Depois de um percalço que me aconteceu na vida e que espero que esteja debelado,
aqui volto eu junto dos leitores do mais antigo semanário da cidade mais alta, com quem gosto de partilhar os meus pontos de vista. Nem sempre terei a observação do ângulo mais correto, mas posso afirmar sem qualquer hipótese de engano que o meu punho dá voz ao meu coração. Não posso e nem sequer consigo expor seja o que for, que não tenha como mestras as ideias que me são próprias e forjadas pelo meu coração.
Dito isto, passemos ao problema que me inquieta. Eu, sempre me considerei um europeísta convicto, convencido que todos os seus povos unidos dariam uma mais-valia ao velho continente de modo a que pudesse ombrear com todas as economias mundiais. A Europa com que eu sonhei, assentava em padrões de igualdade entre os povos e livre circulação de pessoas e bens no espaço comunitário, com regras e deveres iguais para todos aqueles que apresentem um vínculo de nacionalidade que os ligue a um dos países aderentes à União Europeia, como agora se diz, depois de ter abandonado outras designações e siglas.
O caso bem presente, que se está a passar devido ao comportamento do primeiro-ministro inglês, em exigir determinados privilégios em exclusividade para o seu país, baralha-me as ideias, sem que eu possa conceber no pensamento, que no espaço alargado em que vivo, há uns mais iguais do que outros. Mais transtornado fico, quando vejo que os restantes vinte e sete aliados se vergam perante uma situação que a todos devia envergonhar, pois o país de sua majestade, passa a ter tratamento de filho, enquanto que os outros ficam a permanecer como enteados.
Temos que ter em conta que a Inglaterra como país, sempre usou e abusou perante os outros. Como tal, foi-se habituando que basta dar um murro na mesa, para que todos os outros se acobardem e os seus interesses ganhem espaço. Foi assim ao longo da história, pelo que não era agora que a maneira de estar na vida ia mudar. Também me parece que da parte da Alemanha existirá um certo calculismo vantajoso, dado que me leva a pensar que o eixo Paris- Berlim, muito decisivo para as decisões europeias, a devido tempo será substituído por um outro eixo, ou seja Londres-Berlim, uma vez que o governo que tem assento no Eliseu, não veste a mesma camisola que a equipa da senhora Merkel.
Vivemos uma época em que a Europa tem problemas por demais para resolver, enumerá-los seria chover no molhado, uma vez que são do conhecimento de todos nós e que a comunicação social nos despeja em casa a todo o momento. Ver correr para Bruxelas todos os líderes europeus, a fim de evitar que Londres não abandone o pelotão da Europa, parece-me caricato e inédito, pois já se viveram no seio da União Europeia cenários de situações mais gravosas sem que se sentisse um apoio semelhante ao que rodeou o chefe do governo inglês.
Vê-se aqui por parte do país que aqui tenho como alvo, uma certa hipocrisia no que concerne à sua população imigrante, pois tem como objetivo a redução de certos benefícios sociais a quem não nasceu da parte de lá do Canal da Mancha. Já no que concerne a mão-de-obra qualificada a mesma Inglaterra, não tem pejo em recrutar pessoal seja em que espaço for, acenando com alargadas vantagens económicas.
Posso aqui admitir que é a filosofia bem própria dos britânicos e seu modo de estar na vida, já que entre nós as coisas não são assim, pois sentem-se pressões de toda a ordem, para que esta nossa olga atlântica aparelhe o burro à vontade do dono. Ai de quem levantar cabelo, pois ninguém aqui tem coragem de remar contra os ventos secos e frios que sopram da Europa Central; por onde passam mirram tudo. Há que aguentar! Assim se ouve de São Bento.