No mês de Dezembro, que é dedicado ao nascimento de Jesus, lembrei-me de aflorar o tema da (in)diferença, que infelizmente também assola a sociedade portuguesa. Caímos na globalização da (in)diferença, habituamo-nos ao sofrimento dos outros e pensamos: não nos diz respeito, não nos interessa, não é da nossa responsabilidade.
O Papa Francisco está certíssimo quando nos diz que este é um dos maiores flagelos da actualidade. Na realidade, somos “seres de convivência” e a (in)diferença é a negação da nossa própria essência, na medida em que somos concebidos para a socialização, ou seja para interagir com os outros.
A globalização da (in)diferença tem contribuído para a invisibilidade e exclusão de milhares de seres humanos, que nas respectivas sociedades de pertença lutam diariamente para ter uma oportunidade: a tal visibilidade social que todo o ser humano tem direito. Em contracorrente, sabemos que há mulheres e homens que realizam trabalho voluntário e tentam melhorar o mundo, ao fazerem da sua vida uma construção de pontes para que ninguém seja deixado para trás.
Consumismo, individualismo e hedonismo parecem ser as molas mestras da satisfação individual. Grande parte dos Portugueses são atraídos para os centros comerciais, que são o paradigma duma modernidade que oferece toda uma panóplia de produtos destinados a satisfazer os nossos desejos.
Os mais altos valores humanos, se não estão á venda, estão a ficar fora de moda.
Na época de Natal, instala-se uma espiral de consumismo em que os valores humanos nada têm a ver com os preços apresentados nas montras reluzentes e apelativas. Até o simples acto de comprar se transforma na solução substitutiva dos problemas reais: desemprego, fome, falta de esperança no futuro de muitos cidadãos portugueses. Em vez do encontro e da partilha próprios desta quadra, temos montras repletas de gadgets e quinquilharia, que acabamos por comprar, mesmo que rapidamente se tornem obsoletos, visto que no ano seguinte serão lançados no mercado outros produtos de substituição e assim sucessivamente!
Assistimos a um crescendo de um sistema que já é socialmente injusto na sua génese, na medida em que se baseia na desigualdade, onde o ser humano é considerado como um alvo e os que não detêm poder aquisitivo são considerados “ descartáveis”.
Parece que a solidariedade, a participação no colectivo e a igualdade estão a ficar esvaziadas do seu sentido original, ao serem substituídas pela publicidade nos meios de comunicação social, que apelam directa e subliminarmente ao consumismo em que os alvos principais são as crianças e as mulheres.
Sugiro que nesta quadra natalícia não nos deixemos inebriar demasiado e nos concentremos no essencial – as pessoas, que são o património mais valioso de uma sociedade – e em particular, focalizando a nossa atenção nos que mais amamos.
Cultivemos dentro da nossa área de influência os valores fundamentais, os que ainda fazem a diferença e teremos um Natal onde os vínculos da partilha e do amor tenham a primazia que merecem.