Antes da Ponte Aérea: que soluções?

Como referido, as pessoas procuraram soluções para conseguir a fuga de Angola. Até à criação da ponte aérea entre Portugal e Angola, a população já havia procurado outro tipo de saídas, uma vez que em maio de 1975 “os aviões para Portugal vão cheios e as listas de partidas estão bloqueadas por vários meses”. Também no mesmo mês houve apelos à calma, pedindo-se que as famílias que procuravam sair de Angola repensassem essa decisão, como fez o Ministério da Coordenação Interterritorial, que “emitiu um comunicado em que convida os portugueses a repensarem calmamente as suas decisões”, pedindo que confiassem “numa Angola que não pode deixar de encontrar os caminhos de convivência harmoniosa e da paz”. Outro responsável do governo português, sabendo que eram já, em maio, trinta mil os portugueses inscritos para viajarem para Portugal, declarou “esperar que muitos dos portugueses inscritos para regressarem para Portugal venham a desistir do seu intento, uma vez que a situação tende a normalizar-se”.Estando então os voos todos ocupados, as pessoas procuraram outras soluções para encontrarem um destino que lhes garantisse segurança. Um dos países a ser ponderado para esse efeito foi o Gabão. Em alguns meios portugueses de Luanda, constava que este país francófono era uma opção segura, uma vez que tinha “estabilidade do regime, economia em plena expansão, necessidade de mão de obra e, sobretudo, dá auxílios concretos ao imigrante”. Contudo, o consulado francês da capital angolana informou que “as autoridades francesas não têm qualidade para dar vistos para o Gabão”, o que dificultava o acesso legal ao país.Outro país para o qual algumas pessoas fugiram foi África do Sul. Em junho, o Diário de Coimbra noticiou que chegavam a “África do Sul os primeiros grupos de refugiados brancos vindos de Angola”, ficando instalados num campo perto de Pretória.Também houve quem optasse pela via marítima, como foi o caso de 1000 colonos que desembarcaram no Cais da Rocha, num paquete que trazia na sua maioria “familiares (mulheres e crianças) de ferroviários da região de Luanda, fugidos aos últimos incidentes verificados naquele território”. Em Luanda, ao desembarcar, referiram que tinham contado com o auxílio de forças portuguesas.Para além disso, houve ainda quem delineasse como plano para a saída de Angola uma viagem de camião ou veículo próprio. Esta situação foi noticiada a 1 de julho pelo Diário de Coimbra, que nos dá conta do objetivo de alguns colonos angolanos que, sem outra solução, tencionavam “fazer a viagem até Portugal atravessando o continente africano, integrados num comboio formado por 2500 veículos”. Essa coluna seria constituída por 2000 camiões e 500 automóveis particulares, sendo que os alimentos seriam transportados por camiões-frigoríficos. Esta iniciativa contava com o apoio do ministro português dos negócios estrangeiros, que naquela altura “teria já pedido autorização de passagem a vários governos por onde o comboio seguirá”, tendo inclusive conseguido a aceitação de alguns desses países.Em agosto, verificando a dificuldade em conseguir bilhetes, também chegaram a Oshaki, uma cidade do norte da Namíbia, cerca de 4 mil europeus refugiados de Angola, “a bordo de 700 camiões, automóveis e veículos de todas as espécies”.