A vitória parece estar fora de alcance para cada uma das partes na designada guerra da Ucrânia.

Do lado da Rússia, com a sua imagem de exército invencível, está subjacente um erro de cálculo de Putin, quer político, quer estratégico-militar. Do lado da Ucrânia, o excelente poder de comunicação de Zelensky está a galvanizar uma população que tem orgulho em combater e de até morrer pelo seu país, mobilizando a opinião pública internacional que se tem solidarizado no apoio em armas e voluntários para enfrentar aquele que pensava fazer uma guerra relâmpago.
Neste momento, Putin parece encontrar-se encurralado numa situação de prisioneira na sua própria armadilha, o que o pode tornar um animal feroz e desnorteado, com consequências inimagináveis, dada a supremacia em armas letais.
Com a excepção de Mariupol, talvez se possa afirmar, baseado em certas fontes, que os russos ainda não começaram operações de destruição maciça das cidades A questão é saber se, acossado no impasse em que se atolou, e constatando que não é possível impor a sua posição inicial (independência ou autonomia do Dombas, independência da Crimeia, não adesão da Ucrânia à Nato e desnazificação de milícias radicais, como o Batalhão Azov), não reforçará o seu dispositivo militar ou não recorrerá a armas mais letais.
Quer queiramos quer não, é este o cenário que é necessário ter presente aquando das necessárias negociações. O moderador tem de levar as partes a aceitar um caderno de reivindicações onde terá de haver cedências de ambas as partes e não reforçar o ódio e a aniquilação de todo um povo ou de todo um exército. Aprende-se a fazer a guerra, mas não se ensina a fazer a paz. Deveria haver escolas para leccionar a arte da paz. Todos os povos aproveitariam porque conflitos há sempre em toda a parte.
Na minha opinião, e contrariamente ao que é comum ouvir-se e até desejar-se, seria um erro fazer tudo para depor Putin. Lembremo-nos o que aconteceu com a Líbia, com a Tunísia, com o Iraque. A transição das ditaduras resulta sempre guerras sanguinárias. Seria um outro caos talvez ainda maior, a ingovernabilidade de uma Rússia que iria certamente desestabilizar a China. Esta será a grande responsabilidade dos Estados Unidos, esperando que a Europa tome todo o cuidado para não encurralar e ferir uma fera assanhada.
É bom sentir o apoio de Joe Biden, mas a América está longe e, para enfrentar um grande país como a Rússia, são necessárias muitas armas, muitas bombas. As fábricas de armamento americano estão de acordo que as partes extremem as suas posições para a guerra continuar. Desviar-se da torneira do gás e do petróleo russo para a ligar à dos americanos que extraem estes produtos do xisto, Joe Biden agradece. Sobre esta matéria gostaria de ouvir a opinião dos ecologistas.
Ainda não começámos a ouvir os clamores dos habitantes do Norte de África, habituados que estão a comer o cuscuz, à base de farinha de trigo, os criadores de gado da Europa ocidental que não têm cereais para alimentar os animais, os empresários europeus e sobretudo alemães que não têm combustível para fazer funcionar a economia. Os contestatários também ainda não saíram à rua, mas quando lhes faltar a electricidade para carregar os telemóveis, quando tiver de se pagar a gasolina a 3€ e virmos as prateleiras vazias de certos produtos dos supermercados, não sei quantos governos poderão resistir.
Não pretendo dizer que fiquemos de braços cruzados, à espera de um milagre da Senhora de Fátima. Temos, por isso, necessidade de negociações rápidas e sérias que não nos levem nem para genocídios nem para precipícios em que todos ficaremos aniquilados.