O Iberismo é mais uma idiotia de intelectuais, na realidade uma excreção das “Luzes”.


E é-o, precisamente, porque aprofundar o conhecimento próprio é a tarefa suprema de qualquer ser humano que se preze – o que fica infinitamente aquém de devaneios. Mas os intelectuais devem achar graça…
Mais. Se expulsarmos o concreto – os exemplos estão permanentemente a ocorrer – ele, posteriormente, sobre carregar-nos-á a galope. E – drama inenarrável – raríssimos são, em Portugal, os que sabem História do nosso País.
Como é que duas identidades tão distintas como a portuguesa e a castelhana-espanhola iriam conciliar-se? Não nos basta já – hic et nunc – saber o que se passa do outro lado da fronteira? “A identidade de interesses é o mais seguro dos vínculos entre Estados e indivíduos”, disse Tucídides. Num predomina a continentalidade, noutro o mar. Até uma figura tão oportuna como Mário Soares já anda a exaltar a lusofonia… E, pelos vistos, ninguém lhe lembra certas e precisas atitudes… A distância entre “A Europa connosco” e a Lusofonia são os antípodas !!??...
E sabia o Sr. Reitor que foi como reacção ao Iberismo dos intelectuais da 2ª metade do século XIX que nasceu a SHIP, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, cuja sede é precisamente o Palácio de S. Domingos, do qual, em 1640, foi defenestrado Miguel de Vasconcelos?
O melhor manuelino que, depois de Lisboa, existe em Portugal está em Olivença – essa “pérola portuguesa”, como a qualificava, há já muitos anos, El País.
Por sua vez, D. Federico Trillo y Figueroa, então Ministro dos Assuntos Exteriores de Espanha, declarou, na comemoração dos 700 anos do Tratado de Alcanizes, em Santa Maria de Aguiar, que “na questão de Olivença Espanha não tem defesa”. Foi ouvido por próceres, historiadores dos dois países, e gente diversa. Agradeci-lhe em castelhano e os Drs. Almeida Santos e António Vitorino, que o ladeavam, ouviram-no muito bem. Foi isto em 12-IX-1997.
Sabia o Sr. Reitor que os oliventinos já conseguiram a dupla nacionalidade? Que o Português já voltou a ser ensinado nas escolas? Que nas lápides toponímicas as designações em Português já regressaram, tal como as legendas no Museu? Que a “Associação Além-Guadiana”,com força máxima, preserva a cultura portuguesa? Quantas vezes já visitou aquele emocionante pedaço de Portugal?
Mesmo que não seja um emotivo asseguro-lhe que se emocionará, mormente nos templos e no museu instalado na Torre de D. Dinis – e um dos templos foi edificado no tempo dos Filipes. Arranje um guia de qualidade e alcandorar-se-á a uma experiência perene.
E sabe da safadeza da petrolífera Repsol relativamente aquele cativo pedaço de terra lusa? Que se trata de uma traição de Espanha ao que ela própria se comprometeu após o Tratado de Viena?
E voltamos às palavras de Saéz Delgado quando declarou que “não há fronteiras”. Mas, sendo ele de Badajoz, por que calou a ignomínia espanhola sobre Olivença? E por que é que José Antonio Monago, Governador da Estremadura espanhola (Extremadura), dizia, em artigo no Público, há cerca de um mês, que a sua é a região de Espanha onde o ensino do Português se avantaja, ocultando – sabemos a razão… – que isso resulta precisamente do interesse dos oliventinos pelo seu multi-secular idioma. Tão esperto!!...
Imperativo, outrossim, é falar aqui da visita a Portugal, antes d’ontem, do actual rei d’Espanha.
Retórica circunstancial é uma coisa, factos são outra. Um homem sublime, que é imperativo exaltar pelos seus patriotismo, valentia, espiritualidade e honradez, num primoroso artigo n’O Diabo (8-VII-2014) – e primoroso e desassombrado como tudo o que escreve – foi claro: “o rei de Espanha vem a Portugal para marcar terreno”. Ao finalizar:” Eu não lhe posso desejar as boas vindas”.
Esta conversa, Sr. Reitor, seria infindável, mas o espaço, na Imprensa, é um luxo.
As palavras de Saéz Delgado remeteram-me, automaticamente, para Heraclito: “Homero merece ser expulso dos concursos e ser açoitado, bem como Arquíloco” e “Um tolo está sempre pronto a alvoroçar-se perante qualquer teoria ou discurso”.
“A falta de personalidade das elites portuguesas constitui um perigo nacional permanente”, disse Artur Ribeiro Lopes. Não queira integrar este grupo Sr. Reitor. E também não se deixe conduzir pela idiotia do maniqueísmo, dicotomia, da direita e esquerda, mas pela verdade com dignidade e afincado trabalho. Só o conhecimento de nós próprios nos desbravará a Felicidade.
E, em nome da excelsa Verdade, não poderia deixar de afirmar-lhe – tão-só – três imperativas visitas: o padrão mesmo ao lado da entrada da bela igreja de Escarigo; a emocionante Almeida (“Alma até Almeida; e de Almeida até além alma também); o tecto manuelino da igreja paroquial de Vilar Formoso.
Então propiciar-se-á um sentimento sobre a monstruosidade do Iberismo e como a decantada Europa é, afinal, uma “traquitana” (o termo é de Vasco Pulido Valente).
9/07/2014.