Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Guarda viveu momento histórico em 10 de Junho de 1977

As comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, vão realizar-se, pela segunda vez, na cidade da Guarda, com actividades que começam amanhã, dia 6 e se prolongam até terça-feira, dia 10.
A Guarda já tinha sido escolhida em 1977 quando o general Ramalho Eanes ocupou o cargo de Presidente da República.
O programa, segundo o Jornal A Guarda de 3 de Junho de 1977, durou cinco dias e incluiu uma sessão solene comemorativa do 10 de Junho (realizada no então Liceu Nacional da Guarda), a inauguração de várias exposições, um espectáculo de “Luz e Som” na Sé Catedral, concertos (pelo Coro da Fundação Gulbenkian e pela Banda da GNR), espectáculos de folclore e de variedades, um festival aéreo e o lançamento de paraquedistas, actividades desportivas (festivais de natação, de voleibol e de badminton, torneio de tiro aos pratos e sarau desportivo) entre muitas outras iniciativas. “A Guarda, por dias, «Capital» da Pátria Lusíada. Daqui a mensagem para todo o Mundo. A cidade prepara-se para receber o Senhor Presidente da República e o Governo. A Sé, cenário de um maravilhoso espectáculo de Luz e Som”, titulava o A Guarda na primeira página.
Na edição do dia 10 de Junho, com a capa dedicada quase por completo ao tema, lia-se “O Dia de Camões e a Diáspora Lusitana. A Guarda, «Capital» do Mundo Lusíada. O Senhor Presidente da República e o Governo vivem entre nós o 1.º Dia das Comemorações. A nossa saudação”. Na edição seguinte de 17 de Junho de 1977, o semanário encheu a capa com o tema das comemorações, que ilustrou com duas fotografias: uma do Largo da Sé Catedral apinhado de gente e outra com a chegada ao Estádio Municipal do Presidente da República (veio de helicóptero). Ainda na primeira página um texto com o seguinte teor: “A nota ininterrupta da visita presidencial, se preferirmos: o fio que ligou, do princípio ao fim, todos os números do programa, foi a aproximação Povo-Presidente. Aconteceu assim do Estádio, à hora da chegada e na partida; aconteceu no almoço popular quando, por ordem do Presidente, se abriram as portas do Hotel e o povo pôde participar; aconteceu na sessão solene, ao escancararem-se, ainda à ordem de Eanes, todas as portas do Liceu para que o Povo pudesse entrar; aconteceu nas ruas e praças, onde o Presidente se viu continuamente envolvido em maré alta de simpatia e carinho”.
A reportagem sobre as comemorações começa da seguinte maneira: “O dia 10 de Junho de 1977 amanheceu de sol aberto num céu azul, peculiar destas alturas serranas. Era a Natureza a associar-se ao Dia de Camões e das Comunidades, no próximo ano já Dia de Portugal. Era o ambiente que todos desejávamos para a grande Celebração na qual iria participar toda a Guarda – cidade, concelho, distrito, - sem exclusão de ninguém, pois nunca esteve em causa da parte de alguém a justeza desta Celebração, a sua enorme projecção no futuro”. “Foguetes, bandas de música, gente, muita gente, vinda de todo o país, ruas cheias, onde é difícil transitar, eis a Guarda, cidade sempre antiga e sempre nova, naquela madrugada de 10 de Junho, uma madrugada histórica, de um alcance que se adivinha mas não se mede em toda a sua importância”, prosseguia. Mais adiante relata: “A Praça da Sé era um enxame de gente. Aquela Praça cumpria mais uma vez a sua missão histórica da sala de recepção da Guarda. Desde velhos tempos é assim. (…) O que foi o trajecto a pé, da Câmara para o Hotel, é difícil descrever. Viveu-se aquele momento de apoteose, de flores, de cumprimentos, e não se descreve”.
No seu discurso, o então Presidente da República, Ramalho Eanes, disse que a escolha da Guarda para sede das comemorações nacionais era “uma homenagem a todos quantos persistem em manter raízes e investir esperanças na terra que os viu nascer”. No seu discurso falou também do futuro do país, tendo afirmado: “Temos de nos convencer definitivamente que é nos portugueses que assenta a recuperação do país. (…) O nosso futuro não depende agora das questões menores da conjuntura e da especulação política, mas sim do poder de realização do projecto universalista que foi o dos nossos antepassados e que há-de continuar a ser o nosso”.