Serra da Estrela – Casal da Senhora

“A morte do Albino é a morte da Serra”, desabafou o Padre António Morais, pároco de Folgosinho, quando soube que tinha morrido o último habitante do “Casal da Senhora”, e um dos últimos de Casais de Folgosinho. Este homem deixa muitas saudades e a Serra não vai ser a mesma sem ele pois “tinha uma grande organização de trabalho, com rebanho, vacas de carne criadas no mato e o melhor material em alfaias agrícolas”.O agricultor Albino da Silva Brazete morreu, no dia 8 de Abril, com 72 anos, durante as lides diárias, nos terrenos envolventes da capela de Nossa Senhora da Assedace, protectora dos pastores e do gado da Serra da Estrela.Os amigos lamentam “a perda de um grande Homem” e temem pelo futuro de uma das zonas mais emblemáticas da Serra de Folgosinho, no concelho de Gouveia. O padre António Morais, dedicado conhecedor e estudioso das gentes, usos e costumes de cada recanto de Casais de Folgosinho vaticina que “se os filhos do Albino não pegarem naquilo é o fim da Serra”. Em 2016, o jornal A GUARDA entrevistou Albino Silva Brazete que deu a conhecer um local cada vez mais recôndito em plena Serra da Estrela.“Vim para aqui com os meus pais aos 13 anos”, contou, referindo que apenas saiu daquele local quando foi para a Guerra do Ultramar. “Vim da Guerra do Ultramar em 1972 e estive aqui dois anos com os meus pais. Depois eles compraram uma quinta à beira do Rio Mondego, no Covão da Ponte. Eles foram para lá e eu fiquei aqui”. Na altura tinha 78 ovelhas, 30 cabras e 20 vacas e era responsável por 105 hectares de terreno. “Enquanto a minha mulher foi viva fazíamos queijo de ovelha e vendia-o todo aqui, nunca precisei de ir para lado nenhum. Quando ela morreu, o queijo deixou de ser feito e passei a vender o leite”. Na altura, o Jornal A GUARDA escreveu: “Albino da Silva Brazete gosta de viver num local paradisíaco e em permanente contacto com a natureza, mas refere que ‘não compensa viver da agricultura. O centeio é vendido mais barato agora do que há 20 anos. Desde que mudaram o escudo para o euro foi uma machadada. Nos Casais de Folgosinho o agricultor encontra paz e tranquilidade e refere que vive bem. ‘Desde que haja saúde e trabalho vive-se cá bem’. Na sua habitação já tem energia eléctrica, um benefício que chegou há cerca de uma década. Antes disso a vida era mais difícil e obrigava a recorrer a geradores. Este habitante dos Casais de Folgosinho contou ainda que em muitos dias do ano está ‘mesmo sozinho’ mas recebe amiúdes vezes a visita de familiares e amigos”.