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A desgovernação

Já nas últimas décadas do século vinte, foi criada na sociedade portuguesa a classe média.

Até então, a população dividia-se em duas categorias, os pobres, que eram a esmagadora maioria e os ricos, que embora num escasso número não deixavam de ser poderosos, controlando até meados do referido século, a economia, a produção, o comércio e até a fome.
O pobre vivia do seu trabalho e o rico da rentabilização do seu património, assente no trabalho do pobre. Com o que aqui afirmo, não quero dizer que os ricos eram todos maus, nem tão pouco garantir que os pobres eram todos explorados. Havia de tudo nas duas classes, o melhor seria que houvesse mais ricos e menos pobres.
Com a evolução social do último quartel do século passado, muita gente pobre começou a ter emprego certo, conquistando regalias e direitos pelos deveres que cumpriu. Passou a viver melhor, mas sempre à custa do seu trabalho. A mulher acabou por entrar em maior número no mercado do trabalho, o que veio a dar azo a um melhor nível de vida na generalidade dos lares portugueses.
Daqui nasceu a classe média, com as variações de alta ou baixa, consoante o montante que era recebido mensalmente, bem como a região, pois o poder de compra difere de umas para outras, melhorando consideravelmente à medida que se avança para o litoral.
Foi esta classe média a que foi escolhida para pagar os desmandos de certos poderosos que colocaram o país de cócoras perante o poderio mundial. Chegamos ao ponto de ouvir dizer que os ricos são os que trabalham e os pobres aqueles que, por algum motivo, não entram na produtividade nacional. Com cortes no vencimento e aumentos brutais na tributação, o trabalhador ficou cerca de meio ano a trabalhar para o erário público.
Com base nesta noção de vida, considerei-me sempre pobre visto que a minha subsistência, foi sempre o que auferi em troca do serviço que prestei à comunidade. Quando chegou a hora, retirei-me da vida ativa, e a partir de então passei a viver à custa de uma pensão baseada num conjunto de compromissos que o Estado me impôs. Apenas me limitei a aceitar, pois não havia negociações, quem queria como lhe era proposto ficava, quem não estava pelos ajustes seguia o seu rumo.
Como vi sempre o Estado como pessoa de bem, nunca me passou pela cabeça que as cadeiras do Poder fossem ocupadas por pseudopolíticos, que sem escrúpulos vão extorquindo o montante dos salários e pensões à cabeça fazendo tábua rasa dos princípios que estão escritos na Lei fundamental do país, que é a Constituição.
Chegamos ao ponto de quem nos governa, ter de pedir conselhos à instância adequada, para saber como se pode agir futuramente para sugar a dita classe média. Mediante respostas negativas, que estão em conformidade com outros chumbos dirigidos ao mesmo governo, cai o Carmo e a Trindade.
No meu ponto de vista, tudo acontece porque se deturpa o que está escrito em prol dum capitalismo selvagem que a todo o custo quer vender o que é rentável, com o argumento de que se atrai investimento estrangeiro. Por outro lado, o que não for rendível extermina-se com a falsa justificação de que não tem viabilidade, sem olhar às necessidades de idosos, tantas vezes ameaçados pela doença e pela solidão.
Estas evidências são realçadas pela Igreja Católica, coisa de que não tenho memória, como o fez D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, em pleno santuário de Fátima, na sua homilia de 13 de Agosto do corrente ano de 2014.
A superior intervenção deste prelado fez-me recordar uma outra pessoa ligada à mesma cidade, que ficou famosa nos meandros do futebol. Estou a falar de José Maria Pedroto, que designavas as atuações fraudulentas de quem mandava, como “roubos de igreja”.
Por aqui vos deixo, com o que a minha alma sente.      

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