Entrevista: Joaquim Domingos, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Manteigas


Joaquim Domingos, Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Manteigas, é natural da freguesia de São Pedro- Manteigas. Estudou na Escola Primária e Ensino Liceal (ex-5º ano Liceal) no ex- Colégio de Nossa Senhora de Fátima, ambos em Manteigas.Nos tempos livres gosta de ler e caminhar de preferência na Serra de Estrela.
A GUARDA: A Santa Casa da Misericórdia de Manteigas é uma instituição com mais de 400 anos de existência. A que se deve tão grande longevidade?
Joaquim Domingos: Na verdade foi no dia 19 de Outubro de 2018 que comemoramos os 400 anos da nossa Instituição, com a envolvência activa das Instituições Religiosas e Civis mais representativas do concelho, e com um forte apelo às consciências, para o exercício do cumprimento voluntário do dever cívico e de cidadania.Chegar até esta data só foi possível graças ao espírito de missão que nos é peculiar no cumprimento das 14 Obras de Misericórdia, com a sua Irmandade da Misericórdia ininterruptamente activa, honrando em cada dia que passa, todos os provedores e restantes órgãos sociais, Capelães, Beneméritos que nos precederam, exaltando assim também, a História da Santa Casa de Misericórdia de Manteigas.
A GUARDA: Como Provedor prometeu respeitar a história e honrar os que o antecederam. Tem conseguido alcançar este objectivo?Joaquim Domingos: A honrada e responsável missão que nos está reservada, não se limita ao Provedor, que deverá ser, preferencialmente, um voluntário sempre presente, mas sim a uma equipa global e coesa, unida em torno de todos os órgãos sociais com enfâse para a Mesa Administrativa, Equipa Técnica e todos os Trabalhadores da Instituição. Só assim se conseguirá o cumprimento da missão, com a garantia de uma boa gestão diária, bem como do património da Instituição, tendo sempre presente a sua futura sustentabilidade.Assim sendo o objectivo é claríssimo, servir sem ser servido, voluntariamente, em cumprimento do nosso compromisso da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Manteigas, porque honrando a nossa história, temos futuro.Será também a história e mais rápido do que presumimos, que nos avaliará e julgará, embora já tenhamos a certeza de que o objectivo está cumprido, uma vez que a organização estrutural e de funcionamento interno da Santa Casa já está concluída, sem deixar de se cumprir os compromissos, atempadamente, para com os nossos Trabalhadores, Estado e Fornecedores, além de se ter conseguido uma redução significativa das responsabilidades financeiras da Instituição perante a Banca e outros, assumidos desde o início do primeiro mandato em Janeiro de 2012.A GUARDA: Podemos dizer que a Misericórdia é uma instituição que marca de forma positiva a história de Manteigas?
Joaquim Domingos: Sem dúvida e permitam-nos aqui relembrar dois nossos conterrâneos que já não estão entre nós, o sr. Dr. Manuel Ferreira da Silva, um apaixonado pelas Misericórdias, com variadíssimas publicações editadas sobre a matéria e o sr. Dr. José David Lucas Batista, pesquisador nato, que foram os principais arautos públicos da história da Instituição, perpetuando de forma escrita a importância positiva e decisiva da Santa Casa no concelho de Manteigas.
A GUARDA: A Misericórdia tem protocolos com outras instituições de Manteigas, nomeadamente Câmara Municipal, Juntas de Freguesia e paróquias?
Joaquim Domingos: Protocolos formais não existem, mais temos sim um relacionamento Institucional muito próximo e responsável, quer com as entidades Autárquicas, quer com o Pároco da Comunidade do Bom Pastor, sempre que possível e em pareceria.Nunca é demais realçar a postura colaborante, da Câmara Municipal, nomeadamente no apoio a projectos pontuais e na recente decisão unanime de atribuir a responsabilidade à Santa Casa para coordenar o projecto CLDS-4G- Manteigas Com Vida, que veio proporcionar a contratação de mais cinco colaboradores.
A GUARDA: Actualmente, quais são as valências disponibilizadas pela Santa Casa da Misericórdia de Manteigas?
Joaquim Domingos: Equipamento Residencial para Pessoas Idosas (ERPI) Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário e a nossa UCCI-lDM- Unidade de Cuidados Continuados Integrados-Longa Duração e Manutenção, com abertura a 1 de Novembro de 2013, apoiando desta forma no total cento e quinze pessoas e garantindo trabalho a setenta e nove trabalhadores.
A GUARDA: Neste período tão conturbado, provocado pela Covid19, como é que a Misericórdia de Manteigas está a responder aos novos desafios?
Joaquim Domingos: Desde o dia 10 de Março passado que vimos implementando o nosso Plano de Contingência com as devidas e sucessivas alterações emanadas pela DGS, informando todos os colaboradores das mesmas, acção muito bem coordenada pela Direcção Técnica da Santa Casa, que os alerta para as medidas preventivas de higienização e desinfecção constantes, assim como o uso adequado dos equipamentos de protecção individual.Também foram adaptados horários, rotinas e circuitos internos, assim como os Utentes ficaram confinados ao seu piso residencial, adaptando espaços para servir as refeições, evitando-se aglomerados, garantindo o distanciamento com segurança.Logo a partir do dia 4 de Abril, forma testados todos os trabalhadores da Instituição, iniciativa célere, proactiva e também custeada pela Câmara Municipal de Manteigas, que proporcionou a detenção de dois casos positivos, assintomáticos, únicos na Instituição, até esta data.Também entre os dias 8 e 11 de Abril, efectuou-se nova testagem a todos os trabalhadores e Utentes, acção coordenada pela Autoridade de Saúde Local.Testagens, oportuníssimas, que tranquilizaram toda a comunidade da Santa Casa e Familiares dos Utentes, não sendo demais reiterar o nosso agradecimento a estas duas entidades Públicas.
A GUARDA: Quais as principais dificuldades que a Misericórdia de Manteigas tem sentido na maneira de lidar com a pandemia da Covid19?
Joaquim Domingos: A nossa principal preocupação são os nossos Utentes, porque o medo do desconhecido e invisível, gera intranquilidade e angústia, além de se sentirem a distância, a ausência física e dos afectos dos seus familiares.Como todos sabemos, o isolamento e a solidão, gera consequências futuras na saúde de cada um, e esse facto já há muito que nos preocupa, porque também todos sabemos que os utentes quando nos procuram, são cada vez mais portadores de doenças crónicas, com mais demências, que, “ provocam uma maior sobrecarga física e técnica dos trabalhadores e a exigir cuidada articulação entre cuidados sociais e de saúde”.Pelo que, qualquer pessoa residente em Lar também tem o direito de usufruir do apoio da saúde pública, porque se estivesse na sua casinha assim seria, pelo que se apela a um maior acompanhamento por parte da Saúde Pública às IPSS.A discussão sobre quem deve comparticipar, pagar ou não pagar ou a quem cabe a responsabilidade de zelar pelos cuidados de saúde dos Utentes, nos casos dos residentes em Lares, sejam eles totalmente privados e/ou públicos e/ou com Acordos de Cooperação com o Estado, é para outras instâncias, nomeadamente da Assembleia da República.Pelo que o direito aos cuidados de saúde, são extensivos a qualquer cidadão, tal como está previsto do SNS e instituído na Constituição da República Portuguesa.Ainda assim os nossos Utentes têm sido a maior prova da nossa capacidade de adaptação a esta Pandemia, o que nos anima e nos dá força para reforçar este combate, até que a Medicina nos presencie com uma vacina protectora.
A GUARDA: Quais os projectos que a actual mesa administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Manteigas gostaria de concretizar?
Joaquim Domingos: Além das acções propostas e cumpridas, na generalidade, nos planos de actividades anuais, destaca-se a Requalificação da ERPI, cujo processo de licenciamento já foi deliberado pela Câmara Municipal de Manteigas em 2018, com os devidos pareceres favoráveis da Segurança Social e Saúde.Trata-se de um projecto de cerca de dois milhões de euros c/ iva, que foi candidatado ao apoio ao investimento em infraestruturas e equipamentos sociais, aviso Portugal 2020/Centro 42-2018-07 de 30.04.2018, e que infelizmente, não colheu decisão favorável da CCDR Centro.Evidentemente, que não cruzamos os braços, aguardando com expectativa a abertura de candidaturas aos fundos comunitários e/ou nacionais, sem esquecer também o programa para qualificação das comunidades amigas das pessoas idosas (PQCAPI).Projecto que dará garantias para o futuro da Santa Casa, que esta Mesa Administrativa e/ou a próxima equipa de Mesários tem disponível para avançar e executar, sem colocar em causa o normal funcionamento da Instituição.