Há semanas recebi um convite do Senhor Presidente da Câmara para a Sessão Solene de Entrega do Prémio Eduardo Lourenço 2014, a ter lugar no dia 3p.p.


Decidi honrar o convite, mesmo que a minha intuição, com arrasador vigor, me comunicasse que seria uma grandessíssima maçada. E foi. Tal qual.
A dada altura usou da palavra o Reitor da Universidade de Coimbra que não só lamentou que, antanho, os nossos antepassados tivessem expulso os muçulmanos como não considerou nada de mal que Portugal tivesse sido invadido por Castela e Espanha. Reagi com toda a força a esta enormidade (não fui o único), assim como houve quem, na assistência, tivesse ficado estupefacto, horrorizado.
Sejamos claros. Preferia o Sr. Reitor que, desde há gerações e hodiernamente, nos cruzássemos com burkas e rostos femininos tapados, ademais de barbudos e bigodudos? Esclareço. Na minha Vida tenho amigos barbudos e alguns são de uma superlativa bondade (pela franqueza que segue peço-lhes uma inexprimível desculpa). Mas já li cinco vezes – conquanto nem uma só em idioma luso – que os homens que deixam crescer pêlos têm um défice de afirmação que julgam poder branquear desse modo.
…Ademais de barbudos e bigodudos. Ou ignora o Sr. Reitor que, em Espanha – precisamente – onde, na paisagem social, tal não falta, isso constitui um problema muito sério que as próprias autoridades não conseguem solucionar? Mais. Ignora o Sr. Reitor que, para os muçulmanos, a mulher é a fêmea e a criada e que, na mente dos homens, as sevícias, às cônjuges, por mais monstruosas, não são qualquer problema de consciência nem, conjecturo, jurídico? Para não falar já da poligamia, dos haréns, dos raptos, das mutilações genitais…
Ignora, além disso, que casamentos de muçulmano com católica resultam em dramas lancinantes?
E não cuide o Sr. Reitor que isto é qualquer posição de intelectual. Há precisamente trinta anos, no meu périplo por Marrocos, dormi seis vezes em casa de um amigo marroquino. E sempre que estou em Espanha, em casa dos meus fraternos amigos, sou informado e confrontado com situações de hedionda violência do marido – a tal ponto que, num dos casos, a esposa se refugiou num mosteiro budista.
É oportuno recordar que D. José Policarpo, o anterior cardeal, avisou contra tais perigos – mas logo a intelectualidade que ocupa espaço na imprensa “de referência” se insurgiu contra tal apodíctica. Por mim basta-me lembrar a intelectualidade de Veimar para considerar que os intelectuais são dos tipos humanos mais perigosos que se podem encontrar (e isto disse-o assim, tal qual, na Casa da Cultura de Coimbra quando, em 28-X-2011, aí apresentei um livro).
Fora do âmbito do religioso nenhuma questão se percebe ou tem sentido, mas, no fundo, o Islamismo não é religião nenhuma. O “olho por olho, dente por dente” aí está a corroborá-lo. Uma religião só pode sê-lo se erigir o perdão a suprema, indeclinável, postura na Vida. Há vários anos, na VICEG (via de cintura externa da Guarda) um camionista TIR marroquino estava perdido numa rotunda. Intuindo a situação prestei-lhe ajuda, após o que conversámos uns minutos. Informado das minhas semanas de estada em Marrocos quis saber como encarava o futuro do seu país. Fui cru : “Ou mudam de religião ou não têm hipótese nenhuma”. (Conversa havida no idioma galo).
E, Sr. Reitor, por que serão tensas as relações Espanha-Marrocos? Apenas pelo ínsito e consabido imperialismo espanhol? “D’ Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. E, no caso de Olivença, nem bom cumprimento. Os militarismo, imperialismo e disciplina espanhóis estão escancarados no analitismo do seu idioma, tal como na Fonética e na Ortoépia. Sabia?
Mas Espanha tem um movimento editorial infinitamente mais qualificado que o português. Vou muitíssimo frequentemente à livraria e muito do que lá vejo editado em Portugal é lixo – simplesmente lixo.
Tem o Sr. Reitor esse hábito? Fala frequentemente com livreiros e editores? Por sua vez, um conhecido editor e livreiro salamantino exclamou-me um dia: “Em Portugal não têm livros!”. Ao menos clientes portugueses não lhe faltam.
Em termos artísticos e de afirmação museística a Espanha está – a nível mundial – logo a seguir aos EEUU. Sabia? Vá ao Thyssen-Bornemisza, ao Prado (Madrid), ao IVAM (Valência), ao MARC (Alicante), às Fundações Miró ou La Caixa (Barcelona), ao Museu de Belas Artes ou Guggenheim (Bilbau) e confirme-o. Limitei-me a dar-lhe alguns exemplos que me são familiares.
E já estamos na segunda – e também muito momentosa – questão, que é a das relações Portugal-Espanha.
Diferentemente da incompetência dos que, em Portugal, passam por ser governantes, aos espanhóis nada os desviará do seu caminho.
E o seu – sempre acalentado – anelo é dominarem Portugal.
Quando falo de incompetência (ou perversão) nacional não tenho em mente, apenas, os hediondos tipos que o 25-IV trouxe. As ignorância e debilidade de Marcello Caetano ou a ingenuidade de Silva Cunha aí estão a atestá-lo. E – para não ir mais longe – baste-me – ad nauseam ! – a hediondez republicana de 1910 a 1926.
…Dominarem Portugal. Do escritor ao filósofo, do militar ao professor universitário, Portugal é – ou será – espanhol. Até a capa de uma revista tão conspícua como a Revista de Occidente nos dá indicações a esse respeito. A questão é que Espanha – sobretudo o resultado da expansão de Castela – é excluente. Prefiro estar com castelhanos, valencianos ou andaluzes a catalães ou bascos, mas não esquecerei com que veemência e asco um catalão me dizia no Museu do Prado: “É português? Não sabeis a sorte que tendes por terdes expelido os espanhóis”. E um basco: “Se eu fosse espanhol…”. Por sua vez, um conspícuo e diuturno amigo andaluz afirma-se “primeiro andaluz; depois espanhol”.