Ora cá estamos nós, na última etapa do ano vinte e um do século vinte e um. Em conformidade com a duração diurna, podemos afirmar que cerca de dois terços do percurso é a descer e o último terço é a subir.Percorre-se numa descida de feição para nos despedirmos do outono, já que com a chegada do inverno os dias começam a crescer. Tudo isto muda no solstício de inverno que ocorre no dia vinte quando faltar um minuto para as dezasseis horas.Acontece que a partir desse momento o espaço diurno começa a crescer durante um espaço de meio ano. A sabedoria popular, sempre atenta a este fenómeno ditou algumas sentenças sempre bem acolhidas por quem as ouve, tais como: “ Em dia de Natal têm mais um passo de pardal” e “A um de janeiro um passo de carneiro”. Outros em tom mais prático dizem que “Depois do menino nascer, é tudo a crescer”.Estamos a falar de um mês que devido ao frio aqui pela nossa região se fica mais por casa e se vive melhor o aconchego familiar usufruindo de várias fontes de calor, que vão desde a lareira às técnicas mais avançadas. Podemos dizer que o calor humano enche toda a casa onde reine a generosidade. Nos tempos que correm, com o mês de dezembro mais voltado para o consumismo do Natal, podemos afirmar, que outos cultos deixaram de ter a importância que lhe era atribuída em tempos idos. Estou a falar de Santa Leocádia, Santa Eulália, Santa Luzia padroeira dos oftalmologistas e daqueles que têm problemas de visão, de Santo Estevão o primeiro mártir e mesmo o São Silvestre, que apenas é recordado pelas provas de atletismo que têm lugar em algumas cidades de Portugal onde este desporto tem certo cabimento. Em meu entender esta prova foi importada do Brasil, onde já brilharam os atletas portuguese como Carlos Lopes e Rosa Mota, na maior cidade lusófona em São Paulo, que por se situar no hemisfério sul acontece no verão.Embora não aconteça pelas minhas bandas, mas por outras zonas mais frias trata-se do fumeiro, tirando partido do calor das lareiras, para apresentarem no mercado, este produto endógeno nas melhores condições, ainda no inverno, mas já no ano seguinte.Durante o mês de dezembro no que respeita à culinária portuguesa, podemos dizer que há três iguarias que sobem à mesa com toda a pompa e circunstância, tanto nas ementas alusivas ao Natal, como nas lagaradas onde ninguém despreza o paladar do azeite novo. Estou a falar do bacalhau, do azeite e da couve penca. As batatas também entram, mas como se comem todo o ano e com vários arranjos da cozinha, no meu ponto de vista não merecem aqui o mesmo destaque.Já que estamos a falar do que por aqui se come, sem menosprezar qualquer dos manjares que aqui foquei, tenho que vos falar do meu predilecto, só o como uma vez por ano e curiosamente no dia de Natal, estou a falar da roupa velha, que mais não é do que do que restou do tradicional bacalhau da ceia da consoada, a que se acrescentou mais um hábil arranjo da arte de cozinhar.Das várias particularidades que só dezembro tem, há uma outra que também muito aprecio, são os cânticos alusivos à quadra natalícia. Que se vão mantendo, pelo menos nos que vou ouvindo e entoando, inalteráveis ao longo dos tempos desde que me conheço. Caiem bem no ouvido, mesmo em canto à capela, dentro de uma linguagem acessível sem que daí se possa extrair qualquer mal-entendido. Se por ventura tiver cantar, mesmo sem voz para isso só me preocupa o tom musical, pois a letra sei eu de cor se salteada, como se diz por cá.Assim vejo eu o último mês do nosso calendário com as singularidades que possui sem que se possam obter em mais qualquer outra época do ano. Pelo menos que tenham a mesma aceitação. Por aqui vos deixo, voltarei na data em que nos tempos idos se faziam as filhós.Saúde e bonomia para todos nós.