Entre margens da Palavra


0. Preparo-meProcuro um lugar adequado e uma boa posição corporal. Respiro lenta e suavemente.Silencio os pensamentos. Tomo consciência da presença de Deus, invocando o Espírito Santo.
1. O que diz o texto- Leio pausadamente Mc 4,35-41.- Sublinho e anoto o mais significativo.A travessia do lago, a pedido de Jesus, não é pacífica. Os discípulos, dominados pelo medo, reclamam de Jesus. Ele, desperto, acalma a tormenta e questiona a sua fé.
2. O que me diz Deus- Imagino-me na tempestade, com Jesus. Que sinto? Este Evangelho evoca a oração do papa Francisco na Praça de São Pedro vazia, no início da pandemia. O convite a passar à outra margem é, na verdade, a travessia da existência. É tomar a fé como incentivo e itinerário existencial. É enfrentar os medos e a tentação de me acomodar a cada paragem “tranquila”. Não é Jesus que dorme; é a minha fé que se encontra entorpecida. Ele está na minha “barca”. Ele é minha âncora, meu leme e esperança. Nenhuma tormenta me afunda, se a fé me mantém desperto.
3. O que digo a Deus- Partindo do que senti, dirijo-me a Deus, orando (de preferência com palavras minhas).Senhor, minha fé é pequena. Sinto-me frágil e desorientado nas tempestades da vida. Assusta-me o teu silêncio que aparenta sono, em vez de me confortar com a tua presença. Sei que estás comigo. Não pretendes tomar minha liberdade nem meu lugar. O que preciso é alcançar essa outra margem de mim, onde me esperas, firme.Mesmo cansado de um dia extenuante, revelaste-Te forte. Tal como na manhã de Páscoa, despertaste da fraqueza humana para Te revelares na força divina. Esqueço que a fé não é um seguro, mas um desafio. “Passar à outra margem” é passar do medo à confiança. É atravessar a tentação de viver centrado em mim. É remar contra a corrente de uma crença que depende de milagres e alcançar a fé que se nutre da tua presença. Porque estás comigo, remarei, decidido e responsável, sem culpabilizar.
4. O que a Palavra faz em mim- Contemplo Deus, saboreando e agradecendo.Senhor, sei que não me deixas só: estás na barca da minha existência. Agarrado aos remos da fé e da esperança, entrego-me na caridade. Agradeço. louvo e contemplo.Inspira-me o que esperas e mereces de mim. Apoiado em Ti, comprometo-me em algo oportuno e alcançável, crescendo na minha relação diária conTigo e com os outros.
PROVOCAÇÕES- Nas tempestades da vida, recrimino ou confio em Deus?- Em que circunstâncias minha fé adormece?- O que transmito aos outros: pessimismo e medo ou confiança e fé?
UM PENSAMENTO“Cheio de Deus, não temo o que virá, pois, venha o que vier, nunca será maior do que a minha alma.” (Fernando Pessoa)
UM DESAFIOPedir ao Espírito Santo a graça de enfrentar as tempestades com fé.
ARQUIVO & PODCASThttps://seminariointerdiocesanosj.pt
UMA ORAÇÃO-POEMA
Transito à outra margem de mimtendo esta vida por travessia.Zarpo das praias ilusórias do parecermergulhando na profundidade do ser.Ainda que me experimentena noite, de medo mareadoe sensação náufraga e tremidade nada conseguir ou poder,é na tormenta temidaque a fé sai desperta, forjadaà medida do meu Deus.Na frágil barca da existênciadescubro, de coração marejadoo milagre maior da presença Tua,minha âncora e meu leme.Assim apoiado, de remo, rumoà outra margem de mim.