A memória das palavras

“Este ano, do meu conhecimento, vão estar três autores da Guarda a autografar obras, na Feira do Livro de Lisboa: Ana Isabel Martins, António Martins e Jerónimo Jarmelo”.
As habituais feiras do livro que costumavam realizar-se em junho, este ano foram transferidas para este mês de setembro. Tanto em Lisboa como no Porto, decorem até 13 deste mês. Sempre foram local propício de encontro com escritores e de lançamento de novas publicações. Recordo a primeira vez que fui ao Parque Eduardo VII e andei por lá perdido até ao fecho da Feira subindo e descendo os dois lados, folheando, cheirando, manuseando. É um verdadeiro prazer, para os amantes de livros, percorrer aquele espaço e ver com as mãos os novos livros ou aqueles que pretendemos adquirir / ler. (Obviamente este ano devido à pandemia não será fácil o tacto sentir tanto.) Também a possibilidade de contacto / conversa com os escritores é algo aliciante pois podemos ver e ouvir aqueles que já conhecemos das palavras escritas. Claro que se corre sempre o risco de termos uma decepção, já que entre a sedução da palavra escrita e a sedução da palavra oral, às vezes, vai uma diferença bastante grande. Se a escrita nos seduz, a conversa ou até o contacto com o autor podem tornar-se menos sedutores e causar um afastamento da figura real do escritor. Das romarias à feira, recordo com maior apreço o encontro, ainda que breve, com José Saramago. Já tinha lido quase todos os livros publicados e, por isso, em 1984, aproveitei a sua presença na Caminho, a dar autógrafos e apareci por lá. Comprei o “Levantado do Chão” e acerquei-me para receber o autógrafo. Como não havia muita gente, pude trocar umas palavras com o autor e fiquei com boa impressão. Revelou-se uma pessoa afável e próxima do leitor. Falámos um pouco sobre o “Memorial”, que tinha lido duma assentada, e da Blimunda, criação magnífica do autor. Por esta simpatia e não só, claro está, fiquei a gostar do autor, apesar das suas ideias. Mais tarde, revelam testemunhos, tornou-se menos simpático, mas a imagem positiva que ainda hoje retenho, deve-se a esse encontro fugaz. Outros autores encontrei por lá, mas nenhum me cativou desta maneira.Vem este texto a propósito para referir que este ano, do meu conhecimento, vão estar três autores da Guarda a autografar obras, na Feira do Livro de Lisboa: Ana Isabel Martins, António Martins e Jerónimo Jarmelo. A Ana vai estar no dia 6, domingo, a partir das 11:30, no pavilhão da editora “Cordel d’Prata” a autografar a sua obra “O Guarda Chuva Amarelo”. Trata-se do primeiro livro da autora, dirigido ao público infantil e que revela toda a sensibilidade de quem o escreveu. Desde o 8º ano, quando foi minha aluna pela primeira vez, que a Ana mostrou uma propensão para a escrita porque era uma boa leitora. Aquilo que mais se realça nesta história é a beleza dos sentimentos o humanismo que a autora põe em cada pormenor. Recordo que a autora já foi premiada duas vezes pela Câmara de Manteigas, com dois textos a editar posteriormente, espero eu.António Carlos Martins vai apresentar / autografar o seu terceiro livro “Cem Pensamentos sem Sentido” em data e dia a indicar. O livro contém uma série de reflexões sobre a vida e o ser humano pois o seu autor é sacerdote e estudou nos seminários da diocese. Natural de Vale de Azares, já enquanto estudante revelou alguma propensão para a escrita e aproveitou esse dom para partilhar com todos nós alguns pensamentos enriquecedores do nosso dia a dia. Os textos são uma recolha de pequenos apontamentos que o autor foi escrevendo nas redes sociais ou registando no papel fruto de reflexões ocasionais.O terceiro autor já é mais consagrado no mundo da escrita e tem várias obras publicadas. Jerónimo Jarmelo, pseudónimo de Jerónimo Pereira dos Santos, é natural da Castanheira do Jarmelo, vive na margem sul. Publicou vários romances e livros de poesia e irá apresentar no próximo sábado, dia 5, na “Tenda dos Pequenos Editores”, das 18 às 19, o seu livro “Contos das Terras Altas”. Dos livros publicados, destacam-se “As Ninfas do Índico”(2014), sobre a guerra colonial e que se passa em Moçambique e “Uma Flor no meu Deserto” (2018) que é sobre a Revolta da Mealhada, em 1946 contra o regime salazarista. É uma história de amor entre uma fervorosa adepta do ditador e um dos participantes na referida Revolta preso no Forte da Trafaria.Claro que realço estes autores por serem da nossa terra, mas há muitos outros motivos para uma visita à Feira do Livro. Diariamente, como é habitual nestes eventos, haverá sessões de autógrafos com a presença de escritores, com o objetivo de promover o contacto directo entre a escrita e a pessoa que está por detrás da mesma.