Rebanho tem 167 cabeças das raças ‘Lacaune’ e ‘Assaf’

A faina começa cedo e acaba tarde pois “os animais não conhecem domingos, nem dias santos”. Joaquim Carreira, de 66 anos, feitos há poucos dias, é pastor e agricultor desde menino. Ainda teve uma aventura de dois ou três anos, em França, mas as saudades da família, da aldeia, dos campos e dos animais falaram mais alto.“Estive dois ou três anos em França, onde andei na montanha a cortar pinho, carvalho e outras árvores, mas não era a mesma coisa”, referiu ao Jornal A GUARDA. E acrescentou: “Não tinha nada a ver com o trabalho que fazia em casa dos meus pais e, por isso decidi regressar”.“Guardar ovelhas foi, praticamente, a minha vida desde jovem”, disse ao Jornal A GUARDA, enquanto encaminhava o rebanho para os armazéns que construiu nas imediações da casa de habitação, numa zona bem cuidada e povoada de carvalhos. Apesar dos estábulos estarem bastante afastados da zona de residência garante que, se fosse agora, “ainda os construía mais longe”. “Podemos fazer todo o cuidado mas com os animais nunca conseguimos ter tudo limpo e quando o calor aperta o cheiro é mais intenso e as moscas não nos largam”, explicou Joaquim Carreira.O rebanho, com 167 cabeças, não lhe dá mãos a medir e o tempo que lhe sobra é dedicado à agricultura de maneira a garantir as forragens para o Inverno, bem como os produtos necessários para consumo da casa. Com a ajuda de algumas máquinas agrícolas que foi comprando ao longo dos anos consegue manter os terrenos limpos e cultivados. Para Joaquim Carreira o dia começa bem cedinho, pelas 5.30 da manhã, com a ordenha das ovelhas. São três horas de grande azáfama que se repetem ao final do dia, com o regresso dos animais aos estábulos. “Começo a ordenhar às cinco e meia da manhã e só termino lá para as oito e à tarde é a mesma luta, sempre a bulir”, explica. O processo de ordenha é todo manual pois considera que “não compensa estar a investir em ordenha mecânica porque o preço do leite é muito barato”. Mesmo assim considera que a empresa que faz a recolha do leite “até paga razoavelmente, não é das piores”. As 167 cabeças dividem-se pelas raças ‘Lacaune’ (raça francesa que deve seu nome aos Montes Lacaune e tem como origem, diversos grupos ovinos que existiam na região) e ‘Assaf’ (raça que resulta do cruzamento das raças Awassi, originária do Oriente Médio e da alemã/holandesa Ostfriesisches Milchschaf), ambas com grande aptidão para leite e carne. “Este ano, na altura da Páscoa, vendemos todos os borregos que tínhamos, o que foi muito bom para conseguirmos rentabilizar o nosso trabalho”, considera Joaquim Carreira. Para manter o rebanho utiliza terrenos próprios (50%) mas também recorre ao arrendamento e a doações temporárias. Em relação ao futuro do sector, Joaquim Carreira - casado e pai de um filho que enveredou pela carreira militar - não tem dúvidas que “isto, nos próximos dez anos, vai acabar”. “Este sector não tem futuro, a gente jovem já não quer saber, isto é muito trabalhoso”, conclui. Mesmo com muito trabalho gosta do que faz e garante que sempre se sentiu bem na sua aldeia, o Marmeleiro, no concelho da Guarda. “Consegui atingir aquilo que queria, sempre consegui viver aqui bem, com muito trabalho”, explica. Actualmente, o Marmeleiro ainda conta com uma dezena de pastores que, no total, guardam cerca de setecentas cabeças de gado.