O que antes era trabalho e ganha-pão transformou-se agora em atracção turística ou mesmo Festival de Cultura Popular.

Em tempo idos, mas não muito remotos, nesta altura do ano, os pastores e rebanhos da Serra da Estrela e não só, começavam a preparar a descida às planícies, em busca de lugares mais abrigados e pastagens mais abundantes. O frio tomava conta dos lugares mais altos da montanha, obrigando homens e animais a percorrer longas e estreitas canadas. Era o tempo da transumância descendente, para as zonas mais baixas, onde os pastos voltam a reaparecer com as primeiras chuvas.
Devido à neve e ao frio, sobretudo em aldeias de montanha da Serra da Estrela como o Sabugueiro, Folgosinho, Videmonte, Fernão Joanes, os pastores faziam grandes caminhadas, a partir de Outubro, conduzindo os rebanhos para zonas mais quentes, alguns deles para as campinas de Idanha-a-Nova.
Com o passar do tempo, diversos factores influenciaram o fim deste trabalho sazonal que marcava a vida e o ritmo dos povos das encostas da Serra. Primeiro foi a debandada das gerações mais novas em busca de melhores condições de vida e, como consequência, a falta de braços não só para o cultivo das terras mas também para a pastorícia. O número de cabeças de gado foi diminuindo de forma natural. As alterações climáticas, com invernos cada vez menos rigorosos, também foram ditando o fim da prática ancestral da transumância. A falta de incentivos, a quem vai resistindo nos lugares mais inóspitos, acabou por dar a machadada final, numa tradição que, se não se souber reinventar, tem os dias contados.
Os cajados, as chavelhas, as mantas, as campainhas, os chocalhos, as ferradas, são alguns dos artefactos ligados à pastorícia que deixaram de ter uso e passaram a meras peças decorativas ou de museu. De prática comum ancestral, a transumância caminha agora, a passos largos, para um evento cultural sem chama e sem alma. De tradição já pouco ou nada tem…