Entrevista: Sérgio Costa – Presidente eleito da Câmara Municipal da Guarda

Sérgio Costa foi eleito como novo Presidente da Câmara Municipal da Guarda, nas eleições autárquicas do dia 26 de Setembro. Tem 45 anos, é natural Peso da Régua mas reside na Guarda há 27 anos. É licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Politécnico da Guarda, Pós-Graduação em Sistemas Públicos de Abastecimento de Água e Drenagem de Águas Residuais. Nesta entrevista conjunta ao Jornal A GUARDA e à Rádio F, o novo Presidente da Câmara Municipal da Guarda apresenta-se na primeira pessoa e pede o empenho de todos na promoção e divulgação da Guarda. 
A GUARDA/Rádio F: Quem é Sérgio Costa, um jovem que chegou à Guarda para estudar e agora foi escolhido para Presidente de Câmara?
Sérgio Costa: Sérgio Costa é uma pessoa como todas as outras. Tenho 45 anos. Cheguei à Guarda a 9 de Outubro 1994, para estudar e por cá fiquei. Tenho duas filhas, uma delas votou pela primeira vez e votou logo no pai, penso eu. O voto é secreto mas toda a gente sabe onde eu tenha votado, naturalmente. Mas é com orgulho grande que vejo a minha filha também, neste momento, ir a estudar para fora. Sempre lhe dei um conselho, a ela e à irmã mais nova, que vão estudar para onde tiverem de ir estudar, ela entrou na primeira opção, mas façam tudo por tudo para poder regressar à terra delas. É importante, nós transmitirmos isto às novas gerações e aos nossos filhos também. E eu, o percurso que fui fazendo, ao longo de 27 anos que estou na Guarda, começou por ser um percurso associativo. Nas lides das associações de estudantes, dos núcleos de estudantes do Instituto Politécnico da Guarda, por lá andei alguns anos. E cedo fiz o meu percurso nas estruturas partidárias, isso é conhecido de toda a gente e eu tenho mesmo muito orgulho nisso, porque quem não tiver orgulho do seu passado jamais poderá conviver no presente e ambicionar a governar no futuro, é assim que eu vejo tudo isto.Eu sou simplesmente um cidadão da Guarda que aqui reside há 27 anos e aqui quer continuar a residir e continuar a puxar por aquela que é, hoje, a minha terra. 
A GUARDA/Rádio F: Como vai gerir as expectativas geradas à volta da sua candidatura?
Sérgio Costa: Igual a mim próprio e igual a cada uma das pessoas que andaram na campanha e que foram agora eleitas também. Nós não podemos defraudar as espectativas das pessoas e temos de fazer aquilo a que nos propusemos. Um dos lemas da nossa campanha era trabalhar com todos e para todos e é com isso que nós vamos lidar todos os dias, trabalhando com todos e para todos. Com transparência, com equidade, com igualdade, com competência, com trabalho, com saber fazer, é isso que nos vai acompanhar ao longo deste mandato. Tudo aquilo que nós falámos ao longo da campanha eleitoral é aquilo que vamos fazer. Foi nesse projecto que a população da Guarda votou. E o velho ditado da democracia portuguesa, em eleições autárquicas, quem ganha governa, seja numa Câmara Municipal, seja numa junta de freguesia, tem de ser amplamente respeitado e se o povo escolheu, deve ser respeitada a vontade do povo. 
A GUARDA/Rádio F: A campanha do Movimento Pela Guarda apostou no contacto directo com as pessoas, esteve no terreno. Como foram vividos os dias os meses de campanha, quer em termos pessoais, quer familiares, quer profissionais?
Sérgio Costa: Foi muito gratificante. Cansativo, claro está, porque nós andámos porta a porta, calcorrear as ruas, nós fizemos questão de percorrer todas ruas dos nossos bairros, dos 20 bairros e também das 42 freguesias rurais. Nós andámos mais de 600 quilómetros a pé e se formos contabilizar os quilómetros de carro foram seguramente mais de dez mil quilómetros que andámos, mas é muito gratificante. Claro que é cansativo, claro que nós temos de recuperar energias, mas dar alimento à alma e animosidade é muito importante e foi aquilo que aconteceu muito ao longo destes quatro meses no contacto com as pessoas. Nós gostamos de estar com as pessoas.  
A GUARDA/Rádio F: Dormiu pouco nos últimos dias de campanha eleitoral?
Sérgio Costa: Claro que dormi menos que o habitual. Ando agora a tentar repor um pouco desse sono perdido. Perdido no bom sentido, mas foi muito bem perdido, mas muito bem aplicado. Nós gostamos de estar com as pessoas. Afinal de contas, os políticos para que é que servem? É para trabalhar com as pessoas e para as pessoas e deixarmos uma melhor herança para o futuro. É para isso que os políticos servem, senão não estão lá a fazer nada. Cada um de nós poderia estar na sua casa, naturalmente no seu conforto, na sua vida pessoal e profissional eu teria sempre tantas coisas para fazer. Naturalmente a nível pessoal tentarei continuar a fazê-las, embora de uma forma mais calma o tempo agora é de dedicação à causa pública. E muitas vezes destes meses ficou para trás, naturalmente a família, e tenho muito de lhes agradecer, seja a minha mulher e às minhas filhas que me acompanharam e deram todo o apoio, e estou muito grato por isso, nesta caminhada, mas é muito gratificante. E os resultados estão à vista. E nós vamos continuar estar junto das pessoas, junto do povo. É isso que os políticos devem fazer. Estar, naturalmente, nos seus gabinetes a tomar decisões, a percorrer os gabinetes do País, Lisboa, Porto, Coimbra e outros locais, em Bruxelas para encontrar as me lhores formas de podermos puxar para a Guarda mais financiamentos, mais empresas. Esse trabalho tem de ser feito, mas estarmos junto das pessoas, isso é fundamental. As pessoas precisam de uma palavra. E tantas vezes aconteceu nesta campanha, simplesmente dar uma palavra de conforto a algumas pessoas nos iam falando ao ouvido com suas dificuldades. Dar uma palavra de alento às pessoas. Temos naturalmente aquela frieza de que nem sempre é possível porque somos todos humanos. Os políticos também são humanos, não são máquinas. Há quem julgue que os políticos possam ser máquinas, mas não, são pessoas como as outras e ambicionam fazer coisas para as pessoas, para a população, para as aldeias para a vila de Gonçalo, para a cidade, para o concelho e é isso que, afinal de contas temos de fazer. 
A GUARDA/Rádio F: O Movimento envolveu pessoas de todas as freguesias do concelho. Como vai manter a ligação com toda esta gente?
Sérgio Costa: De uma forma muito simples: paulatinamente estar com elas, com as que nos ajudaram e com as que não nos ajudaram, são todos iguais. Porque as lutas eleitorais terminam no dia das eleições. Democraticamente é assim. Já chega de perseguições que houve por aí, durante messes ou anos. As pessoas julgaram bem agora. O povo é sereno e com a sua sapiência o povo julgou tudo isso no dia das eleições. A partir dos actos eleitorais temos de governar com todos e para todos mas naturalmente que as pessoas que acabámos por envolver nas equipas do Movimento Pela Guarda, as diversas candidaturas, acabámos por ter alguma relação de amizade e naturalmente vamos continuar a encontrar-nos e a falar até porque são pessoas de todos o concelho de todas as freguesias. É importante saber ouvir todas essas pessoas aquilo que têm a dizer mas saber ouvir também todos os presidentes de freguesia, os deputados municipais, isso é mito importante. É preciso agora conjugar esforços para lutarmos pela Guarda. Tudo o que está para trás, digamos lutas eleitorais, quem não perceber isto, quem quiser continuar a guerrear para a frente é porque não percebe nada do que é democracia. A democracia, e nós já temos 47 anos de democracia de 25 de Abril, é uma democracia madura, e é para a frente que é o caminho, como se costuma dizer. Temos de remar todos para o mesmo lado do barco neste momento. Aquelas políticas rasteiras, o povo soube julgar tudo isso. Isso não vale a pena. Nós somos cada vez menos e todos estamos convocados. Todos os partidos políticos, todos os políticos, todos os eleitos nas listas das juntas de freguesia, na Assembleia Municipal e da Câmara, estão todos convocados para lutarmos pela Guarda, seja para combater esta desertificação que não é fácil. E vai ter que haver grandes medidas do Estado Central para ajudar os municípios todos, principalmente da zona raiana do País, de Bragança a Beja, da desertificação que nos assola e somos todos responsáveis. Olhe somos todos culpados de tudo isto, cada um tem de assumir a sua mea culpa, não vale a pena, não há tabus nesta matéria. É com esta abertura, com esta frontalidade que as coisas devem ser vistas. Somos todos importantes para que nos próximos 20 anos, no tal pacto de 2040 como nós sempre defendemos e que as pessoas aprovaram porque nos elegeram. Este pacto de várias matérias, este plano estratégico tem de existir para 2040 que temos todos que trabalhar, que lutar. É fundamental, tudo isso.
A GUARDA/Rádio F: Qual o balanço que faz dos seis anos e meio em que esteve com funções executivas na Câmara da Guarda?
Sérgio Costa: Aprendi muito, durante seis anos e meio, aprendi mesmo muito. Na campanha eleitoral voltei a aprender. Nós temos de aprender sempre até ao fim das nossas vidas que todos nós desejamos que sejam muito longas. Com saúde e muito longas é tudo o que nós desejamos sempre, e todos os dias devemos aprender. E ao longo desses seis anos e meio estou muito orgulhoso daquilo que fiz e muito mais queria fazer, mas pelas razões que todos sabem não consegui. Mas agora, retomadas as funções no executivo como presidente de Câmara há tanto e tanto para fazer no nosso concelho. Seja no urbanismo ou no planeamento, ou na educação, ou coesão social, na cultura, no turismo, no desporto, na saúde que tanto nos preocupa, na economia, há tanto e tanto para fazer. E é retomar este trabalho que deve ser feito, que dever ser retomado para que a Guarda tenha também auto estima, seja recuperada a auto estima da Guarda. E aqui também a comunicação social tem uma palavra a dizer, nesta auto-estima. Nós temos de falar todos bem da Guarda. Nós temos de falar todos nas reuniões, nos locais devidos, nos fóruns necessários. Temos de falar sobre os problemas que nos assolam, como a dialéctica politica também mas depois, findos esses fóruns, essas reuniões, temos todos de defender a Guarda, seja onde for. É só desta forma que nós podemos ambicionar um futuro promissor para a nossa terra. É fundamental. 
A GUARDA/Rádio F: Destacou a saúde como um dos assuntos importantes e foi um dos temas em debate na campanha eleitoral. O que quer ou exige para a Guarda nesta área?Sérgio Costa: Na última segunda-feira da campanha eleitoral estivemos reunidos, pedimos uma reunião, um simples movimento criado há quatro meses do zero, criado por pessoas, com pessoas e para trabalhar para as pessoas nós reunimos com a administração do Hospital e dissemos aquilo que vamos fazer. E é isso que vamos fazer agora depois de eleitos. Vamos constituir o Conselho Municipal da Saúde para periodicamente nos sentarmos à mesa, o executivo, a administração do Hospital, os representantes das ordens técnicas e outras entidades, para discutir os problemas à porta fechada, os problemas da saúde, sem tabus. Naturalmente, temos de defender a saúde aquilo que está no nosso programa eleitoral. A segunda fase, a totalidade da segunda fase das obras do Hospital Sousa Martins é fundamental. E criar condições para que os médicos aqui se possam fixar, mais médicos, porque há essa necessidade, porque repare, tudo isto, permita-me a expressão, é uma pescadinha de rabo na boca. Sem saúde nós não teremos aqui empresas para se fixarem. Nós não teremos os quadros médios e superiores necessários que possam vir para a Guarda, muitas vezes para as empresas. Porquê? Porque quem está por exemplo tem alguns que tenham filhos ou tenham o seus pais o que é que procura logo, condições de saúde de proximidade e as condições para que os seus pais possam estar aqui nas IPSS’s. Por isso é que também queremos ajudar todas com equidade do nosso concelho. Queremos catapultar a economia social do nosso concelho, mas tudo isto tem de estar interligado. Todos temos de remar para o mesmo barco. E se a certa altura, tal como nós sempre dissemos, se acharmos que se os actores políticos ou que que os actores da administração não estão a cumprir a sua função, aí no lugar próprio falaremos sobre isso. Mas antes temos de trabalhar todos, darmos todos as mãos, darmos todos os braços para podermos trabalhar em rede, em estreita parceria também na área da saúde. Temos de dar esse exemplo. 
A GUARDA/Rádio F: E há lugar para um hospital privado na Guarda?
Sérgio Costa: Poderá haver, os privados é que sabem. A Câmara nunca mandará nos dinheiros privados. Se os privados quiserem investir, façam favor, são todos bem-vindos. Aliás, afinal de contas a economia privada também na área da saúde é muito complementar à área pública, mas sempre como área complementar. Porque a área da saúde pública deve ser sempre o primeiro foco de todos nós, de todos os partidos políticos. Se os privados quiserem investir que invistam mas que todos sejam tratados com a máxima equidade e transparência. É isso que que nós defendemos na campanha eleitoral e quilo que nós vamos continuar a defender. Não pode haver privilégios para ninguém. Não podemos tratar uns de uma maneira e outros da outra. Todos por igual. Equidade e transparência, sempre. 
A GUARDA/Rádio F: Durante a campanha disse que, se fosse eleito, o seu primeiro dossier seria o Plano do Cabroeiro com a variante dos F’s. Como vai gerir este processo que já se arrasta há tanto tempo?
Sérgio Costa: O projecto do plano de pormenor do Cabroeiro e da variante dos F’s está pronto há um ano e meio na Câmara da Guarda. Quando assumir funções vou retomar esse processo, iniciar as negociações com os proprietários porque é público o que os proprietários disseram que não havia negociações, nenhum dos terrenos estava salvaguardado. Vamos iniciar esse processo, tal como dissemos, com a ambição do prazo de dois anos, podermos ter a variante dos F’s, mais conhecida por variante da Ti Jaquina, estar já executada ou na sua fase de conclusão. É isso que nós ambicionamos é para isso que nós temos de trabalhar. Nós não podemos estar na campanha eleitoral a dizer uma coisa e depois quando nós vamos para as nossas funções políticas de execução, em funções de executivo dizemos coisa diferente. E mesmo quando às vezes, por algumas razões nós não controlamos nós devemos explicar às pessoas o porquê. Os políticos são gestores como qualquer outro. Quando alguma coisa não corre bem tem de se explicar à população porque é que não corre bem, sem tabus, com toda a frontalidade, não tem que haver receio nem medo de nada. As pessoas compreenderão desde que se fale a verdade. A verdade vem sempre ao de cima, como diz o povo. É com isso que podem contar connosco. 
A GUARDA/Rádio F: Como é que considera que vamos encontrar a Guarda daqui a quatro anos? O que é que sonha para estes quatro anos e como é que gostaria que estivesse esta cidade a médio e longo prazo?
Sérgio Costa: Nós podemos sonhar muito, mas depois temos de ter os pés assentes na terra. É assim, um homem sonha. Todo o homem sonha, eu também sonho. A Guarda, daqui a quatro anos, aquilo que nós ambicionamos é que temos uma cidade, um concelho com mais emprego, com mais empresas, onde se viva liberdade e democracia, uma cidade com uma saúde, eu não queria dizer uma saúde de ferro, mas com melhores condições físicas e melhores quadros na área da saúde também, e uma verdadeira economia social ser catapultada. Afinal de contas os políticos devem deixar uma melhor herança do que aquela que encontraram. É isso que nós vamos ambicionar todos os dias do nosso mandato, trabalhar em prol das pessoas, em prol da Guarda, para que daqui a quatro anos, nós possamos ter naturalmente melhores acessibilidades. Termos uma melhor educação, e nós temos aí à porta a descentralização de competências que é um salto muito grande em termos da responsabilidade da Câmara nessa área, na área da educação. E o Turismo, a Guarda deve estar rapidamente nas áreas do turismo, que não está actualmente. É isso que nós vamos saber lutar para o nosso futuro para que daqui a quatro anos, nós possamos apresentar-nos à população e a população julgar bem o trabalho que foi feito durante quatro anos. É assim, democraticamente falando.“A comunicação social local, regional deve ser tratada toda com equidade”A GUARDA/Rádio F: Com vê o papel da imprensa regional e das rádios locais na promoção da Guarda, em termos culturais, patrimoniais e sociais?Sérgio Costa: Fundamentais, todos eles sem excepção, com equidade. A comunicação social local, regional deve ser tratada toda com equidade. Todos diferentes, todos iguais. Esta é a velha máxima. E é com isso que podem contar, naturalmente. E são todos importantes na divulgação da Guarda nas suas potencialidades. Na melhora da imagem da Guarda, na tal auto estima, todos eles são importantes. E por isso é que apelamos a toda a comunicação social, aos jornais, às rádios e às agências de comunicação: vamos todos remar para o mesmo lado, vamos todos falar bem da Guarda. É esse grande desafio que nós devemos lançar à comunicação social e a todas as cidadãs e todos as cidadãos guardenses, vamos puxar todos pela Guarda, levantar a auto estima. Vamos falar todos bem da Guarda lá fora. Não vale a pena cada vez que se encontra um microfone, depois aqui já falando de um órgão de comunicação social não só local mas nacional também, falar mal da Guarda. Seja em que local estiver, ou porque não se concorda com isto ou com aquilo, temos de falar sempre bem da Guarda. É desta forma também que se melhora a auto estima e vamos melhorar radicalmente a imagem da nossa terra.