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“A Guarda”, 120 anos

Palavra de reconhecimento

Felicitamos o Semanário “A Guarda”, pela comemoração dos seus 120 anos de vida, ao serviço da Igreja e da sociedade.

Saudamos também a livraria e casa editora “Veritas”, pelo seu compromisso com o funcionamento regular deste Semanário.

Estamos perante um órgão de implantação regional e que quer afirmar-se, na forma como olha a vida das pessoas e da sociedade, pelo prisma dos valores cristãos.

Por isso, ao celebrarmos a notável efeméride destes 120 anos é importante olhar à história vivida, procurando retirar dela todas as lições que se impõem; mas é ainda mais importante olhar em frente, para o futuro que nos espera e que temos a obrigação de saber preparar bem.

Ora, nós sabemos que o futuro prepara-se aproveitando as lições do passado, mas principalmente com intuição profética, procurando identificar os dinamismos já presentes no hoje da sociedade e seu previsível desenvolvimento.

A análise da atualidade vai-nos dizendo que vivemos uma época de grandes mudanças, mas mudanças tão profundas que levam a pensar numa mudança de época, onde tudo é diferente e, no caso concreto da comunicação, com a rede relativamente nova do mundo digital.

Ora, o nosso Semanário também tem que saber posicionar- se diante desta realidade digital, que começa a ser cada vez menos nova. O que continua a estar em causa é o renovado compromisso com a verdade e com a justiça, para promover a autêntica dignidade das pessoas, nas novas circunstâncias que a todos nos envolvem.

E lembro agora três passos que devem ser dados no caminho da comunicação, para promover o bem das pessoas.

O primeiro passo é educar.

Comunicar não pode ser apenas informar; mas principalmente educar as pessoas, desde as gerações mais novas às de idade mais avançadas, procurando sempre desfazer muros e fazer pontes entre elas. E ajudá-las também a perceber que o digital e as redes sociais trazem-nos novas possibilidades, mas exigem discernimento, quanto ao seu uso. Não podemos ser ingénuos e, sobretudo, não podemos embarcar na tentação de, a partir do anonimato, semear o ódio e o conflito, em vez de procurar a comunhão.

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Também neste processo educativo se pode falar numa ecologia da comunicação ou seja, para além da surpresa e do impacto imediato das notícias, é necessário que com elas se vá ajudando os cidadãos a criar a sua visão equilibrada da vida e do mundo, tendo em conta os sentimentos das pessoas e dos grupos e mesmo do Povo que nós somos.

O outro passo é a defesa dos mais fracos da sociedade – pessoas e grupos. Isto, a começar pelos idosos, pelos menores e pelos que são portadores de especiais deficiências. A missão dos bons comunicadores é defender estas pessoas, por um lado, da invasão dos media digitais e, por outro, da sedução que em si leva a novidade pela novidade e sobretudo ajudando-as a recusar a tentação de faltar ao respeito pelos outros e quantas vezes por si mesmos, no uso destes meios. O que se pede a quem comunica é que saiba proteger, por palavras e por imagens, a dignidade de todas as pessoas, a começar pelos mais pequenos e pelos pobres, precisamente aqueles que são os preferidos de Deus.

Outro importante passo é o do testemunho em assuntos de verdade e de justiça, com vista a servir o bem de todos e de cada um. E aqui exige-se mesmo a atitude profética capaz de, por um lado, denunciar os erros e, por outro, propor caminhos ajustados ao bem de todos. Sendo assim, é necessário apontar, com coragem, as metas da fraternidade, sempre e em todas as situações, num mundo que parece cada vez mais resignado à lei do individualismo despótico e chamar a atenção para a realidade dos pobres e dos abandonados, num mundo da indiferença crescente. Trata-se de, com testemunhos ajustados, motivar as pessoas em geral para deixarem as suas zonas de conforto e assumirem a atitude do cuidado, pois nós ou somos os cuidadores uns dos outros ou então falhamos na nossa missão fundamental; e tudo isto com a coragem de assumir os riscos inerentes.

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Finalmente queremos, nesta hora celebrativa, lembrar ao Semanário “A Guarda” o exemplo do jovem recentemente beatificado Carlos Acutis, que foi verdadeiramente pioneiro no uso das novas tecnologias da informação para transmitir o Evangelho, com os valores nele inspirados, a começar pela beleza.

Confiamos também o nosso “A Guarda” à proteção do Padroeiro dos jornalistas S. Francisco de Sales – não é por acaso que anualmente o Papa escolhe o seu dia para publicar a mensagem sobre os meios de comunicação social. E pedimos a sua intercessão para o nosso Semanário, que, há muito, ultrapassou a barreira dos cem anos, a fim de que saiba percorrer e ajudar a percorrer sempre os caminhos da educação, da proteção dos mais indefesos e da defesa da verdade e da justiça, para bem de todos.

15.4.2024

+Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

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