Durante a minha existência, nunca ouvi falar tanto e tantas vezes de guerra como nos dias de hoje.

E, francamente, não vislumbro uma réstia de esperança para um tempo de paz. Quando mais a guerra dura, mais as negociações se amenizam.
E ouvem-se afirmações da parte dos profissionais, sobretudo dos políticos, que a guerra tem de continuar para destruir, aniquilar, exterminar, abater, liquidar. Nestas afirmações guerreiras poupa-se sempre o termo de matar, porque, à frente destas palavras, que compreendem ações violentas, só nos deparamos com mortos e destruições.
E as partes implicadas nesta guerra que se trava na Ucrânia estão convencidas que só pela destruição sistemática de tudo e de todos se ganhará a guerra. Ouve-se de parte a parte o slogan carregado de cólera: iremos até ao fim! Até ao fim de quê? Da vitória final assente no ódio, no sacrifício humano de milhares de soldados, da crueldade mais bárbara em que já não há espaço para gestos de humanidade. Nos combatentes, o espírito primário de conservação é substituído pelo desdém da vida humana, pelo apelo ao sacrifício das suas próprias vidas, pelo imperativo de matar a torto e a direito. O adversário não é uma pessoa; é um inimigo a abater, um alvo a destruir e a eliminar, não só enquanto pessoa humano, mas tudo o que ela possui à sua volta.
Na guerra palpita-se o maniqueísmo, a bipolaridade. Não há lugar para a nuance, para a dúvida, para a hesitação. Tudo é absoluto e unicamente para abater. Na guerra não há lugar para interrogações. É a obediência cega de matar.
Nem a Rússia nem a Ucrânia querem perder. Dos dois lados, perder um palmo de terra é uma autêntica derrota.
Mais armas, mais tanques, mais aviões. O objetivo já não é a defesa do seu próprio território, mas a destruição total do outro.
Haverá um tempo para procurar a paz? Os filósofos dizem que enquanto o inimigo não for considerado como um interlocutor digno de confiança, nenhum acordo de paz será possível.
Às vezes pergunto-me onde estão os diplomatas? Os governantes deveriam dar-lhes ordens com a exigência de procurar e de negociar acordos de paz. Não fariam mais do que seu papel. O que fazem as instituições que nasceram para acabar com as guerras como a ONU? Poucas ações se têm visto da parte das mesmas, a não ser, há alguns meses, o acordo de evacuação dos cereais, o que matou a fome a muita gente, me vez de apodrecerem ou serem destruídos nos celeiros ucranianos.
Estamos todos conscientes que nada de bom se prepara. Devemos continuar na lógica de guerra e desenvolver até ao máximo o instinto de destruição onde não haverá espaço para a negociação durante anos?
Pelo momento, custa-nos a acreditar que uma outra maneira de agir seja possível, pois sabemos que quanto mais tempo a guerra dura, mais o desejo de negociação diminui, sem se vislumbrar a mais ténue luz ao fim do túnel.