Entrevista: Luís Miguel Gaspar Matos Soares, presidente da Comissão Política distrital da JSD da Guarda

A GUARDA: O Governo deu a conhecer os descontos nas portagens que abrangem as ex-SCUT. O que é que leva a CPD da JSD da Guarda a dizer que “mais uma vez se dá ‘poucochinho’ ao Interior?”A GUARDA: O Governo deu a conhecer os descontos nas portagens que abrangem as ex-SCUT. O que é que leva a CPD da JSD da Guarda a dizer que “mais uma vez se dá ‘poucochinho’ ao Interior?”
Luís Soares: Queremos começar por lembrar que a Senhora Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, prometeu inequivocamente a redução das portagens desde Fevereiro. A medida já estava prevista no Orçamento do Estado para 2020 e a Senhora Ministra prometeu que se não conseguisse a redução das portagens se demitiria. A verdade é que o prazo, estipulado por ela, acabou e a Senhora Ministra nem concedeu os tão afamados descontos, nem se demitiu, sendo esta última, na nossa perspectiva, a única forma de salvar a sua honra.Passaram-se os prazos e os limites razoáveis para uma solução e a Senhora Ministra brinda-nos com este presente envenenado. Agora que o Governo já nos deu a esmola, que nada mais é que uma mão cheia de nada, pode deixar-nos à nossa sorte e esquecer que existe um Interior com graves problemas.Se em Fevereiro a Senhora Ministra apregoava “um regime mais simples e claro para os cidadãos, com menores custos para os que visitam e habitam no Interior”, agora apresenta-nos uma solução complexa e que apenas reduz (e pouco) os encargos aos habitantes e às empresas transportadoras, deixando de fora os utilizadores mais ocasionais. Desse modo, os custos das portagens continuam a constituir um obstáculo ao turismo interno para aqueles que não andam de auto-estrada todos os dias ou que pretendem deslocar-se das áreas mais metropolitanas ao Interior. Da mesma forma são esquecidos os que trabalham fora da sua área de naturalidade, por força das fracas oportunidades criadas pelo Governo no Interior, impedindo-os de se deslocarem mais frequentemente à sua terra natal e de contribuírem para o desenvolvimento do tecido empresarial regional, como faziam antes da introdução das portagens.
A GUARDA: No ponto de vista da CPD da JSD da Guarda quais as medidas que o Governo devia adoptar em relação às portagens nas ex-SCUT?
Luís Soares: Para a JSD Distrital da Guarda é claro: as portagens nas ex-SCUT do Interior deveriam acabar.Dentro do Partido Social Democrata foi sendo defendido o princípio do utilizador-pagador, que na nossa opinião não se aplica às ex-SCUT do Interior, porque para além de vivermos separados da nossa capital por um fosso profundo, num país excessivamente centralizado, não temos vias alternativas às auto-estradas nem os mesmos meios de comunicação e transporte que qualquer zona do litoral tem (uma boa rede de transporte rodoviários, metro ou comboio suburbano).Há disponibilidade para investir 4500 milhões de euros para uma nova linha ferroviária entre Lisboa e Porto e há dinheiro para os Metros de Lisboa e do Porto, mas continua a insistir-se que não há uns “trocos” para acabar com as nossas portagens.A GUARDA: Considera que neste ponto o Interior continua a ser o parente pobre do Governo?
Luís Soares: Não é só com esta questão das portagens que o Interior tem sido prejudicado e discriminado em relação ao resto do país. O Interior tem sido constantemente esquecido por todas as áreas da governação. Agora é simplesmente mais grave, porque foi criado um Ministério para a Coesão Territorial, que nada mais é que um engodo eleitoral. Se antes os Governos de Portugal se iam lembrando de nós em campanhas eleitorais, agora o Ministério da Coesão Territorial, ou Ministério da Propaganda para o Interior, como lhe costumamos chamar, vem atirar-nos com areia para os olhos e fazer-nos acreditar que o Partido Socialista é amigo dos “pobrezinhos do Interior”, quando na verdade é só propaganda barata, organizada, mas barata.Na Saúde, e particularmente no Distrito da Guarda, tem havido sucessivos esquecimentos e faltas de vontade em avançar com a segunda fase do Hospital da Guarda. Na Educação, anunciam-se medidas para a discriminação positiva das Universidades e Politécnicos do Interior, mas estas continuam a ser das instituições mais subfinanciadas do país. Na Justiça, põem-se os processos do Tribunal Administrativo a bailar entre Castelo Branco e Viseu, nunca sendo resolvidos. No Litoral discute-se a evolução da rede 4G para 5G, no nosso Interior temos esperança de vir a ter uma rede de telemóvel estável. “Cultura”, “Interior” e “Governo”, nunca foram palavras de uma mesma frase. Muitos outros problemas foram sendo assinalados e o Governo foi esquecendo e assobiando para o lado.
A GUARDA: A última Cimeira Luso – Espanhola incidiu sobre uma estratégia Comum de Desenvolvimento Transfronteiriço. Como é que esta zona de Fronteira pode beneficiar desta estratégia comum?
Luís Soares: Os dois Governos Socialistas apresentaram na Cimeira Luso-Espanhola um documento que define a sua estratégia política para a zona de fronteira. Já vimos este filme algumas vezes, aquando da distribuição de fundos europeus, com benefícios pensados para o Interior a roçarem as areias das praias do litoral. Vemos agora uma sequela, com uma delimitação de uma zona de fronteira desenhada até às portas de Coimbra, pensada para disseminar os fundos previstos por onde dá mais jeito aos socialistas, esquecendo mais uma vez o verdadeiro Interior de Portugal.Precisamos de desbloquear a nossa economia, precisamos de um plano a 10 anos para o Interior, não precisamos de medidas isoladas em favorecimento de “capelinhas” ou de medidas eleitoralistas que nada nos favorecem. A nossa região necessita de coragem política para implementar investimentos estruturantes e concertados de modo a combater o crescente despovoamento. A oferta de serviços de qualidade e a criação de condições económicas mais vantajosas à fixação empresarial são duas medidas essenciais à inversão desta conjuntura de afastamento das  regiões mais fronteiriças face às áreas metropolitanas.O documento prevê acções pouco concretas, bem como intervenções que apenas vêm “remendar” as infra-estruturas já existentes, esquecendo medidas mais realistas e efectivamente necessárias no curto prazo, como o acesso generalizado às redes móveis no Interior e a aposta em iniciar a transição da ferrovia para a bitola internacional, usada em toda a Europa excepto na Península Ibérica, o que poderá evitar a transformação de Portugal numa ilha ferroviária. A Guarda tem de ambicionar ser um porto seco se quiser ter uma importância estratégica no País, na Península Ibérica e na Europa
A GUARDA: A um ano das eleições autárquicas a CPD da JSD da Guarda já delineou a participação neste acto eleitoral?
Luís Soares: A Juventude Social Democrata já começou a estudar medidas para preparar um plano transversal a todos os concelhos do nosso distrito, que pretendemos arrojado, para apresentar aos jovens e a toda a sociedade civil. Com isto queremos mostrar ao Partido Social Democrata que estamos cá para cerrar fileiras e começar o combate.A JSD quer ser a vanguarda do Partido nestas eleições. Estamos a trabalhar, temos ideias e projectos, somos corajosos e ambicionamos um distrito forte e competitivo. A JSD tem vários quadros jovens capacitados a defender ideias inovadoras e irreverentes, mas enquadradas na realidade dos nossos territórios. Queremos mostrar, como não podia deixar de ser, que a nossa vontade e as nossas qualificações estão ao serviço das nossas terras e do nosso partido, por isso, estamos disponíveis para integrar e até encabeçar listas aos órgãos autárquicos nas próximas eleições. 
A GUARDA: Quais os objectivos para estas eleições autárquicas?
Luís Soares: O objectivo de quem se apresenta a eleições deverá ser sempre o de constituir um programa credível, ambicioso, arrojado e com visão de futuro. Se tivermos este programa, o PSD conquistará o coração dos nossos cidadãos. Se vamos apresentar os melhores programas e as melhores pessoas para os executar, temos de ambicionar uma grande vitória no nosso distrito. Nós, JSD, temos como obrigação assegurar que os jovens do nosso distrito se sintam o mais representados possível nos órgãos autárquicos dos diversos concelhos e, para isso, os nossos melhores estarão disponíveis para, em todos os concelhos, integrar as listas do PSD.
“Hoje vemos os jovens alheados da política partidária e perguntamo-nos porquê, mas esquecemo-nos de lhes perguntar a eles directamente”
A GUARDA: É fácil mobilizar os jovens para a política?
Luís Soares: Os jovens, por natureza, são fáceis de mobilizar. A prova recente disso é a mobilização que houve em torno do movimento para a consciencialização das alterações climáticas.Os jovens precisam de causas justas para se mobilizarem e os partidos conseguiram isso nas suas origens. Mesmo em Portugal, o movimento estudantil foi fulcral para a mudança de regime nos anos 70.Hoje vemos os jovens alheados da política partidária e perguntamo-nos porquê, mas esquecemo-nos de lhes perguntar a eles directamente.Os jovens afastam-se da política partidária porque ninguém lhes pergunta nada, ninguém os ouve. Afastam-se porque a vida obriga-nos a um sprint entre o “ter uma boa média no secundário” e o “entrar rapidamente no mercado de trabalho”, porque vão vendo concursos públicos em favorecimento de membros partidários agradáveis que dizem a tudo “sim” e sem se questionarem, talvez até sem pensarem. Afastam-se porque todos os dias ouvem a palavra corrupção e ninguém lhes dá uma palavra de esperança para a sua vida, esquecendo a igualdade de oportunidades.A nossa JSD é dos jovens. Somos todos jovens. Temos todos os mesmos problemas. Alguns são os que generalizam e confundem uma maçã podre num cesto com um cesto de maçãs podres.O que nós jovens, que fazemos parte da JSD, ambicionamos é podermos todos ter um grande futuro e que o nosso país nos garanta as oportunidades que tanto sonhamos.Para a prioridade dos partidos e de toda a sociedade civil ser a de mobilizar a juventude, basta-lhes que falem com eles, que os ouçam e que lhes dêem voz como pares e não como hierarquicamente inferiores por razões etárias.Os jovens têm muito a aprender com os mais velhos, a experiência tem de pôr travão à impulsividade, mas também os mais velhos têm muito a aprender com os mais jovens, atentos e participantes de um mundo global em rápida mudança. Juntos podemos enfrentar o futuro.