Entrevista: Esmeraldo Saraiva Neto Carvalhinho, Presidente da Câmara Municipal de Manteigas


Esmeraldo Saraiva Neto Carvalhinho é o actual Presidente da Câmara Municipal de Manteigas. Em 2009 foi eleito para um primeiro mandato, colocando fim a 16 anos consecutivos de domínio de José Biscaia. Em 2013 perdeu a presidência da Câmara que voltaria a conquistar nas autárquicas de 2017. 
A GUARDA: A Expo Estrela e outras actividades são importantes para o desenvolvimento e a promoção do concelho de Manteigas?
Esmeraldo Carvalhinho: São, sem dúvida nenhuma. Manteigas está a atingir um patamar de evolução económica que nos satisfaz bastante. Estamos a ganhar a aposta do turismo. Manteigas está-se a tornar a cada pé de passada um concelho de excelência turística pelas suas condições naturais e tudo aquilo que pode oferecer. Acho que os interesses da indústria hoteleira, de alojamento, de restauração, têm-se fixado no concelho. E estas actividades, naturalmente, são atractivas desde logo, porque estamos numa época carnavalesca e temos muita gente a passear na zona da Serra da Estrela. São atractivas por isso, são atractivas porque têm animação, temos um cartaz de animação bastante importante e atractivas também porque as pessoas podem vir conhecer e apreciar aquilo que é a nossa gastronomia, o nosso artesanato, os produtos derivados dos nossos serviços locais que, naturalmente, são diferentes de outras zonas do país. Quer queiramos ou não, o nosso país é um país pequeno mais muito dispare e até os nossos produtos gastronómicos são completamente diferentes da zona centro, para o sul e, nesta zona da Serra da Estrela, onde pontifica o queijo da serra e os enchidos. São actividades e eventos bastante atractivos. E para além de serem eventos atractivos os eventos, é atractivo o próprio concelho. E da forma como as coisas estão a acontecer em Manteigas, com o fluxo turístico que estamos a ter neste momento, tanto de turistas estrangeiros como nacionais, temos de lhe dar qualquer coisa, temos de animar o concelho, temos de proporcionar a quem nos visita bons momentos de animação e bons momentos de convívio. Este ano já percebemos que estamos a crescer também por essa via. O que oferecemos é atractivo. As pessoas fixam-se aqui. Temos o alojamento praticamente cheio. Temos muita gente a circular nas ruas da vila, nos restaurantes, aqui nas próprias instalações da Expo Estrela. Isto satisfaz-nos. Não ficaremos por aqui, porque isto só não chega. Estamos neste momento a perspectivar a criação de um programa de animação durante o ano para dar resposta também a este fluxo turístico que é cada vez maior e cada vez de maior qualidade. As unidades hoteleiras em Manteigas atingiram, neste momento, um patamar de muita satisfação, de conforto e muita qualidade e por isso temos de ter oferta. A própria Câmara tem de criar oferta para esse público. O próprio programa cultural sofre aqui um incremento e uma alteração significativa para que possamos oferecer aquilo que os turistas têm noutras zonas do país. 
A GUARDA: O aparecimento de novas unidades hoteleiras também vem potenciar ainda mais o turismo?
Esmeraldo Carvalhinho: Sem dúvida. O turismo vem porque temos qualidade ambiental, temos paisagens, temos natureza, no concelho de Manteigas. E depois é aquela questão, se não houver alojamento não vêm turistas, se não vierem turistas não há alojamento mas, felizmente, temos as duas coisas. E temos na calha mais unidades hoteleiras em licenciamento. Para além das que estão construídas, das que vão abrir, uma de maior escala e outra um pouco menor mas que tem a sua importância, temos, neste momento, em fase de licenciamento, mais dois projectos na Câmara Municipal, o que vai aumentar ainda mais a oferta. 
A GUARDA: Esta aposta passa também pelo desenvolvimento da zona das Penhas Douradas?Esmeraldo Carvalhinho: A zona das Penhas Douradas faz parte do nosso projecto do futuro próximo, até mesmo muito próximo. A Câmara tem em curso, há algum tempo, o plano de pormenor das Penhas Douradas que pretende revitalizar aquilo que foi uma aldeia de montanha. O objectivo passa por criar condições de permanência para as pessoas que têm as suas antigas habitações nas Penhas Douradas e com a perspectiva da criação de mais alguns equipamentos. Retirar o plano de loteamento do Parque Natural da Serra da Estrela através do plano de pormenor. Há uma ambição que nós temos, já falei inclusivamente com várias federações de diversas modalidades desportivas para sedearmos nas Penhas Douradas um centro de estágio de média altitude. Não podemos falar de altitude porque não passa dos dois mil metros, está na ordem dos 1500 metros, mas um centro de estágio já com condições para diversas modalidades ali poderem treinar. Em vez de irem para o estrangeiro poderem treinar ali. Daí também a minha ambição de ver constru- -ído o teleférico entre Manteigas e as Penhas Douradas. Tudo isto está interligado. Sabemos que as coisas não acontecem com o estalar dos dedos, não é de um momento para o outro. A estratégia que montámos para o desenvolvimento do concelho, desde 2009, está a resultar. É verdade que já lá vão dez anos, as coisas demoram tempo mas vêem-se. Acho que estamos no bom caminho. Há um conjunto de projectos que estão todos encadeados, digamos assim. 
A GUARDA: O teleférico entre Manteigas e as Penhas Douradas é mesmo para avançar?
Esmeraldo Carvalhinho: Neste momento estamos a avançar com o processo do estudo de viabilidade técnica. Depois terá de haver um estudo à viabilidade económica e temos de procurar, evidentemente, quem financie, temos de procurar investidores. Mas se nós não tivermos todos estes projectos conjugados, integrando as Penhas Douradas em toda a estratégia que definimos para o concelho de Manteigas, é claro que não podemos esperar nada. Mas nós estamos a integrar todo o potencial de Manteigas na mesma estratégia de desenvolvimento turístico.
A GUARDA: Apesar da estratégia estar muito virada para o Turismo, a autarquia não esquece o sector empresarial?
Esmeraldo Carvalhinho: Claro que não. Nas antigas fábricas têxteis que foram compradas ainda no meu primeiro mandato na Câmara de Manteigas, instalámos logo uma empresa que hoje tem ao todo, cerca de sessenta funcionários, nas diversas actividades que desenvolve. Há no mesmo local, mais outra fábrica têxtil. Os próprios têxteis estão a reaparecer com bastante qualidade, com o mercado bastante significativo, tanto em Portugal como no estrangeiro, no que diz respeito à confecção de têxteis mais assentes no burel, na área do vestuário e na área dos têxteis lar, inclusivamente com a internacionalização para os países asiáticos e países americanos. Portanto todo esse comércio e essa indústria também se estão a consolidar, para além de outras unidades que se estão a instalar no concelho. Nós pretendemos continuar a aproveitar os recursos naturais. A água tem de ser aproveitada. 
A GUARDA: Com está o processo da fábrica da água?Esmeraldo Carvalhinho: Vamos muito em breve lançar, mais uma vez, o concurso para a concessão da água. A água foi recuperada por nós, pela Câmara. A água do Vale Glaciário, da Fonte Paulo Luís Martins passou aqui por um processo vicioso. Tivemos que inclusivamente accionar em Tribunal a reversão da água para a posse da Câmara, porque num processo fraudulento, alguém se apropriou dela. Nós conseguimos, no Tribunal, através de uma acção judicial, recuperar a posse da água, está outra vez na posse da Câmara e vamos pô-la a concurso. Mas deixe dizer-lhe claramente que por não estar a ser engarrafada água em Manteigas, neste momento, não tem nada a ver com o facto de nós termos recuperado a água, porque nunca cortámos a água a ninguém. Não temos  nada a ver com a fábrica. A fábrica é privada, o que é da Câmara é a água. Nós vamos concessionar a água e não a fábrica.
A GUARDA: Como é que a Câmara está a lidar com a questão da habitação em Manteigas?
Esmeraldo Carvalhinho: Pretendemos candidatar a habitação e o recurso à habitação ao Programa Primeiro Direito. Fizemos a primeira candidatura e ganhámos a primeira candidatura. Foi-nos financiado o diagnóstico e a estratégia da habitação em Manteigas, na área do município. Neste momento temos o estudo praticamente feito, portanto o diagnóstico, a estratégia definida, está em validação nos serviços técnicos da Câmara e em breve será apresentado ao público. Com esta estratégia praticamente definida temos a possibilidade de depois identificar as habitações, ou melhor as famílias que necessitam de mais e melhor habitação, as famílias que necessitam per si ou através da Câmara de criar condições de habitabilidade e fazemos as respectivas candidaturas que poderão ser financiadas por diversas formas, tanto a fundo perdido como com juros bonificados, juros à taxa do Estado. Dizer que o Programa Primeiro Direito não é um programa específico de financiamento, abre é portas a um conjunto de financiamentos ligados á habitação que pode até envolver a compra e a recuperação de edifícios antigos no Centro Histórico, no meio da vila, que podem depois ser colocados no mercado de habitação. E essa é uma das vertentes que nós queremos e esperamos ter a possibilidade de explorar. Dizer também em relação à habitação, que estamos a lançar um projecto, será lançado na próxima semana, iremos lançar um concurso para requalificação de um bairro habitacional. De um bairro de rendas controladas. O bairro social do Alardo vai ser todo requalificado, vamos envolver as paredes com um revestimento isolante. Vamos criar condições de conforto e de habitabilidade às pessoas que lá estão, no âmbito da eficiência energética, reduzindo assim o consumo de energia e aumentando o conforto dentro das habitações com a substituição de telhado, de caixilharias, portas e janelas. É um conjunto significativo de trabalhos que vêm requalificar ainda mais a habitação social de Manteigas. 
A GUARDA: É um Presidente feliz em Manteigas ou tem outras aspirações políticas?
Esmeraldo Carvalhinho: Sou um presidente feliz. Deixe-me dizer-lhe que eu faço aquilo que gosto. Eu só estou na política e só estou na vida autárquica porque gosto. Gosto daquilo que faço, gosto de fazer coisas e estou empenhado em fazê-las. Eu não sou presidente de Câmara pelo ordenado ao fim do mês, nem pouco mais ou menos. Não é isso que me cativa. O que me cativa é estar junto das pessoas perto da população e trabalhar que é aquilo que eu sei fazer todos os dias. E um presidente de Câmara se quiser trabalhar tem sempre muito que fazer. Eu tenho sempre muito que fazer porque gosto daquilo que faço e quero trabalhar.O futuro a Deus pertence, como é hábito dizer. Estarei aqui até ao final do mandato, isso tenho a certeza, a não ser que Deus me leve antes.
“O Skiparque precisa de um grande investimento, precisa de requalificar aquilo que lá está e complementar com outro tipo de actividades.”A GUARDA: E a situação do Skiparque quando é que vai ser resolvida?
Esmeraldo Carvalhinho: Sobre o Skiparque posso adiantar que vai haver novidades em breve. Vamos ter a solução para este equipamento, estamos a trabalhar nela. O Skiparque precisa de um grande investimento, precisa de requalificar aquilo que lá está e complementar com outro tipo de actividades. Como digo, é um investimento muito grande, mas estamos a preparar todo o processo de resolução do Skiparque. Este equipamento não vai continuar a degradar-se, não vai encerrar, antes pelo contrário, temos neste momento forma de revitalizar o Skiparque. É claro através de cooperação externa, mas vamos fazê-lo. Estamos a preparar tudo para que em breve tenhamos essa solução.
A GUARDA: Há alguém interessado?
Esmeraldo Carvalhinho: Temos a possibilidade de investimento. Temos um projecto que vai solucionar a questão do Skiparque. Não posso adiantar mais nada neste momento mas já temos solução  para o Skiparque.