Relativamente ao mês que vivemos, nós que estamos por cá sempre sentimos as temperaturas altas.

Estamos na estação do ano mais quente em que a água é mais necessária para todas as actividades, nomeadamente na agricultura, na higiene e mesmo no lazer.
Estamos a viver um ano atípico muito seco e muito quente, em que as temperaturas máximas atingem valores que muito pouco se têm visto por cá. Começam-se a sentir racionamentos de água em detrimento da actividade agrícola, que terá uma diminuição muito significativa nas forragens, o vai afectar tudo o que se extrai da nossa fauna, como a carne e o leite, que são bens essenciais na dieta dos portugueses.
Evidentemente que o que as altas temperaturas tornam mais difícil são as tarefas rurais. Muito embora o trabalho braçal esteja posto de lado, devido à evolução da maquinaria agrícola não deixa ser um serviço violento, muito embora algumas dessas alfaias já estejam equipadas com ar condicionado não deixa de ser um trabalho violento, pelo menos aqui pelas nossas bandas, devido a pequena dimensão e geografia dos terrenos.
Mas convém dizer que este esforço em nada se compara com aquele que tinha de se fazer em meados do século passado, pois tudo se desenvolvia à conta do suor humano
Vem isto a propósito de uma conversa com um companheiro de velhice e que a boa disposição e a força do hábito me leva a dizer que é um rapaz da minha idade. Estava ele a falar da arranca das batatas, quando se produziam muito por cá, em que ele andava semanas inteiras a ajudar outros, para poder granjear numa troca homens para arrancar as suas. Mais não era de um sistema de ajuda por ajuda.
Toda a conversa estava correr muito bem ao recordar os tempos de outrora, mas desentendemo-nos quando ele acabou por afirmar: - Eram bons tempos!
Não me pude conter e fui direto ao assunto argumentando a minha opinião. Fiz-lhe ver que o bom tempo em questões de bem-estar, durante a nossa vida nunca foi como agora, que não gabe os tempos daquela escravidão que sofremos. Mas também lhe disse, não há bela sem senão, nesta vida melhor que passamos agora, temos dois achaques que não podemos contrariar, é evolução da idade e as doenças que a contagem dos anos nos impõe. Com certa saudade lembro aqui as últimas palavras do meu pai ditas na cama do hospital onde faleceu. O último médico que por ele passou perguntou-lhe: - De que se queixa senhor Henrique? Logo saiu uma resposta sábia e pronta: - De velhice senhor doutor e é mal que não tem cura. Poucos minutos mais viveu, partiu serenamente e convencido que chegava ao fim a sua viagem que fez cá pelo mundo dos vivos.
Uma situação que se está a tornar mais violenta que nos tempos mais recuados, é o combate aos incêndios florestais. Tudo isto acontece por que as questões de vida melhoraram muito, o despovoamento rural atingiu valores de que também não temos memória. O abandono dos campos e falta de limpeza nas florestas torna-se um pasto perfeito para as chamas do fogo selvagem. Apesar do equipamento também estar muito mais avançado não deixa de ser evidente que alguns dos soldados da paz caem na frente do fogo, quando a sua intenção era combater o perigo que ameaçava pessoas e bens. Deixo aqui uma palavra de apreço aos bombeiros de Portugal pela sua generosidade e pelo brio que têm na sua divisa, “VIDA POR VIDA”.
Tudo o que deixo neste meu escrito, não deixa de ser aquilo que eu penso, não tenho ambição de agradar a gregos ou a troianos, sou senhor da minha opinião mas não sou dono da razão. Muito eu gostava de a ter sempre comigo, só que muitas vezes sem eu me aperceber a dita razão acaba por me fugir.
Mas neste mês bem acalorado não nos resta outra coisa que não seja aguentar. Apetece aqui parafrasear uma amiga minha que vive no Minho. Baseia-se então numa redundância para nos fazer sorrir. Quando lhe pergunto como vai a saúde dela e da família, dá como resposta, “Vamos andando indo”.
Por hoje fico por aqui. Haja saúde e temperatura amena para todos nós.