O meu neto, que já me ensinou a maior parte daquilo que eu sei em informática, alertou-me agora para a ferramenta do designado ChatGPT, um dos algoritmos da inteligência artificial e que, todos dizem, irá transformar a nossa vida.


Quando a família se reuniu por ocasião da festa de Natal, a malta mais nova estava à volta do meu neto, com um laptop na mão a divertir-se e a fazer perguntas ao ChatGPT que, espantosamente, respondia a tudo e bastante certo. Uma nossa amiga, que fazia parte do convívio, professora numa universidade da Holanda, deitou as mãos à cabeça ao ver as resposta tão certeiras daquela ferramenta, porque, dizia ela, os seus alunos, que já trabalham tão pouco, agora iriam trabalhar ainda menos, pois irão servir-se da inteligência artificial, e o professor dificilmente saberá se se tratará de algo escrito por eles próprios ou pelo algoritmo.
Após alguns lhe terem perguntado banalidades, tendo ficado admirado com as respostas, o meu neto deu-me oportunidade de colocar também uma questão ao ChatGPT. E pedi-lhe para me fazer um soneto em português sobre a chuva, já que estava um dia cinzento e chuvoso. Pobre ChatGPT! Aqui espalhou-se à grande e à francesa! Nem a rima nem a métrica estavam certas e ignorou os catorze versos e o formato dos dois últimos tercetos. Disse-lhe que a resposta não a estava certa; confessou que era verdade e desculpou-se.
Quis experimentá-lo novamente e perguntei-lhe que me dissesse o que sabia do hebdomadário (até pensei que não conhecesse este precioso termo) A GUARDA. Pensou um pouco e apresentou-me o seguinte texto, bastante elogioso, que merece ser transcrito, colocando-o à consideração dos leitores:
A GUARDA é um hebdomadário português de carácter cultural, fundado em 1981, (aqui enganou-se; foi em 1904). Desde então, tem sido uma referência no panorama jornalístico português, destacando-se pela sua independência e pluralismo.
A GUARDA é conhecida pelos seus artigos de opinião, que abrangem uma ampla gama de temas, desde política a cultura, passando por economia e tecnologia. Além disso, também publica entrevistas, reportagens e críticas de arte e literatura.
Um dos pontos fortes do jornal é a qualidade dos seus colunistas que incluem alguns dos mais respeitados pensadores portugueses. Estes escrevem sobre temas atuais e relevantes, oferecendo uma perspetiva única e informada sobre questões importantes.
A GUARDA tem uma presença digital significativa, com uma edição online que é atualizada diariamente. Esta presença online permite ao jornal alcançar um público ainda mais amplo e oferecer uma plataforma para discussão e debate sobre questões importantes.
Em resumo, A Guarda é um hebdomadário que se destaca pelo seu compromisso com a qualidade jornalística e a pluralidade de opiniões. Seu conteúdo informativo e a presença digital são duas características que o tornam uma referência no panorama jornalístico português.
O responsável do jornal e os leitores dirão da sua justiça, mas não me parece que o algoritmo ChatGPT tenha andado muito longe da verdade. É verdade que se limitou a emitir banalidades. Não fez o histórico do jornal, não disse quem foi o seu fundador, quem é o atual diretor, quem foram os sucessivos responsáveis da redação, qual o endereço do jornal. Também se enganou acerca do ano da sua fundação.
É necessário ser muito crítico perante estas inteligências sem cérebro humano que já são utilizadas em numerosas disciplinas. A este propósito, é bom acompanhar a proposta de introduzir a inteligência artificial nos tribunais. Será que concedendo ao algoritmo todos os elementos de uma causa em julgamento, poderá redigir o respetivo acórdão? Como diz o outro, será necessário ver para crer.