O caminho da Quaresma, que passa pelo deserto e nos faz subir ao monte, conduz-nos hoje ao Templo.
Há várias realidades às quais podemos chamar templo. Existe, antes de mais, o templo de Jerusalém, aquele onde Jesus entrou para o purificar, pois a casa de Deus não pode ser convertida num mercado de interesses. Também Jesus se apresenta como templo: «Destruí este templo e em três dias o levantarei», esclarecendo o evangelista que Jesus “falava do templo do seu corpo”. O templo é imagem da Igreja. Finalmente, cada cristão é também templo, como nos recorda S. Paulo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?”
Tenhamos presentes estes vários modos de entender o templo, para escutarmos e reflectirmos o evangelho deste Domingo com mais proveito.
Um espaço tão sagrado como era o templo de Jerusalém, tinha-se convertido em autêntica casa de comércio. Com uma atitude enérgica e decidida, à maneira dos verdadeiros profetas, Jesus expulsa do templo os que se aproveitavam dele para proveito pessoal. Aqueles que pareciam estar ao serviço de Deus, estavam antes ao serviço de interesses próprios. Há muitas coisas na religião, que interessam a muita gente, menos a Deus.
Se o templo é imagem da Igreja, não pode esta deixar de ver no episódio dos vendilhões do templo um apelo à constante vigilância, discernimento e espírito crítico. A tentação de se servir da Igreja, em vez de a servir, é de sempre. Diante do espelho que é o evangelho e a vida de Jesus, a Igreja tem de reconsiderar continuamente as suas práticas e hábitos. Além disso, as pessoas que na Igreja têm mais responsabilidade, estão também mais sujeitas à tentação do poder, do enriquecimento ilícito e imoral, a ganhar a vida à custa dos outros em vez de dar a vida por eles, como Jesus fez.
Cada cristão é, desde o seu Baptismo, templo de Deus. Temos dentro de nós, por isso, o maior dos tesouros, mas guardado em vasos de barro. O tempo da Quaresma, é tempo de deixarmos Jesus entrar no nosso santuário interior, para que ele expulse de nós tudo o que é indigno da nossa condição de membros de Cristo, filhos de Deus e templos do Espírito Santo.
Não tenhamos medo da misericórdia, como o Papa Francisco gosta de exortar. O Sacramento da Confissão é o momento especial que a misericórdia de Deus nos oferece, através da Igreja, sobretudo neste tempo de Quaresma. Que o evangelho nos toque e nos faça perceber o quanto necessitamos dele. Todos.