. Atribui-se-lhe a frase citada em epígrafe. É nesta linha de compromisso que estão escritos os textos de Pedro Miguel Cardoso. Ele é um cidadão consciente da sua cidade, do seu país e do mundo inteiro. Como civis (cidadão) da sua civitas (cidade) preocupa-se com tudo o ela precisa para crescer ou pelo menos para não decrescer. Assim, logo o primeiro texto representa a tentativa de chamar a atenção para a injustiça que foi a demissão de um guardense de coração e que tanto fez pela cidade. Teve razão, pois passado algum tempo esse guardense rumou a outros destinos descontente com a sua cidade. E a cultura na cidade entrou numa certa letargia. E também a fuga do ensino superior para outras bandas o levam a escrever a propósito, alertando para o vazio que se vai formando na Guarda. De referir ainda as preocupações ecológicas, a poda das árvores na cidade, as eleições autárquicas, etc..    Como homem político, o autor faz uma série de reflexões sobre o mundo e a sociedade actual. O perigo que corre a democracia ocidental, a igualdade entre os seres, a justiça, ou antes, a injustiça, são temas pertinentes e recorrentes na sua escrita. Assim, ele não é só guardense, é cidadão do mundo entrando com o seu espírito crítico nesta nossa sociedade digital. Mas, ao contrário de uma grande franja da população que se deixa adormecer pelas baladas soníferas da comunicação social, pensa, reflete e argumenta – às vezes com o coração –, na defesa de uma linha construtora e crítica. O que é necessário é mudar mentalidades e nisso o autor está na militância social da vanguarda: a mudança deve começar por cada um de nós e não ficar à espera dos outros e do que eles possam fazer em termos sociais. Daí que não seja difícil enquadrar o seu pensamento na Grécia da pólis. É urgente provocar o pensamento, a mudança, para melhor, claro está. Neste sentido, apesar de se perceber uma certa ideologia política por detrás, o seu pensamento é livre e capaz de propor alternativas sérias à politiquice que hoje vemos na nossa sociedade.     Este espírito crítico já era visível no ensino secundário, quando foi meu aluno, na Escola Secundaria da Sé, na Guarda. Lembro-me das suas intervenções pertinentes e críticas, quando nas aulas se abordavam temas sociais que a leitura dos livros do programa o permitiam. Relembro também a sua passagem pela Associação de Estudantes e a  intervenção na vida da escola. Essa predisposição juvenil para a participação ativa reflete-se hoje nestes textos que ora edita em livro. Se é um orgulho ver alunos nossos escrever, é-o ainda maior sabê-los interventivos na construção de uma sociedade que, como ele, queremos transformar numa sociedade muito melhor em que vivamos descansados e felizes.      Que o futuro que desenha nestes textos se concretize! Que a construção do seu pensamento se baseie na linha do que disse há tantos séculos o africano Terêncio e terá certamente muitos êxitos.     [Nota: O texto, com algumas pequenas alterações, é o prefácio do livro de Pedro Miguel Cardoso, com o título que serve de título a este texto. Irá ser apresentado na Guarda brevemente.]* ”Sou homem: nada do que é humano me é alheio.”

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