Páscoa do silêncio e do recolhimento

No drama da pandemia, “perante tantas certezas que se desmoronam, diante de tantas expectativas traídas, no sentido de abandono que nos aperta o coração”, parece que “tudo está consumado”, que tudo acabou. No meio do desânimo e da incerteza é sempre consolador ouvir palavras de esperança. Na celebração de Domingo de Ramos, o Papa Francisco afirmou que “quando nos sentimos encurralados, quando nos encontramos num beco sem saída, sem luz nem via de saída, quando parece que nem Deus responde, lembremo-nos que não estamos sozinhos”. Esta é a verdadeira realidade pois “o drama que estamos a atravessar impele-nos a levar a sério o que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouco valor; a redescobrir que a vida não serve, se não se serve. Porque a vida mede-se pelo amor”Os cristãos celebram, a partir de hoje, 9 de Abril, o Tríduo da Paixão Morte e Ressurreição de Jesus. Habitualmente, este tempo é marcado por cerimónias concorridas e de grande devoção popular. Em muitos lugares, estes momentos ganharam fama e, ao culto religioso, associou-se uma grande movimentação de pessoas, através do designado turismo religioso e turismo de massas.  Este ano e de forma generalizada, os momentos cruciais da vida de Jesus, terão de ser vividos, pelos cristãos, no silêncio e no recolhimento, de uma forma mais intensa e sublime. É o regresso ao espírito das comunidades primitivas onde todos eram importantes e tinham o dom da proximidade e da partilha. Esta Páscoa que, tal como sempre, acontece no primeiro domingo depois da lua cheia após o início do equinócio vernal, fica o convite para sabermos olhar para os “verdadeiros heróis que vêm à luz nestes dias”. Como dizia o Papa aos jovens, os verdadeiros heróis de hoje “não são aqueles que têm fama, dinheiro e sucesso, mas aqueles que se oferecem para servir os outros”. Por isso, todos nos devemos sentir chamados a arriscar a vida, sem ter medo de a gastar por Deus e pelos outros. Este é o tempo da renovação, o tempo de dar importância ao que é importante, o tempo de olharmos mais uns pelos outros.