Entrevista: Pedro Casimiro da Silva Santos - Comandante Operacional do Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida

A GUARDA: O que é e como apareceu o Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida? Pedro Casimiro: O nosso grupo, que é mais conhecido pelo acrónimo GRHMA, existe desde o ano de 2006, embora só tenha sido formalmente constituído como associação cultural por intermédio de escritura pública celebrada no ano de 2011. Trata-se de um grupo constituído exclusivamente por voluntários, imbuídos do mais puro espírito associativo, cujas principais actividades estão relacionadas com a organização e a participação em reconstituições históricas, na organização de exposições didácticas e pedagógicas, na participação em cerimónias e em eventos evocativos, realizadas em Portugal ou no estrangeiro, bem como a participação em feiras de turismo, sempre em coordenação e estreita colaboração com o Município de Almeida.Os estatutos da nossa associação cultural são elucidativos, no que concerne aos nossos objectivos, que têm a ver, designadamente, com a preservação e a divulgação do património histórico-militar e cultural do concelho de Almeida e das suas gentes e com a promoção e a divulgação do conhecimento da História de Portugal, principalmente no período histórico comummente designado de Guerra Peninsular, ocorrida entre os anos de 1807 e 1814.Trata-se, de facto, de um projecto singular, que corporiza uma parceira cultural entre um conjunto de cidadãs e de cidadãos, estritamente voluntários e provenientes de diversas regiões do nosso país, bem como, a partir deste ano, de Espanha, e o Município de Almeida. Trata-se de um projecto que tem dado resultados muito interessantes, quer ao nível da promoção do concelho de Almeida, quer enquanto instrumento de promoção e de divulgação cultural e turística de Almeida e de Portugal, no estrangeiro.Por outro lado, este movimento associativo só conseguiu crescer e desenvolver uma actividade cultural de uma forma tão relevante, ao longo dos anos, graças ao apoio e à colaboração dispensados pelo Município de Almeida, fruto de uma sensibilidade e investimento cultural manifestado e sustentado por sucessivos executivos camarários nesta matéria. E neste aspecto, o Município de Almeida foi verdadeiramente pioneiro, por ter sido a primeira edilidade do nosso país a percepcionar a importância de uma parceria cultural deste género, cujo exemplo já foi, entretanto, seguido por outros municípios do nosso país, tal como sucedeu no Vimeiro, em Sobral de Monte Agraço e em Condeixa.
A GUARDA: Quem pode fazer parte do Grupo?Pedro Casimiro: Basicamente qualquer pessoa que tenha um sincero desejo de dispor de uma parte do seu tempo livre em prol desta actividade cultural e associativa, pode fazer parte integrante do nosso grupo, podendo integrar o nosso departamento histórico-militar, ou o nosso departamento civil. Actualmente, temos associados provenientes literalmente de norte a sul do país e, inclusive, alguns associados provenientes de Espanha.A nível histórico-militar, recriamos a história e tradições de unidades militares do início do século XIX, de infantaria, de artilharia e de cavalaria. No nosso departamento civil, recriamos os costumes e tradições populares dessa mesma época histórica, a vários níveis, entre os quais se destaca a realização e execução de danças tradicionais e de salão, em uso nesse período histórico.Tendo em conta as múltiplas dimensões culturais em que trabalhamos, não tenho dúvidas em afirmar que a nossa associação cultural é única no panorama cultural peninsular e, quem sabe, até mesmo europeu!A GUARDA: Recentemente decorreu a Escola de Soldado 2021. Qual o balanço da iniciativa? 
Pedro Casimiro: Trata-se de um evento que foi, sem dúvida, um perfeito sucesso e em que o concelho de Almeida marcou, uma vez mais, a diferença pela positiva, em termos de projecção cultural, a nível regional e mesmo nacional.Num período em que, como todos sabemos, está marcado por substanciais limitações, em termos de organização de eventos culturais, devido às condicionantes pandémicas existentes, foi possível realizar um evento que, com respeito e em observância das necessárias regras sanitárias em vigor, teve um impacto cultural significativo.Neste evento, assistimos à criação de uma nova unidade histórico-militar no GRHMA (1/52nd (Oxfordshire) Regiment of Foot), que irá ser composto maioritariamente por associados provenientes de Espanha, e que pretendemos venha a servir de instrumento de uma ainda maior aproximação e cooperação cultural e turística entre Almeida e Ciudad Rodrigo, que são duas localidades vizinhas quer partilham um imenso património histórico-cultural. Aliás, este projecto já foi alvo de notícias de destaque, na imprensa local do outro lado da fronteira.Tivemos o prazer da presença de uma delegação do Exército Português, liderada pelo Sr. Major-General Aníbal Flambó, no âmbito de um projecto cultural que envolve o GRHMA e Museu Histórico-militar de Almeida. Para além da apresentação de um excelente livro da autoria de Álvaro de Carvalho (com o título “Da raia seca ao pinhal”), contamos com a presença neste evento de vários alunos da Escola Secundária de Figueira de Castelo Rodrigo, que ficaram especialmente agradados com a descoberta de aspectos da História de Portugal que muito deles desconheciam.Foi também neste evento que assistimos à estreia de um novíssimo documentário histórico, chamado “A Primeira Linha de Wellington”, alusivo às Invasões Francesas, no qual o concelho de Almeida e a nossa associação cultural tiveram uma participação de relevo. Este excelente trabalho cinematográfico foi realizado por Paulo Fajardo e produzido pelo Cineclub Bairrada.Para além destas, tivemos ainda outras iniciativas relevantes, tais como a nossa imprescindível procissão histórico-militar ao cemitério de Almeida, para evocar a memória dos nossos camaradas já falecidos e a realização de workshops de danças históricas, entre outras iniciativas.
A GUARDA: Quais as principais actividades em que o Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida está envolvido?
Pedro Casimiro: A nossa principal actividade cultural está associada à organização, sob a orientação do Município de Almeida, do evento anual denominado “Cerco de Almeida”, que é uma reconstituição histórica de um episódio ocorrido no concelho de Almeida no mês de agosto de 1810, por altura da chamada Terceira Invasão Francesa, comandada pelo Marechal André Massena e que se realiza sempre no último final de semana do mês de agosto de cada ano. Trata-se não só da maior reconstituição histórica alusiva do início do século XIX realizada em Portugal, como uma das maiores da Península Ibérica.Também organizamos e participamos em eventos culturais similares, realizados não só em Portugal, como no estrangeiro, para além da participação em feiras de turismo em Portugal e no estrangeiro, em coordenação com o Município de Almeida.As principais deslocações ao estrangeiro que fazemos são em Espanha, mas também já participamos em eventos culturais realizados na França e na Bélgica, entre os quais avulta a reconstituição histórica da Batalha de Waterloo.No ano passado e apesar dos conhecidos constrangimentos sanitários, conseguimos fazer uma adaptação com sucesso da nossa actividade cultural. A pedido da Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra (CIM Região de Coimbra), tivemos o papel principal na realização de um filme promocional de natureza turística, que irá servir de base à estratégia promocional desenvolvida por vários municípios que dela (CIM Região de Coimbra) fazem parte integrante. Para além de um papel relevante na realização do supra aludido documentário histórico (denominado “A Primeira Linha de Wellington”), participamos também em alguns documentários promocionais, destinados à divulgação além-fronteiras do concelho de Almeida, tal como sucedeu para o Canal ARTE.Tivemos ainda um papel relevante na realização de aplicação “Conhecer Almeida”, que foi recentemente estreada e que constitui mais um instrumento promocional diferenciados, pela positiva, do concelho de Almeida.
A GUARDA: Quais as principais dificuldades com que se debate o Grupo?Pedro Casimiro: A principal dificuldade com que nos debatemos é a seguinte: tempo disponível.Conforme comecei por referir, todos os membros da nossa associação são estritamente voluntários. Todavia, fruto do esforço colectivo da maioria dos nossos associados e graças ao indispensável apoio e colaboração do Município de Almeida, a evolução da actividade do nosso grupo tem resultado no assumir de compromissos de importância e de responsabilidade muito significativas e crescentes, algumas das quais fora no âmbito habitual da nossa actividade cultural, como sucedeu com o projecto desenvolvido em parceria com a CIM Região de Coimbra. Isto implica a necessidade de uma disponibilidade de tempo, para tratar de pormenores organizativos e logísticos, que fica quase sempre reservada para as noites e para os finais de semana, com o consequente desgaste físico e, às vezes, psicológico, para além dos constrangimentos que tais investimentos de tempo implicam a nível familiar. No entanto, estas dificuldades acabam por ser recompensadas pelo reconhecimento da validade do nosso trabalho, bem como os reflexos do mesmo em benefício do concelho de Almeida.
A GUARDA: Quais os grandes desafios que tem pela frente? Pedro Casimiro: Um dos grandes desafios que temos passa por continuarmos a conseguir manter uma actividade cultural relevante, em benefício do concelho de Almeida e ao nível da promoção do chamado turismo histórico-militar, para assim conseguirmos, ainda que de uma forma modesta, continuar a colaborar com o Município de Almeida, para contrariar os problemas deste território periférico e de baixa densidade populacional, que padece de muitos dos problemas associados à interioridade.A promoção e o desenvolvimento do chamado turismo histórico-militar, enquanto vertente do chamado turismo cultural, é uma das modernas ferramentas promotoras do desenvolvimento local e regional, e que pode ter um papel fundamental ao nível da reversão de grande parte dos problemas da interioridade, mediante a potenciação do abundante e fantástico património histórico, de que o nosso país é detentor.O turismo histórico-militar pode ser entendido como uma actividade essencialmente de natureza cultural, destinada a propiciar a activação turística do património histórico-militar, tanto material como imaterial, de uma forma transversal a diversas tutelas institucionais.É também neste âmbito que se insere o novo projecto histórico-cultural que o GRHMA está a desenvolver, em parceria com o Município de Almeida, e que se destina a promover e a divulgar o período da História de Portugal comummente conhecido como a Guerra da Restauração (século XVII), ao qual e uma vez mais o concelho de Almeida possui uma singular ligação, reflectida desde logo no facto de que o respectivo feriado municipal, celebrado a 2 de Julho de cada ano, ser evocativo de uma memorável batalha realizada em Almeida no dia 2 de Julho de 1663, assinalando uma vez mais o contributo desta região para garantir a independência do nosso país.Trata-se de mais um projecto cultural diferenciador que, sem qualquer dúvida, poderá vir a trazer benefícios acrescidos para o concelho de Almeida, designadamente ao nível da promoção do referido turismo histórico-militar, em paralelo com o trabalho que já vem sendo desenvolvido relativamente ao período histórico do século XIX.
A GUARDA: Podemos dizer que o Grupo de Reconstituição Histórica do Município de Almeida é um embaixador do concelho?                                                        
Pedro Casimiro: Creio que essa afirmação é verdadeira, principalmente se tivermos em conta a já referida parceria existente entre o nosso grupo e o Município de Almeida, pois é precisamente esta comunhão de esforços que nos tem permitido conseguir alcançar certos objectivos e importantes resultados.Veja-se um exemplo recente, nesta matéria. No passado mês de Abril recebemos uma solicitação do Município de Mortágua, relacionada com a organização de uma exposição temática naquele concelho, alusiva ao início do século XIX, que se destinava a integrar o respectivo programa cultural previsto para o mês de maio.Obviamente que o nosso grupo deu uma resposta afirmativa a esse pedido, que se insere na vertente pedagógica e didáctica desenvolvida pela nossa associação. Este esforço resultou na inauguração, no passado dia 22 de maio, da exposição intitulada “Portugal no Período das Invasões Francesas: Dimensões Militares e Civis”.Todavia e uma vez mais, este resultado só foi possível graças à colaboração do Município de Almeida que colaborou nesta iniciativa e cedeu, a título gracioso, um conjunto assinalável de objectos de época (réplicas), entre os quais se incluiu uma réplica de uma peça de artilharia.É neste contexto que o trabalho e a dedicação dos(as) nossos(as) associados(as) nos tem conferido algum reconhecimento, a nível nacional e internacional, que se reflecte no concelho de Almeida, pois em praticamente todas as deslocações que fazemos, levamos e distribuímos folhetos turísticos alusivos a este concelho e convidamos todos a fazer-nos uma visita, sendo por isso já lendário o acolhimento e receção que Almeida dá a todos os que visitam a Estrela do Interior.