Vasco da Gama decidiu regressar ao reino de Portugal

no dia 29 de agosto de 1498, pois considerou ter cumprido a sua missão de descoberta e de carregamento de especiarias para demonstrar ao rei D. Manuel as potencialidades do comércio marítimo com terras do oriente.

A viagem de regresso foi quase desastrosa. Os mantimentos já eram muito poucos, não conseguiram arranjar pilotos que os guiassem e as condições climatéricas eram adversas, com grandes temporais e períodos de calmaria, o que, em qualquer dos casos, não permitia uma boa navegação. Até chegarem à costa africana, já no ano de 1499, do lado do Oceano Índico, morreram trinta portugueses, geralmente devido ao escorbuto, e os restantes encontravam-se em estado débil. A tal ponto que mal podiam cumprir as tarefas de tripulação dos navios.
Em Melinde, conseguiram que o rei local lhes fornecesse laranjas e carne fresca, mas a tripulação já estava reduzida a cerca de metade. Por esse motivo, Vasco da Gama mandou lançar fogo ao navio “São Rafael” pois não dispunha de tripulação suficiente para os três navios.
A viagem de regresso ficou ainda marcada pela doença de Paulo da Gama, quando se encontravam na área de Cabo Verde, o qual viria a falecer nos Açores. Como Vasco da Gama o acompanhou na viagem, não foi o primeiro a chegar a Lisboa. Essa honra coube ao navio “Bérrio” de Nicolau Coelho, que no dia no dia 10 de Julho de 1499, exatamente dois anos e dois dias após o início da expedição, lançou ferro no porto de Lisboa.
Cerca de um mês depois, Vasco da Gama chegou a Lisboa, onde teve um acolhimento entusiástico. Assim provava que existia um caminho marítimo para a Índia e que Portugal dispunha de navios e de homens à altura dos riscos da viagem.
Seguindo uma política de sigilo no comércio e na navegação, D. Manuel tentou evitar a divulgação de registos importantes, de cartas e de instruções de navegação, com receio de que os seus rivais europeus tentassem seguir a rota de Vasco da Gama.
Excertos do “Roteiro da Primeira Viagem de Vasco da Gama à Índia”, provavelmente escrito por Álvaro Velho durante a expedição:
“Março, 2 – Pela manhã, indo Nicolau Coelho por dentro daquela angra errou o caminho e achou um baixo. E, em virando para os outros navios que vinham detrás, viram vir uns barcos à vela de dentro daquela ilha, da povoação. E nós em pousando na lagoa daquela ilha, donde vinham os barcos, chegaram a nós sete ou oito daqueles barcos e almadias, os quais vinham tangendo nos anafés que eles traziam.
Os homens desta terra são ruivos e de bons corpos e da seita de Mafamede e falam como mouros. E as suas vestiduras são de panos de linho e de algodão, muito delgados e de muitas cores de listras e são ricos e lavrados; e todos trazem toucas nas cabeças, com vivos de seda lavrados com fio de ouro. E são mercadores e tratam com mouros brancos, dos quais estavam aqui, neste lugar, quatro navios deles que traziam ouro, prata, cravo, pimenta, gengibre, anéis de prata com muitas pérolas, e aljôfar e rubis. Em este lugar e ilha, a que chamam Moçambique, estava um senhor a que eles chamam sultão, que era como vice-rei; o qual veio nos nossos navios, por muitas vezes, com outros seus que com ele vinham. E o capitão lhe dava mui bem de comer e lhe fez um serviço de chapéus e marlotas e corais de outras coisas muitas. E ele era tão alterado que desprezava quanto lhe davam; e pedia que lhe dessem escarlata e nós a levávamos, mas disso que tínhamos lhe dávamos.
O capitão-mor lhe deu um dia um convite, o qual foi de muitos figos e conservas e lhe pediu que lhe desse dois pilotos que fossem connosco: e ele disse que sim, contando que os contentassem.
As palmeiras desta terra dão um fruto tão grande como melões e o miolo de dentro é o que comem e sabe como junça avelanada e também há aqui pepinos e melões, muitos, os quais nos traziam a resgatar.
Maio, 20 – Fomos juntos com umas montanhas, as quais estão sobre a cidade de Calecute; e chegámo-nos tanto a elas até que o piloto que levámos as conheceu e nos disse que aquela era a terra onde nós desejávamos de ir.”